Merda! Minha imaginação realmente estava bloqueada. Não fazia a menor ideia de que história escrever. E eu tinha que ser rápida para pensar em uma, pois eu já estava terminando um livro que logo, logo iria para as livrarias e assim que eu terminá-lo já teria que começar outro. O problema é que nada vinha na minha cabeça e tudo só piorava com o cheiro de comida que eu podia sentir vindo da cozinha e também da barulheira que Kara fazia.
Droga! Custava fazer menos barulho?
Uma das poucas coisas que não gosto em ser escritora é justamente isso. Você tem que estar com a mente a milhão todos os dias para ter algum enredo para uma nova história, e se estiver sem criatividade. Sinto muito, mas você afunda na merda. E o pior é que justamente na hora em que estou fazendo sucesso e sendo reconhecida, eu fico sem criatividade.
Acabei passando mais um tempo pensando no que eu poderia fazer para continuar a minha história e ter um novo enredo para outra, porém a voz de Kara me chamou do lado de fora do escritório. Xingue rapidamente por me desconcentrar e sai do escritório indo direto para a cozinha. Me deparei com a imagem sensual - sinta a ironia - da minha ex-esposa usando um avental rosa com florzinhas de tons mais escuros estampados.
- Você ainda usa isso?
Antes de nos separarmos, eu já tinha dito mil vezes para Kara parar de usar aquilo. Poxa, vocês não fazem ideia do quanto era broxante ir para a cozinha toda excitada e encontrar minha esposa de avental rosa. Tudo bem que agora não somos mais casadas, mas mesmo assim continua horrível encontrar ela desse jeito.
- Mas é claro! Eu não quero sujar minha roupa.
Resolvi ignorar ela vestindo aquilo para não inventar de dar briga. Eu queria era comer!
- O que tá fazendo aí? - perguntei ao vê-la mexer a panela.
- Macarrão primavera com frango e brócolis. Hoje está frio, estou fazendo isso para nós esquentar.
No fundo eu admito que fico extremamente agradecida por, pelo menos, ela me ajudar com algumas coisas. Eu seria incapaz de passar horas escrevendo uma história e depois ainda fazer comida. Se não fosse por ela eu começaria a viver de comidas congeladas.
- Lena, você pode me ajudar a arrumar o sofá depois? - Kara voltou a falar ainda mexendo na panela.
- Claro! Como eu sou uma ex mulher exemplar, eu te ajudarei a arrumar o sofá, afinal é um trabalho árduo fazer isso.
- Lena, faça-me esse favor! Você passa o dia inteiro trancada naquele escritório, enquanto eu estou aqui, sem companhia alguma.
- Se quiser companhia, vai sair com suas amigas! E aliás, agora você está divorciada, Kara. Minha companhia é o que dificilmente você vai ter de agora em diante. - Kara parou de mexer a panela e virou-se para mim com o cenho franzido.
- E fui eu que por acaso pediu o divórcio?
Ela estava realmente aumentando a voz comigo?
- Fui eu que sempre ignorava minha esposa enquanto estávamos juntas, dizendo que sempre estava cansada? - ela se calou. Toquei bem na ferida. - Você acha que ficar trancada no escritório, escrevendo a porcaria de um livro todos os dias é fácil, Kara? Você acha que fazer aquilo não me deixa cansada? Mas olha o que eu fazia, eu sempre tirava um pouco do meu tempo para fazer a droga do nosso jantar e tentar fazer a nossa relação, que aliás não existe mais, melhorar um pouco. E o que eu ganhava? Ah, é mesmo! - bati na testa, como se me lembrasse. - Eu recebia um Agora não, Lena. - tentei imitar seus jeitos, sua voz.
A expressão de Kara tornou-se raivosa num instante e no outro ela já batia a colher de pau na pia, fazendo um barulho irritante.
- E você acha que é fácil sair cedo da manhã para passar horas e horas em uma sala com um monte de gente, enquanto telefones tocam sem parar? Você imagina o tamanho da dor de cabeça com que eu voltava para casa só para ficar ouvindo isso o dia inteiro! E como essa dor aumentava toda vez que você começava a gritar no meu ouvido que nem uma menininha carente?
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Até Que A Morte Nós Separe
Fiksi PenggemarCom um relacionamento cheio de idas e vindas, o divórcio fez Kara e Lena se separarem, mas o orgulho também fez com que nenhuma delas quisesse abrir mão do apartamento em que viveram quando casadas.