Durante

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( ainda sem correção - texto
Em estado bruto)
Célia e Samuel foram um casal.
Agora dissolvido.
Ambos foram o exemplo do que amor não é.
Célia queria possui-lo da forma mais óbvia possível, inativá-lo para o mundo e tê-lo só para ela.
Todos os dias o matava um pouco mais.
Ele consentia, precisava de motivações para o ódio, para o desprezo e para a raiva que trazia com ele. Desde o dia em que a descompensação psicótica da mãe, a obrigou a ser internada aos 8 meses de gravidez de Samuel e a deixar os médicos com o único remédio de o tirarem por cesariana e o enfiarem no quentinho da incubadora, depois foi a mãe para um canto e o filho para outro.
- Filhas das putas das mulheres!
- És uma cabra Célia, nem para parir serves.
Pensava ele tantas vezes e um dia acabou por lho dizer.
Nos tantos outros dias, sobrevivia á mentira, á sua, ao álcool ou com o álcool e automatizava-se no sucesso do seu trabalho.
Nesta manhã, como nas outras, a mulher ainda dormia, Samuel acorda com o toque do despertador do telemóvel.
Levanta-se, toma café, não fuma, o pai não iria tolerar que o seu filho também padecesse do mesmo mal que o avô Raul. Fato de correr e vai nos 40 minutos de corrida, em direção ao ginásio. Aí, toma um duche, faz a barba, e veste um imaculado fato, dos vários que tem nos 4 cacifos que tem alugados só para sí! Calça os sapatos fartos da vida, que destoam em tudo o resto. Pelo ar gasto e desbotado.
Sai e os da recepção comentam:
- há mesmo malucos para tudo.

Vive nisto há mais de 10 anos, e outros tantos viverá.
Tem uma mota 7500cc que o conduz ao emprego e no emprego, mil mordomias das altas finanças.
Entre muitos números, muitos números que se revertem em altos valores económicos a rodarem na bolsa de valores e a trazerem ou não dividendos aos seus clientes.
Em plena crise financeira no mundo, no estalar da bolha segura das altas finanças americanas, Samuel sente-se tranquilo, rolam cabeças nos bancos de todo o mundo, como rolaram nas guerras dos cruzados de outrora.
Samuel gere internacionalmente, em parcerias e por isso contata com os seus colegas espalhados pelo mundo, a posição em bolsa de valores dos seus clientes, sempre empresas e grupos. Nem sempre estas ações financeiras geram dividendos, embora garantam aos clientes uma fatia de orçamento anual sujeita a engenharia financeira, muito úteis na relação com o fisco.
A entidade financeira em que trabalha, está no auge da demonstração de resultados, resultados manipulados que garantem, por enquanto, prémios de produtividade aos colaboradores, como o Samuel, a rondarem os 50 mil euros.

Poder viver sem fazer contas á vida, foi isto que seduziu Célia, desde o início. Um homem frágil, ratinho de trabalhar e obsecada  pelo sucesso, seja ele qual for.
Célia, sobrevivia como bolseira do FCT à muitos anos, quando podia, estava de baixa. Desta vez, reduziu a sua actividade laboral a nada. Sem nunca conversarem, dado o diálogo ser uma impossibilidade pessoal na vida de ambos, tomaram decisões. Ela deixou o emprego de bolseira, não se candidatando a bolsa durante alguns anos. Ele comprou uma casa nova para ambos e endividou-se acima das suas possibilidades. Os dois queriam procriar para garantir a prole.
No dia a dia. Ela dormia de dia e vagueava pela casa á noite.
Ele, envaidecia-se com os bens todos e sentia a maior insatisfação de sempre.
Na relação, viviam um para o outro. Ela viagiava-lhe o mail e o telemóvel, ele deixava e com isso sentia que alguém se importava com ele e queria saber da vida dele.
