That Girl

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18 de julho de 2017

— Julia? — a voz de Quinn soou suavemente conforme a porta da sala em que eu estava se abria vagarosamente.

— Veio ver alguma cena sua? — perguntei sem tirar os olhos do notebook para não perder a concentração.

— Na verdade, vim conversar. — ela disse se sentando em minha frente enquanto fechava o meu notebook.

— Quinn! — falei irritada — Eu estou ocupada.

— Você vai gostar do que tenho para te dizer... — disse misteriosa arqueando uma de sua sobrancelhas muito bem feitas.

— O que é? — perguntei a essas alturas, impaciente.

Os últimos dias não estavam sendo moleza e eu estava trabalhando bastante. Apesar de ser algo que gosto, não podia evitar o estresse, algumas vezes. Não quero parecer ingrata, pois estava muito feliz por esse emprego, mas ficava imaginando quando teria a chance de fazer o que eu realmente amo.
Foi então que Quinn esticou a mão me mostrando um papel que eu ainda não havia notado a existência. A garota na minha frente possuía um olhar de animação. Quando comecei a ler o conteúdo, senti meu coração palpitar.

— Foi você quem escreveu isso? — perguntei.

— Sim! E o melhor de tudo: teve resultados tão positivos que eles aceitaram fazer uma audição exclusiva para você! — Quinn saltou da cadeira fazendo seus cachos balançarem graciosamente enquanto ela vinha me abraçar.

O papel tratava-se de uma carta de recomendação escrita pela mesma para um cara chamado Anthony Silver. O cara era um grande diretor, e estava promovendo uma peça inovadora. E a Quinn simplesmente tinha conseguido com que eu pudesse fazer o teste para o papel principal!

— Eu não sei como te agradecer! — a apertei forte durante o abraço enquanto quase explodia num misto de alegria e emoção.

— Você vai me agradecer conseguindo o papel e me dando um ingresso para poder te ver brilhar no palco, onde é o seu lugar. — como ela podia ter tanta certeza? Nem eu tinha.

— Mas e se eu não conseguir? — exitei.

— Por que não conseguiria?

— Ah, não sei... Não quero criar expectativas demais e acabar me decepcionando.

— Com esse pensamento, é claro que você não vai conseguir. Parte da vida de artista é saber se arriscar. — respondeu convicta.

Continuei insegura, mas aquela conversa não daria em nada, então apenas sorri e fingi que estava confiante. Decidi me ao menos me animar com a oportunidade.

Mal podia esperar para chegar e contar a novidade para as minhas amigas! E foi exatamente o que eu fiz após chegar no hotel e tomar um banho. Convoquei Isabella, Ingrid e Loyanna com a desculpa de que tinha algo urgente para contar.

Em alguns minutos, estávamos todas conectadas e pude por alguns segundos admirar as feições de minhas amigas antes que Isabella fosse a primeira a começar a tagarelar.

— Você nunca mais me mande uma mensagem daquelas! Eu estava no meio de uma reunião e surtei querendo saber qual era a emergência. — disse afobada, me fazendo rir.

— Fala logo, Julia! — Ingrid reclamou impaciente, a única que aguardava algum posicionamento meu era Loyanna, doce como sempre.

— O que vocês acham de assistir uma peça minha? — perguntei curiosa, tentando esconder meu sorriso brincalhão.

Meu celular explodiu no som de gritos histéricos que se dividiam em felicidade e curiosidade.

— Você vai atuar??? — questionou Loyanna, agora já não tão mais paciente, me fazendo gargalhar ainda mais com a situação.

Então, finalmente contei a elas sobre o que havia acontecido no meu dia, desde quando Quinn me dera a notícia até o momento em que eu ali me encontrava, fazendo chamada de vídeo para contar a novidade.

— Mas não é nada certo ainda — comentei apreensiva — É só um teste, nem sei se vou passar.

— É claro que você vai passar, sua idiota. — Isabella exclamou com seu jeitinho fofo de ser.

— Eu acho que o que a maluca quis dizer- — Ingrid começou a falar, mas foi interrompida pelos gritos de Isabella dizendo que não era maluca — Enfim, o que a Isa quis dizer é que você é totalmente capaz de conseguir.

— Ju, essa é uma oportunidade incrível, mas não é a única, por isso, se você não conseguir está tudo bem, mas você precisa acreditar em si mesma. — Loyanna me acalmou.

— É que... Nossa, eu não consigo nem achar palavras que me descrevam. — desabafei frustrada.

— Amiga, olha pra você. — Isa me chamou — Você está em fucking Londres, um puta sonho seu se realizou graças a você, a mais ninguém além de você e seu grande esforço. Você é baixinha, mas consegue conquistar o mundo. — suas palavras me fizeram esboçar um sorriso tímido.

— Vão ter tantas outras pessoas mais experientes do que eu lá, tenho medo de esperar demais e acabar me decepcionando. Dói demais.

— Acredite, todas nós sabemos o quão dói ser decepcionada, independente da área da vida, mas todas nós hoje somos pessoas melhores depois dessas decepções. — Ingrid falou, me fazendo lembrar do pequeno período em que trabalhamos juntas e as boas conversas que tínhamos.

— Você chegou longe, mas ainda tem muito caminho a percorrer. E você consegue. — a azulzinha do grupo, como diria Isa, me encorajou.

Conversamos por mais alguns minutos sobre as situações cotidianas de nossas vidas. Loyanna e Ingrid estavam numa relação saudável e companheira, as duas eram tão fofas e aquilo me deixava muito feliz. Ingrid me contou que tinha fechado um contrato com uma loja de roupas famosa em Miami para fotografar os modelos para o novo catálogo. Já Loyanna estava fazendo um curso para se especializar ainda mais nos seus desenhos. Isa, por sua vez, estava segundo ela, melhor do que nunca. A morena estava assessorando um rapper enquanto também trabalhava num livro de sua autoria. Ela jurou que não estava ficando com ninguém e que havia sossegado, mas seus stories no Instagram me mostravam uma história diferente...
Era tão, mas tão bom ter pessoas com quem eu pudesse contar e falar sobre minhas inseguranças e medos sem o receio de incomodar demais. Eu realmente amava as minhas amigas, e aquela conversa havia me encorajado um pouco.

Naquela mesma noite, Quinn enviou para o meu e-mail o script da peça, e então eu conheci a minha personagem, Valerie. Me apaixonei instantaneamente e soube que eu tinha nascido para interpretá-la.

Que se danem as expectativas, eu vou conseguir aquele papel.