Capítulo 01

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O vento que sopra forte contra meu rosto, bagunça os meus cabelos irritando os meus olhos.

Em anos de estrada como motociclista, nunca, nem uma única vez deixei de usar o meu capacete. Sempre prezei pela segurança em todos os sentidos.

Em casa, tenho um forte esquema de câmeras que monitoram cada cantinho do apartamento e de todo o perímetro do lado de fora do prédio. Poderia até achar um exagero a alguns anos mas, depois do incidente envolvendo Heloísa, me convenci de que estar preparada para possíveis atentados nunca é demais.

Aquela velha mania de achar que coisas ruins acontecem com os outros e nunca vai acontecer comigo não é verdade. A maior prova disso é a situação em que me encontro agora.

Ao descer para o estacionamento, minha intenção era subir na moto e ir logo para casa. Tomar um bom banho naquela banheira magnífica da qual me apossei na suíte deixada pela Helô e permitir que todo o stress do dia vá embora com a água no final. Mas, ao contrário disto, estou eu aqui em uma fuga inusitada digna dos filmes hollywoodianos, tentando despistar aqueles miseráveis que tentaram me roubar.

Sei que fui imprudente em reagir e sair daquele jeito, mas deixar que levassem a Magnólia não era uma opção. Minha moto é o meu bebê, e eu nunca iria entregá-la sem lutar.

Ouço sirenes vindas de todos os lados, quero olhar para traz, mas o receio de perder o controle e cair fala mais forte e eu acelero ainda mais. Pelo retrovisor esquerdo vejo uma viatura aproximando e tento diminuir a velocidade. Passo direto em um quebra-molas e voo alto junto com a Magnólia. A adrenalina que domina meu corpo chega a causar um torpor de prazer em minha pele, arrepio dos pés à cabeça. A sensação é quase tão boa quanto a de um orgasmo. O pneu dianteiro finalmente toca o asfalto e depois o outro, freio pesado agora. Sou tirada do meu estado de êxtase e jogada de volta com força sobre o chão. As marcas de uma brusca derrapada é tudo o que vejo sob uma nuvem de poeira.

- Ester...Ester.

A voz é conhecida, mas a dor em minha perna que está presa embaixo da moto é forte, então paro de fazer força na tentativa de escapar e espero. Mais duas viaturas encostam próximas de onde estou e outras seguem em outra direção.

- Ei! Nem vou perguntar se você está bem, fique o mais quieta que puder. A ambulância já está a caminho.

- Josman! Não imagina o quanto estou feliz em te ver, agora tira a Magnólia de cima de mim porque essa dor está me deixando maluca. - Ele ri balançando a cabeça sem mexer mais nenhum músculo do seu corpo.

- Me perdoe querida, mas não posso tocar em você agora. Os paramédicos já estão chegando e farão isso com segurança. Aguente firme só mais alguns minutinhos.

- Merda, que se dane você e seus paramédicos. - Faço força na tentativa de me soltar, mas é em vão, grito com a dor que aumenta e eu solto mais alguns palavrões na sequência.

- Quem te vê com a boca fechada, não faz ideia do estrago que ela faz quando é aberta. Acho que nunca ouvi tantos nomes feios ditos de uma só vez.

- Argrrrrrrr.... - Reclamo mais um pouco e vejo, finalmente, o samu encostar e os socorristas pularem lá de dentro vindos ao meu socorro.

Sou imobilizada e levada para a ambulância.

De longe consigo ver o Josman ao telefone gesticulando como se explicasse alguma coisa para alguém muito impaciente do outro lado da linha. Nem preciso fazer esforço para tentar descobrir de quem se trata, pois, só uma pessoa o deixa assim. O Bernardo. Com certeza ele está relatando meu pequeno incidente para os meus amigos queridos. Claro que acho desnecessário; nem foi tão grave assim. Acho que a magnólia ficou mais machucada que eu, depois dessa aventura perigosa na qual nos meti.

Um devasso em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora