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9 de julho de 2017

Abri os olhos lentamente ao ouvir o irritante som que meu celular produzia na intenção de me despertar. Me espreguicei sem ânimo e agradeci pelas cortinas do quarto que impediam que a claridade entrasse pela janela e atrapalhasse minha visão. Ao levantar da cama, vi que Bethany já não estava mais ali, porém como a porta do banheiro estava aberta, apenas constatei que a garota deveria ter descido mais cedo para tomar seu café da manhã. Ledo engano.

Assim que pus meus pés no banheiro me deparei com a loira saindo do box ao mesmo tempo. Para a minha sorte, ela já estava enrolada em sua toalha, porém aquilo parecia não fazer a menor diferença para Bethany, já que a mesma continuou agindo normalmente e apenas me cumprimentou com um rápido "bom dia" enquanto se direcionava de volta ao quarto.

Ri de mim mesma e me questionei se aqueles momentos constrangedores continuariam acontecendo por muito tempo. Tomei um banho preguiçoso, pois devido ao dia anterior, ainda não estava muito animada. Entretanto, batidas na porta do banheiro me despertaram dos meus devaneios.

— Julia? — a voz de Bethany soou exitante do outro lado da porta.

— O que foi? — perguntei um pouco irritada, ainda não tinha sacado qual era a daquela garota.

— Vai demorar muito ainda? — e para minha surpresa, ela estava me esperando.

— Sim, pode ir descendo. — tentei expressar simpatia.

— Não tem problema, eu espero. — Bethany 1 X 0 Julia.

Me apressei em terminar meu banho e saí do banheiro enrolada em minha toalha. Bethany estava deitada em sua cama folheando um livro. Fui até minhas roupas e acabei escolhendo algo não tão básico para que nenhum lesado me confundisse dessa vez. Peguei uma calça jeans de cintura alta na cor azul clara e a combinei com uma camisa amarela que tinha os dizeres "proud to be latina", a que Isabella havia me dado de presente. Pensei em tornar ao banheiro para me vestir, mas olhei de relance para Bethany e decidi agir com ela. Me troquei ali mesmo, como se não me importasse. Mas ao contrário do que eu pensei, minha colega de quarto não pareceu nenhum pouco afetada ou constrangida, na verdade, pareceu não ter se distraído de sua leitura por nenhum minuto sequer. Frustrada, calcei um par de all-star brancos e arrumei minha cabeleireira ruiva.

— Estou pronta. — anunciei.

— Finalmen— Bethany não terminou sua frase, ao contrário, quando me viu, ficou de boca aberta igual uma tonta, consequentemente me deixando confusa — Deixa pra lá, a demora valeu a pena.

Agradeci tímida e saí do quarto com a loira no meu encalço. Fizemos o mesmo do dia antecedente, tomamos café e aguardamos o momento de ir ao set. Quando chegamos, a primeira coisa que fiz dessa vez foi pegar a credencial que me confirmava como integrante da equipe. Confesso ter me sentido orgulhosa ao ver o meu nome ali, me senti importante. Aquela sensação acabou me dando o ânimo que eu precisava, mas logo me desanimei novamente ao lembrar que ainda não tinha o que fazer, por isso apenas me sentei num sofá reservado para o descanso das pessoas, e ali fiquei por longos minutos mexendo em meu celular, até que uma voz familiar me interrompeu.

— E aí, Julia! — era o mesmo cara de ontem, dessa vez soando brincalhão.

— Como você sabe meu nome? — questionei um tanto assustada com a aproximação.

— Você se chama Julia? — ele perguntou surpreso, mas devido ao meu silêncio e minha provável expressão confusa, ele voltou a falar — Lembra que eu te comparei com a Julia Roberts, ontem?

— Na verdade, não. — ele ficou um pouco sem graça, provavelmente não estava acostumado a ser esquecido tão facilmente — Eu me lembro quando você mentiu sobre isso. — disse por fim dando um leve sorriso, ele por sua vez, deu um grande sorriso que me permitiu perceber que seus dentes não eram todos perfeitos, alguns eram um pouco tortos, me deixando admirada, pois como um sorriso tão comum poderia ser ao mesmo tempo tão bonito?

— Eu sou o Mason. — falou simpático.

— Você faz parte do elenco?

— Sim... Aliás, foi por isso que vim aqui... É que eu te vi aqui sozinha e pensei se você poderia me ajudar a ensaiar minhas falas já que a minha parceira de cena ainda não chegou. Mas só se não for um incômodo.

— Claro, tudo bem. — eu não tinha mais nada o que fazer mesmo.

Ficamos ali por um tempo, eu me dividia em citar as falas da atriz que iria contracenar com Mason enquanto me distraía também com seu incrível sotaque britânico que lhe soava tão bem. Estávamos tão entretidos que mal notamos a presença de uma terceira pessoa próximo a nós, quando olhei, me deparei com uma garota linda, de aproximadamente 20 anos, seus cabelos cacheados eram o que mais me chamavam atenção. Seu rosto, por outro lado, indicava que ela era de poucos amigos. A garota nem pareceu notar minha presença e apenas chamou Mason. Deduzi que ela fosse a parceira que ele estava esperando.

— Desculpe, tenho que ir. — ele disse um pouco envergonhado.

— Tudo bem, bom trabalho. — falei sorrindo.

— Obrigada, e obrigada pela ajuda. — falou por fim, enquanto se afastava apressadamente.

Eu já estava pronta para me afundar no tédio novamente quando um diretor me chamou. Para a minha alegria, meu trabalho finalmente iria começar.

Entrei numa pequena sala que continha uma enorme televisão, aparelhos de som e alguns computadores. O grupo se dividia em duas partes, a primeira era de homens velhos, e a segunda já era mais variada, com jovens da mesma faixa etária que a minha. Logo fiquei apreensiva e me controlei ao máximo para que o nervosismo não me consumisse. Mas aos poucos, felizmente tudo foi se encaixando, de cara me identifiquei com o lado jovem do grupo, apesar dos coroas não serem tão chatos quanto aparentavam ser, e logos iniciamos nosso trabalho. Revisando cenas e roteiros, observando atentamente a cada detalhe para decidir qual take era melhor etc. Tivemos apenas um intervalos e continuamos firmes.

Quando o relógio já caminhava para as 19:00 da noite, fomos dispensados para descansarmos afim de darmos continuidade no dia seguinte. Eu estava um pouco cansada, mas muito satisfeita com tudo que já havíamos feito.
Saí dali pronta para voltar ao hotel. Enquanto caminhava em direção a saída, peguei o celular para mandar algumas mensagens para minhas amigas, até sentir uma mão pousar sobre o meu ombro.

That GirlOnde histórias criam vida. Descubra agora