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— O que mudou? 

Minha voz saiu fraca, baixa. Mas enfim eu tinha tido a coragem de fazer a pergunta que vinha tomando minha mente. 

Era a quarta noite seguida que Jungkook vinha até meu quarto e que nós dormíamos juntos, os corpos encaixados e entrelaçados como costumava ser. Mas nada além disso. Nenhuma carícia mais íntima, nenhum beijo e, principalmente, nenhuma conversa. Pelo menos nenhuma sobre nós

Apesar de minha personalidade mais assertiva e até dominante, quando se tratava de nós, o ritmo acabava por ser o dele. Foi assim quando, ainda que eu também não estivesse nada seguro, esperei que ele se resolvesse com sua sexualidade e seus sentimentos. Foi assim nos meses entre a confissão inevitável e enfim conseguirmos ficar confortáveis com nossa relação. Foi assim também nas semanas que antecederam a decisão do fim, quando vi sua exaustão pelo peso que carregávamos colidir com seu desejo de persistir, e esperei até que ele me desse espaço para decretar o que era preciso. 

Mas agora eu não podia esperar. Porque mais de três meses depois da decisão que não havia sido nem rápida, nem fácil e muito menos indolor, não dava para voltar ao antes como se nunca houvera tido um depois. 

Jungkook levantou sua cabeça que repousava em meu peito, querendo me olhar, mas gentilmente eu afaguei seus cabelos macios, o recolocando na posição. Não sabia o que ele diria e portanto não estava preparado para olhar em seus olhos. Ele pareceu entender e, mesmo que não estivesse mais relaxado como antes, se aconchegou a mim um pouco mais antes de dizer:

— Nada. É justamente essa a questão. 

Como costumamos dizer mais vezes do que seria necessário, eu sou ele e ele é eu. Então mesmo com tão poucas palavras, eu compreendi o que Jungkook quis dizer. 

Quando tomamos a decisão, foi pensando no melhor. O que era melhor pra nossa carreira, nossos amigos e pessoas que dependiam de nós, pra nós mesmos. Só que melhor foi, definitivamente, a última coisa que ficamos nesses meses de distância - uma distância simbólica que, ouso dizer, se mostrou bem mais difícil do que se fosse física. 

Então, nada tinha mudado. Não para melhor. Os sentimentos que tínhamos um pelo outro não tinham mudado. O desconforto e o medo ainda existiam. Os desejos continuavam os mesmos. Só que somado a isso tudo tinha a saudade, a frustração, a energia gasta em se controlar e conformar. 

Ainda éramos nós, mesmo tentando nos privar de sermos. 

Os poucos minutos de silêncio que se seguiram às palavras de Jungkook pareceram horas de profunda reflexão. Mas foi quase ao mesmo tempo que parecemos chegar à nossa epifania conjunta.
 
Desta vez, quando ele levantou a cabeça, não o impedi. Desta vez não tive medo de olhar nos olhos estrelados, vívidos apesar de sonolentos. Desta vez não hesitei em seguir o meu ritmo e, com um carinho que começou na pequena cicatriz em sua bochecha, se arrastou até o nariz e desceu até a pinta abaixo dos lábios que tanto amo, deixei que nossos rostos se aproximassem. 

E quando nossos olhos fecharam e nossos lábios se juntaram novamente pareceu, na mesma medida, que havia passado uma eternidade e tempo nenhum desde a última vez. 

E, de um jeito mais simples do que faria sentido se algo assim tivesse uma lógica minimamente racional, voltamos a ser nós. E agora sim, a promessa muda em nossos sorrisos cúmplices afirmava, tudo estava melhor


saudade ※ jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora