Prólogo

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Acordo ao ouvir o barulho do motor do ônibus parando. Minha chefe acabou de comprar uma casa em Porto Alegre, porém surgiu alguns problemas na empresa de Minas Gerais, no qual ela teve que ir pessoalmente resolver. O que resultou? Nela me ligando às 11 horas e 52 minutos da noite, quando eu já estava indo dormir, para me pedir um "favor". O favor era: eu pegar o ônibus para Porto Alegre no primeiro horário, ir para o endereço que ela iria me mandar e ficar na casa até que ela pudesse ir até a mesma. Detalhe 1: ela deixou bem claro que queria que eu mantivesse a casa limpa. Detalhe 2: ela pediu para Lucas – o estagiário - me mandar todos os meus documentos e trabalhos para eu fazer na casa dela, porque segundo ela eu não estou de férias. Detalhe 3: trabalho em dobro e eu não irei ganhar nada à mais, ela ainda riu quando eu perguntei isso e disse que o fato de eu ficar numa casa tão cara quanto a que ela comprou e não pagar comida, luz e água já valia mais do que o dobro do meu salário. Perguntei o porquê de ela não contratar uma empregada para isso e ela disse que não tinha tempo e depois simplesmente desligou o telefone. Detalhe 4: A passagem do ônibus quem pagou foi eu, e o táxi também será.

Se eu a odeio? Bem... sim. Mas ou eu trabalho para ela, sabendo que algum dia ela pode ler algo que eu escrevi e talvez perceber o meu talento como compositora, ou eu passo a trabalhar em um estúdio qualquer, ou com qualquer artista que aceite uma compositora que nunca lançou nada.

Quem é minha chefe? Sara Azambuja, dona da TA Entertainment (talented artists entertainment, ou, para quem prefere o português, Artistas Talentosos Entreterimento). Se trata da maior empresa no ramo da música da atualidade, onde produz grandes cantores, compositores e dançarinos. Todos querem fazer parte da TA, mas poucos conseguem passar pelas audições e quase metade dos poucos que passam conseguem aguentar a rotina de treinos que são submetidos antes de serem lançados como artistas de fato. Os que menos sofrem são os compositores, mas isso eu falo físicamente, porque eles ouvem muito durante muito tempo. Como eu sei de tudo isto? Porque eu gosto de assistir alguns deles nos meus intervalos, fora que muitos dos que desistem na fase de trainee gravam vídeos no youtube falando o que passaram na empresa - obviamente que esses vídeos sempre são tirados do ar pela TA em poucas horas.

Minha paixão me deixa ser submetida à toda essa humilhação que passo lá. O meu sonho é o que me move.

Bem, não no momento, já que prefiro esperar que todos desçam para por fim eu descer do ônibus – mesmo cogitando a ideia de não sair do meu lugar: quem sabe isso é só um pesadelo, né?

Ao descer do ônibus, vou pegar minhas malas: eram 3 – uma média de rodinha, uma de mão e minha bolsa que já estava comigo. 

Espero que eu encontre um táxi rápido, não estou com paciência para esperar muito. Não é que eu não goste de Porto Alegre, eu nunca sequer vim para cá, sei só o básico que todos sabem sobre o Sul: é mais frio, tem bastante campo, um linguajar diferente como "guri" e "guria" e... só, eu acho. O problema mesmo é que eu já estava planejando minhas férias, que seria daqui duas semanas. E agora eu nem sei quanto tempo isso vai demorar. Esse problema em Minas Gerais não pode demorar muito, não é mesmo?

Espero que acabe antes das minhas férias, não quero adiá-las novamente. Eu preciso dessas férias, penso, suspirando em seguida.

Assim que saio para o lado de fora da rodoviária, encontro um táxi parado bem no meu campo de visão, então me direciono para ele.

— Olá, bom dia. O táxi está ocupado? — Pergunto para o motorista, que já estava dentro do mesmo em seu lugar.

— Oi, não. Precisa de ajuda? — O motorista gordinho e baixinho me pergunta, já saindo do táxi para me ajudar.

Assim que eu estava prestes a entrar no táxi que estava na minha frente, o motorista aparece perto de mim.

— Sim, obrigado — Respondo.

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