Um dia, ela deu-lhe um murro. Ele deixou, de seguida, ela deu-lhe pontapés e bofetadas e depois ele continuou calado, enquanto era batido. No fim, sentia-se tocado e talvez querido e amado.
No seu interior, dentro de si, não corriam sentimentos, apenas sensações difusas que tentava converter em pensamentos e com isso criar sentimentos. Samuel vivia tudo isto em silêncio.
Desde á muito que se ocupava, preenchia com os livros, lia muito, sempre leu muito. Samuel tinha um orgulho imenso na sua cultura geral, nos seus interesses literários e no seu interesse e conhecimento pelos clássicos. Adorou ler os autores russos na sua infância. Lê muito, como forma de mergulhar noutra existência e da possibilidade de ser alguém. Neste caso, ser o protagonista ou mesmo o narrador. Dessa forma, ausentava-se da realidade e ainda sentia que podia ter gente no sentir.
Para viver com Célia, lia. Para viver, corria e nadava.
Para ser ele próprio, começou a procurar ajuda. Primeiro num e noutro psiquiatra, mais tarde, num psicoterapeuta.
Agora, Samuel e Célia, estavam na casa nova. Um triplex luxuoso. NUm condomínio, igual aos dos que têm dinheiro 💰. Num
Dos sítios onde as blogueres sem berço vivem.
No parque das nações.
A casa deles era exactamente como uma casa fantasma. Uma casa desabitada, sem alma.
Tinha móveis, roupas, talheres, a empregada a limpar a dias, e eles os dois no vazio de cada um.
As refeições eram momentos de encher a barriga, não tinham o critério de degustar e alimentar os sentidos. Nem mesmo o gosto pela cozinha ou confecção dos alimentos.
Durante o dia, ligavam-se de 30 em 30 minutos, davam ordens um ao outro, comunicavam o que haviam feito, isto sempre para terem a certeza de que um e outro existiam.
Quando Samuel falou disto e das outras coisas ao psiquiatra, o Professor Doutor valorizou a sua diferenciação laboral, a sua eficácia e desvalorizou o sofrimento que não palpou. Efectivamente, existiam queixas mas não existia sofrimento por dentro. Existia uma vida de fuga ao sofrimento.
O médico achou que fazia sentido um estabilizador de humor, explicou que umas gostas matinais iriam ajudar. Samuel acatou.
Célia vociferou:
- vês como eu tenho razão em não te aturar e em me passar contigo. Tu és doente mental. E agora ainda tenho que tomar conta de ti. Já não chega andar a abortar à tanto tempo.
Célia e Samuel tinham muito poucas relações sexuais. Samuel, assustado até chegou a pedir à Madalena uma noite de sexo livre no carro. Para sentir que podia ejacular expontâneamente. Não foi bem assim... saiu do trabalho, foram beber a um bar irlandês e ele pediu-lhe para irem para o seu carro ver o Tejo já escuro. Nesses momentos, Samuel ficava intenso em tudo, vibrava. Beijou-a toda, não foi bem a ela, mas queria sentir muito, queria sentir coisas. E invadiu-lhe o corpo todo em busca da excitação máxima, desenfreado, apressou-se... e ejaculou quando ela terminou de lhe colocar o preservativo com muita agilidade, com a boca.
Frustrado. Cumpriu a missão.
A Madalena tem o nome de todas as prostitutas. Tem o nome da figura bíblica que esteve com o messias até ao fim. Tem o nome do recurso findo, do colo das mulheres que dão tudo. Mesmo quando os homens vão até elas e não é sexo que procuram.
Samuel procurou sentir o fluxo do semen e as vibrações corpóreas que a saída do mesmo provoca, essencialmente no canal penial e nos espasmos que intervelam cada golfada.
Sentiu isso.
Com isso, com ejaculações iguais, engravidou por via natural Célia, a sua companheira.
Os 3 fetos, tiveram o mesmo destino, cresceram numa barriga grávida e dela sairam, violentados por um aborto. Não chegaram a ser bebés, nem uma incubadora que os salvasse conheceram.
