Let Her Go

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Era um bar movimentado, o horário o fez silencioso embora não estivesse vazio. Várias pessoas estavam caladas olhando para a televisão, alguns pares estavam apenas abraçados, desfrutando de um encontro romântico, enquanto a maioria estava apenas caída, dormindo abraçados ao copo de qualquer coisa que estavam bebendo.

Havia também uma pessoa no balcão, ela estava de costas para a televisão, não estava acompanhava e tampouco dormia. Aliás, fazia uma semana e um dia que o sono havia a deixado. Oito dias que seu coração ardia mais que sua garganta em contato com a bebida que ingeria.

Seus olhos encaravam o último gole transparente de seu copo. Ainda podia ver o reflexo turvo de uma jovem loira atraente de cabelos curtos espetados e de olhos verdes vivos um tanto escondidos atrás de seus óculos circulares. Sua mente estava leve, sabia que se saísse de sua cadeira, cairia em dois passos. Sentia uma certa felicidade em seu coração. Felicidade falsa. A dor ainda estava lá, podia senti-la tão claramente quanto antes.

Quando fechava os olhos, via uma pessoa gritar enfurecida, lágrimas corriam por seus olhos azuis, seus cabelos também azuis balançavam conforme o movimento brusco de sua cabeça. Palavras sem som. Não conseguia se lembrar o que ela dizia. Seus punhos fechados mostravam sua fúria. Ela caminhava até a porta com todos seus pertences em uma mala, seus passos pesados. Uma porta foi fechada bruscamente naquela manhã. Deixando para trás uma loira de olhos verdes de mão estendida, buscando sem sucesso, parar o impulso da outra.

O copo foi colocado na mesa novamente, desta vez o reflexo não existia. O objeto estava vazio. O líquido escorria pela garganta da jovem. Queimava, ardia, mas não tanto quanto seu peito. Os cacos de seu coração partido enfincavam em sua alma.

Uma comemoração foi ouvida atrás de si. O homem no balcão esmurrou a superfície com uma exclamação feliz de gol. Uma mão erguida por uma pessoa cabisbaixa chamou sua atenção, um copo foi empurrado para junto dos outros dez.

O homem se virou, suspirando pensou como que uma moça tão linda acabou nessa situação. Pensou em consola-la, mas achou que não fosse uma boa ideia. Ela somente entrou, ignorando a música e as pessoas, se aportou no banco e apenas pediu um copo cheio de Vodka pura. Suas palavras soaram secas e seus olhos pareciam insensíveis.

Ela parecia uma mulher seca, ríspida e durona que apenas queria um gole, mas quando o primeiro copo chegou, ela olhou para o objeto de vidro e tombou a cabeça para frente. Sua máscara caiu. Apenas seu reflexo no pequeno copo podia ver sua verdadeira expressão.

Logo outro copo cheio apareceu. Outro reflexo um tanto turvo apareceu. Agora eram olhos azuis que a encaravam. A jovem podia distinguir cada curva daquele rosto em seu copo. Cabelos morenos coloridos de azul um tanto bagunçados e mal penteados contrastavam com a cor clara de seus olhos.

Era a gota d'água, a loira não poderia ter feito o que fez. Ela tentava se desculpar, mas a morena não queria ouvir. O impulso a fez entrar em seu quarto e apanhar tudo o que possuía, jogar em uma mala e sair. Havia sido a gota d'água. Mas o que a loira havia feito?

A morena fechou a porta, mas demorou a sair. Manteve a mão na fechadura por algum tempo. Não ouviu nada por alguns minutos. Ela nem sequer se incomodou em ir atrás.

Criou coragem e tirou a mão da maçaneta, se virando de costas. Ouviu enfim a loira clamar por seu nome. Clamar por seu segundo nome apenas. Nem sequer se importou em gritar o primeiro. Queria ouvir a porta ser aberta, queria sentir os braços da menor a impedir de ir embora, mas ela apenas queria, pois tal ato não aconteceu.

O copo foi esvaziado em sua boca e posto junto com os outros. Não houve sinal dessa vez. Ela não queria mais. Sabia que não deveria nem ter começado. Aquilo não aliviou em nada o peso em seu peito. A felicidade que aqueles copos trouxeram é tão supérflua e sem sentido, não serviram para nada além de deixar seu equilíbrio alterado.

Cambaleando, tentando não cair enquanto pisava em nuvens macias e fofas, ela desceu do banco e foi em busca da saída. Mas para onde ela iria?

No copo ela viu dois reflexos distintos de duas pessoas que conhecia bem. Qual dos dois era o dela e qual dos dois era uma mera lembrança?

Buscou as chaves de casa no bolso. Eram do apartamento que dividia com sua amada. Ambas tinham cópias da chave. Qual das cópias era essa? Quem era ela?

Buscou o banheiro do bar. Todos os boxes estavam ocupados, porém não era um box que ela procurava. Era um reflexo no espelho. No entanto o que queria encontrar? A loira que apenas voltaria ao mesmo apartamento para ficar sentada no sofá esperando impaciente a outra voltar ou a morena que chegaria sem coragem de olhar a loira nos olhos, pois seu ego certamente a impediria de tal ato?

Qualquer uma das duas enfrentaria um dia difícil depois. Qualquer uma das duas ficaria feliz em ver a outra. Qualquer uma das duas estava naquela mesma situação. No entanto, isso importava? Importava quem ela seria? Importava a razão da briga?

Ela não se lembrava, não deveria ser importante. Ambas estavam juntas a tanto tempo, conheciam a outra mais do que elas próprias. Para elas pouco importava se seriam Lapis Lazuli ou Peridot, pois eram e sempre seriam Lapis Lazuli e Peridot.

Ela caminhou até seu apartamento. Pegou as chaves em seu bolso. Mirou o chaveiro em sua mão. Era um chaveiro verde, de alien. Aquilo era seu? Ela havia pegado a chave de sua companheira sem querer? Não sabia. Lembrava de uma cópia com um chaveiro azul em forma de gota. Qual seria o seu molho de chaves?

Abriu a porta, estava escuro. Não acendeu a luz. Não precisava. Sabia bem onde estava cada coisa.

Se guiou até o quarto onde havia uma silhueta deitada em sua cama, deixando um espaço vazio ao seu lado.

Ela entrou em baixo do lençol e se aninhou ao lado de sua amada, a abraçando por trás. Sentiu o toque suave da outra entrelaçando seus dedos. Quem deveria pedir desculpas, quem deveria aceitar não importava mais.

Eram apenas e mais uma vez Lapis Lazuli e Peridot.

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