Célia queria muito ter filhos, em tudo que dizia, fez todos acreditar que sim. Samuel e Célia, não conseguiam dedicar-se a fazer bebés, tantas vezes como as que ambos consideram necessário para se conseguir engravidar.
Nos dias em que a erecção não surgia, Samuel, pedia-lhe que ficasse de costas e furiosamente penstrava-a, sem licença, no anûs.  Daí resultava dor e sangue na Célia, muita excitação no Samuel e por fim o início dos espasmos que anunciam a ejaculação e o retirar rápido do pénis do anûs, para a rápida penetração vaginal e o alcance da ejaculaçao na via de acesso ao óvulo fecundo.
Da primeira gravidez, Célia correu para o obstetra, pediu todas as verificações do seu estado gravidico. Análise ao sangue, urina e sonda vaginal.
Gravidez confirmada, em evolução muito inicial e normal.
Ambos sentiam, missão cumprida.
O corpo de Célia acusava alterações: seios grandes e doridos, xixi muito frequente e enjoos, muitos vomitos.
Nisto, mais raiva sentiu por Samuel.
- tira-me isto. Estou a sofrer de gravida doente. Aqui o doente és tu.
Despiu-se, depois do almoço desse domingo. Pôs-se nua na sala. Apenas os dois podiam saber disto. Em decúbito dorsal, em quatro apoios, apoiada nos braços e nas pernas, ligou o canal de adultos com pornografia da categoria, orgias.
- anda Samuel, tira-mo. Samuel excitou-se muito com os homens e as mulheres confundidos na tela da 📺 televisão. Então, desnudou a parte inferior do corpo e voltou a violentá-la no anûs.
No Final, com o sangue que lhe escorria, Célia foi para a casa de banho e com as mãos, a mão, os dedos que cabiam, achou que puxaria o bebé para fora. Mais sangue, mais dor.
Ambos se dirigiram á urgência da maternidade alfredo da costa e deram entrada imediata.
Dois obstetras na sala de consulta, um especialista e o outro interno da especialidade. À entrada, têm uma mulher com sangramento vaginal, anal no curso de uma gravidez....
À observação, escoriações vaginais em mulher com emoções de indiferença face á eventual dor que possa sentir, gravidez de 6 semanas de evolução, ovo bem implantado, e o colo do útero também lacerado.
Durante o exame físico reparam que efectivamente o sangramento anal se mantém e que o anús apresenta ligeira inflamação.
Os dois médicos, entreolham-se e com o olhar interrogam-se. Nesse silêncio levantam muitas hipóteses e em silêncio decidem.
Alta para o domicílio com indicação de descanso. Entregam dois relatórios de alta, um para o médico de família e um outro para o seu assistente em obstetrícia.
À saída, Célia liga com a mãe e a chorar suplica: - deixa-me ficar em tua casa. Ele quer tirar-me o bebé!!!
Samuel procura abraçá-la, aconchegar Célia no seu tronco, envolvê-la com os braços e apenas lhe é permitido um suave beijo nos cabelos secos. Célia continua emagrecida, na sua baixa estatura, apenas sobressai o seu cabelo e as rugas em torno dos olhos cheios de olheiras, fundas e marcadas. Sempre foi uma mulher monocórdica e é nesse registo que solta: - tu já viste que eu trato de ti, dou-te tudo, estou sempre em casa, eu não tenho gostado daquelas penetrações enganadas, vi que andas a falar com alguém, tenho que ir embora, este bebé é meu, nunca o verás, vou já mostrar ao procurador estas lesões que me provocaste e que neste hospital público estão documentadas. Achas que ia ao CUF? Nem pensar, lá iam ser mansos, viam logo que o seguro é teu e nesses sítios deixam os maridos entrar... tu agora vais pagar tudo. Faço tudo por ti e agora há outra?
Diz Samuel!!! Diz!!!
Grita e chora e fala de forma convulsa.
- vou dormir para casa da minha mãe. Ninguém sabe o que tu és. As pessoas precisam saber. Nem sei se tomas a medicação, é impossível que o psiquiatra saiba tudo. Eu tenho que lá ir.
Nesta sequência, aperta-o, nos braços, enterra-lhe as unhas e belisca-o. Samuel não se defende, nem se afasta. Na sua mente apenas paira "tenho que conseguir fazer melhor".
Sente-se mentiroso. E foi mentiroso. Tem mentido. Mente, merece sobretudo ser castigado, segundo os seus ditames interiores.
Perante Célia reconhece o erro, diz não conseguir ser diferente mas que não vá para casa da mãe.
- precisamos estar sempre juntos.
Palavras amolecidas por Samuel.
- tu precisas de mim, és muito doente, e eu? Tenho que tomar conta de ti....
Célia, encosta-se a Samuel, enterra-lhe as unhas nos braços e vai até ao fundo, com muita força, até que o sangue saia.
Samuel não dá sinais de dor. Fica imóvel. Seguem para o carro como se nada daquilo estivesse acontecer.
Samuel incia uma condução rápida e perigosa. Célia insiste que quer ir para casa da mãe.
Assim acontece.
Samuel deixa-a á porta da casa da sua mãe e entretanto são 2h da manhã.
Samuel vai para casa, fuma um charro de erva e com um copo de aguardente na mão, abre o feed do instagram e começa a receber sms de uma Madalena, em poses que apelam ao desejo, Samuel também quer isso, com ela partilha imagens instantâneas suas, onde o seu desejo físico é grande e visível. Algumas curtas sms onde referem:
- comia-te agora; - olha como estou; - queres-me; - gosto de tudo que vejo; - fodia-te tanto...
Por fim uma imagem onde se denuncia um orgasmo do Samuel.
Na manhã seguinte, quando Samuel acordou e não viu Célia na cama, ficou preocupado, depois lembrou-se que a deixou em casada mãe e que bloqueou o número dela. - que a ature a mãe. Pensou.
Já na sua secretária de trabalho, recebe no telefone da sua mesa de operações uma chamada, Célia do outro lado:
- eu vou para casa então. Mas não voltes a abrandar-me com o bebé. Tu precisas de nós.
Samuel, assentiu e combinou que ás 17h iam juntos ao Chiado ver as primeiras roupas do bebé e de seguida enviou links por sms de quartos de bebé.
Há hora de almoço foi nadar, como habitual e telefonou ao seu treinador, pois avizinha-se uma prova e precisa adaptar o treino para se vencer na mesma, já que vencer, isso nunca irá acontecer.
Célia passou a tarde em casa da mãe, de cabeça enfiada na sanita a vomitar. O estômago sempre convulso e ela em desaforo e desnorte apertava o fundo da barriga com força.
Gritava pela mãe e pedia ajuda, chorava, desfalecia e gemia.
Que fazia um bebé dentro dela?
Pensava... se me faz sofrer mais. Argumentava no seu interior.
Confessa á mãe: - se desse para o ter sem estar grávida... não quero mais isto.
Tomou 2 ansioliticos da mãe, sem que a mesma soubesse e foi novamente para a cama.
Samuel ligou-lhe sem fim.
Célia dormia e dormiu por 12h.
Samuel desistiu e o Pedro telefonou, foram ambos para casa do seu amigo de adolescência. O Pedro estava a viver temporariamente em Lisboa, a mulher e os filhos estavam em Aveiro. O Pedro era consultor de projetos e o cliente que acompanha á 8 meses, tem sede na tagus park.
Às vezes, os dois encontravam-se, agora quase sempre só os dois e em casa do Pedro.
Lá é seguro, não há surpresas.
Apenas a surpresa do encontro de ambos.
Nunca falaram sobre isso, este era o quarto encontro.
No primeiro, não se beijaram, tocaram-se e masturbar-se um ao outro até á satisfação.
Só com a luz da televisão, no sofá da sala.
Desta vez, Samuel voltou a penetrá-lo, foi difícil pois a erecçao não se consolidava e a saliva, o cuspe nas mãos e o da língua que lambeu o o rabo do amigo, ajudaram a enfiar-se lá dentro. Um orgasmo rápido e gemido. O Pedro quis ser chupado até se vir na boca do Samuel.
Tanto prazer. Tanto silêncio. Tanta culpa. Uma vontade imensa em tornar aquilo mentira.
Madalena, vem ao Samuel, o Samuel quer uma mulher para se saber homem.
Foi para casa e adormeceu a trocar sms com outra Madalena e sentir que ficou duro com ela.
Sossegou e dormiu profundamente.
Célia, mantinha o quadro de hemorragias.
Ao seu obstetra privado ocultou o relatório do serviço de urgência.
Contudo, o médico olhou com muita estranheza para as lacerações na parede vaginal.
Célia queixa-se continuamente, embora com uma imensa indiferença emocional. Refere assim:
- perco sangue muitas vezes por dia, estou sempre na casa de banho para o bebé não sair sem eu dar conta, tenho enjoos.
O discurso é monocórdico, linear, sem sinais de sofrimento na tonalidade afectiva.
O médico, decide perguntar pelo marido, ao mesmo tempo que se senta na sua cadeira e com a paciente já vestida e também sentada. Célia diz que tem estado em casa da mãe. Que lá, pode dormir todo o dia. O médico pergunta pelo bebe, uma pergunta que começa com:
- e então, como foi a ideia de terem este bebé.
Célia: - sempre quisemos. Agora já está. Mas eu queria-o cá fora. Vê-se que estou a abortar sempre. O bebé já deve querer sair.
Médico: - queria-o cá fora?
Célia: - sim. Já gordinho, nos meus braços. No meu colo. Ter alguém só meu....
E sorri.
O médico suspira. E afirma, a gravidez são 40 semanas.
Acrescenta: - tem dormido bem?
Célia:- sim, durmo de dia.
- sabe? Um psiquiatra nesta fase é importante, a vida muda muito com a gravidez. Vai ao Dr. Eurico, meu colega de curso.
Célia sai da consulta e liga com o Samuel, aos gritos diz-lhe: - o bebé dá-me sono, por tua causa vamos a um psiquiatra, deve ter as mesmas doenças mentais que tu e como está na minha barriga deve estar a passar-mas. Cabrão de merda. Este filho é teu. Já não o quero....
Desata num pranto continuo, soluça, entra em apneia de choro e é assistida no hospital privado, onde ainda se encontra.
Na sala de observação, o médico obstetra é chamada e tristemente confirmam a morte fetal ás 9 semanas de gravidez. Pedem ao psiquiatra da consulta que observe Célia.
O psiquiatra comenta: - está bem dispista, não está triste pela perda do bebé. Diz que consegue ter outro. Não é para ficar cá. Dei-lhe olzanpina para estas noites e vem ao Eurico para a semana. Entretanto, se não houver expulsão, ainda tem que ir ao bloco. Que belo presente ali está!!
Célia e Samuel foram juntos para casa. Nessa noite não se desalinharam como habitualmente, numa rotina desconhecida, silenciosa, comeram e dormiram. Durante a noite, com a cama em sangue, ambos se levantaram e nessa normalidade foram para as urgências da maternidade.
A expulsão fetal foi total e não tiveram necessidade de ir ao bloco.
Célia estava serena, na sua indiferença já habitual, em circunstâncias de dor e sofrimento.
Samuel, neutro na face e triste por dentro. Conduziu em silêncio e com uma mão acariciou a nuca de Célia, que se manteve imóvel.
Já em casa, Samuel implorou perdão e para o efeito escreveu uma carta em papel a4 da impressora e ao perdão juntou:
- vou estar sempre ao teu lado, não me deixes.
Célia dormiu, dormiu ainda mais porque estava sob o efeito do neuroletico em doses baixas.
Ao despertar, percebeu que a luz do sol já era muito forte e que Samuel já não estava em casa.
Ao ler a carta de Samuel, Célia decidiu que tinham que ir ambos ao psiquiatra.
Samuel tomou nota do dia e da hora e já no consultório médico, Samuel agiu com silêncio e passividade. Saiu de lá com medicação para o alcool e com um rol de acusoes infinitas acerca da miséria da sua pessoa.
O médico sugeriu terapia individual a ambos e Célia insistiu que antes de o conhecer a sua vida era óptima.
Nessa infelicidade, rumaram a casa e foram diretos á segunda gravidez.
Desta vez, foram surpreendidos, a gravidez não se fez sentir. Célia não deu pelas mudanças físicas e na verdade, não se recordava daquela noite de penetração e ejaculação imediata com Samuel.
Como ainda não normalizara os fluidos vaginais, fruto da anterior gravidez, não se sentiu sequer molhada nessa noite e tão pouco achou que o acto sexual se tivesse consumado, foi tão rápido que achou que nem tinham sequer começado.
Para Samuel foi uma descarga de tensão fugaz. Lembrou-se lá ele que isso é uma forma de engravidar...
E assim, com dois meses de atraso da menstruação, que também se poderia relacionar com a gravidez anterior. Nesse cenário, Célia foi á ginecologista reavaliar a perda fetal e com a intenção de pensar uma futura gravidez.
Durante o exame ginecológico foi surpreendida por:
- está grávida. E já de 9 semanas.

Desta vez indeferente. Não partilhou a boa nova. E manteve a vida como se gravidez não existisse.
A ecografia morfológica do primeiro trimestre denunciou malformações do tubo neural, perante isto a médica achou que deveria ter suspendido a medicação psiquiátrica.
Preparam a interrupção voluntária da gravidez e perante isto, ou melhor, depois disto, Célia exibe o maior sofrimento perante Samuel e a família.
Nessa desgraça, de menos um filho que a vida lhe dá, diz-se sacrificada em virtude da prole do casal.
Samuel, num intenso e profundo desgaste pensa em contar a alguém os demónios da sua vida. Em dias de desespero liga a um e outro amigos, suspira e diz não aguentar o suplício e o inferno daquela casa. Um diz-lhe, o casamento é para a vida, temos que suportar quem está connosco. O outro também lhe diz, olha, não tens filhos, sai disso enquanto podes, não sei que fazes com essa gaja, não vale nadinha.
Que nem um soldado de guerra nazi, urge na militância, casa trabalho e vice-versa. Em casa faz-se surdo, como sempre.
- olha vou-me embora. Vou chamar a minha família para ver isto. Podes andar com quem quiseres, não te quero. Os filhos que engravido de ti, não chegam a ser gente. És tu, os teus genes nem para reprodução servem. Vê o que te passaram os teus paiiiiisss...
A palavra estava no fim e Célia terminou-a com a garganta apertada. Com um pontapé que a colou á parede e o Samuel com mais força que um leão a segurar-se para não a a fazer num farrapo ali mesmo.
Célia não gemeu, não chorou.
Gritou e disse: - eu sabia que eras sociopata filho da puta. Vais preso, desta não escapas.
Ele fita-a, com o olhar denso e parado afirma: - puta de merda, vou-te matar, já não te aguento. Vais morrer. Não terás vida sua cabra.
Dá-lhe um pontapé froxo e sai porta fora.
Célia chama a polícia e em prantos é levada ao hospital para ser periciada.
Célia festeja, finalmente pode mostrar ao mundo o sociopata agressor com quem sempre viveu e nela nunca ninguém acreditou, nem ela mesma acreditava.
Agora já me posso divorciar, pensou.
Ai que força sentiu. Cheia de coragem, alcançou a miragem de um objetivo de vida.

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