Um barulho, um gemido de dor se autênticou para mim, quando senti meu corpo despertar. Dessa vez consigo subir as pálpebras que tanto pesavam. O cabelo de cor acinzentado logo se tornou visível assim que consegui focar na primeira coisa que havia à minha frente. Sua feição estava cansada, perturbada, não parecia ter me notado, seus pensamentos pareciam distantes, com os olhos para o horizonte marcado pela guerra.
— Kakashi-sensei... — Depois de muito esforço, consegui pronunciar, e finalmente conseguir sua atenção.
— Como se sente, Sakura? Consegue se mexer? — Estava bastante preocupado, e talvez houvesse motivos, se ao menos eu lembrasse o que acontecera comigo.
— Sim... — Com muito esforço, me contorci dolorosamente tentando fortalecer meus músculos, para em seguida me erguer.
— Que bom, estava pensando que precisaria de um ninja médico. — Com sua ajuda pude escorar minhas costas à uma pedra ao seu lado, respirando fundo e tentando formular mentalmente onde estávamos.
— Eu não lembro o que aconteceu... Cadê o Naruto? E... O Sasuke, onde estão? — Suspirou desviando o olhar do campo logo encarando minha postura. Eu sentia um certo ponto de dor no peito, mas fisicamente não tinha achado ferimento algum.
— Estão lutando. — Se limitou à essas palavras. Minha cabeça estava começando a doer, o lugar tinha uma atmosfera tão densa, palpável, sufocante. Era uma completa bagunça. A dor fina se fazia permanente quando tentava focar melhor nos fatos ao meu redor. Não tinha mais os barulhos de explosões, muito menos era visível alguém além de nós dois ou um conflito. Ele não poderia ser mais específico? E onde estavam as outras pessoas?
— Não entendo, a guerra acabou, não é? — Continuei a focar a palma da mão onde tanto me doía, afinal, o que estava havendo, que sensação estranha era essa que sugava todo o meu ar? Outra pontada forte de dor entre meus olhos me pertuba, assim que os abri para encarar meu Sensei.
— Sasuke tem uma proposta de revolução, Naruto não concorda com ele, devo dizer que eu também não. E nesse momento, eles estão se enfrentando. — Não pode ser. Sasuke... Eu sabia que havia algo de errado, o pressentimento me acompanhava desde que pus meus olhos nele quando chegou para guerrear ao nosso lado.
— Sensei... — seu olhar dizia tudo, tudo o que eu mais queria não ouvir. Ele parecia cansado.
— Você quis impedí-lo, aliás, impedí-los de lutar. Não tinha outro jeito, Sakura, só assim eles vão se resolver.
— Se sobreviverem... — Pensei alto.
Mais uma pontada forte de dor me desconcentra. Não conseguia organizar meus pensamentos com essa dor irritante. Irritante... "Você é muito irritante..." – Meu peito parece pesar mil toneladas com a conclusão dolorosa. Um genjutso... ele me pôs num genjutso!
Eu lhe disse um bocado de coisas, assim que Naruto concordou com a ideia idiota de enfrentá-lo. Tudo o que eu lhe disse, tudo o que falei abertante, minha esperança, meus sentimentos... Ele havia me humilhado mais uma vez. Porque não me matou de uma vez? Porque simular tal ato? Para pontuar ainda mais em minha insignificância?
Eu não sabia em qual dor focava mais para aliviar, as físicas ou as emocionais. Entretanto, ouvi o mesmo gemido de dor vinda do meu sensei, que com muito esforço se aproximou de mim para também se escorar na pedra.— Deixe-me ver isso. — Asfastei sua mão que apertava onde devia estar machucado, concentrando meu chácra no ponto.
— Não precisa... — Sua voz foi cortada por um barulho estrondoso e distante. Devia ser a tal batalha de Naruto e Sasuke. — Temos que ir ver como eles estão.
Por mais que eu quisesse evitar com todas as minhas forças ver o Uchiha na minha frente, não posso negar minha preocupação por Naruto. O Sasuke não é mais o garoto no qual me apaixonei. Agora está claro, ele fez questão de deixar claro. Ele não parece nada perdido. Parece estar disposto à ir até o fim com o que acredita.
— Só me deixe terminar isso, e eles terminarem aquilo. — A última coisa que quero é impedir o Naruto de dar uma surra no Sasuke.
— Já faz horas, e está perto de amanhecer.
Não me dei ao trabalho de discutir, nós dois estamos longe de estarmos cem porcento, e em minhas condições não tem como eu fazer muito. E não irei brigar com meu sensei só porque me sentia decepcionada com o Sasuke pela enésima vez, eu não deveria ter colocado tantas expectativas. A culpa é totalmente minha.
Apenas aceitei sua insistência, tentando continuar firme me pondo de pé, parece que havia dado tempo de me recuperar um pouco. E pelo o que estou percebendo, ao meu lado o meu sensei parecia poder se sustentar também. Contudo, seguimos caminho comigo lhe ajudando na caminhada, afinal o percurso será aparentemente distante.
Não vinha em tal lugar à bastante tempo, tempo que nem sabia quanto, mas o fato de ele estar irreconhecível para mim não era pelo o tempo. Perto da fronteira entre o país do Fogo e do Som, se encontrava o Vale do Fim aos pedaços. Águas estavam confusas entre crateras e a margem totalmente não mais conectada. As estátuas estavam em pedaços incontáveis, mas uma certa rocha se tornou destacável entre as outras, a coloração vermelha se tornou visível quando tentei focar melhor a visão, e assim como eu, meu sensei parecia ter notado o que meus olhos encontraram.
Ao menos estejam vivos! – sinto meu coração apertar.
Olhei para o mesmo que ainda mantinha os olhos na imagem, e por ele parecer exausto e não muito disposto à se aproximar daquilo, me limitei a tomar à frente, o deixando para trás. – Joguei meu corpo penhasco à dentro, já me preparando para a chegada ao chão, e assim que pude me aproximar devidamente dos dois corpos deitados de qualquer jeito na rocha, minha visão se estendeu a algo mais terrível que não havia enxergado bem antes. Agora entendo a reação indescritível do Kakashi.
Não pensei muito, apenas me aproximei, agachando-me, tentando me concentrar o mais precisamente possível nos dois braços violentamente amputados.— Obrigado, Sakura-chan. — O loiro falou com graciosidade. Então eles estavam conscientes. Foco, Sakura, você precisa...
— Sakura, você não precisa... — O dono da voz que eu não queria ouvir tão cedo se pronunciou, interrompendo drasticamente minha concentração. Eu mal quis olhar na cara de ambos, e pela quantidade de sangue no lugar, esperava que não estivessem conscientes.
— Silêncio! Preciso me concentrar. — Rápida e breve, mesmo que desajeitada e trêmula.
— Sinto muito... — Voltou a falar, para o desespero de meu coração, que batia tão dolorosamente forte. Com muita dificuldade, eu relaxei os ombros, com a vista embaçada. O que ele queria com isso? O que havia acontecido entre os dois?
— Sente muito? Pelo o quê? — eu perguntei em ousadia.
— Por tudo. — Ele resumiu. Eu não esperei nada mais que isso da sua boca, não haveria, simplesmente. Eu me recolhi, ainda agachada, sequei lágrimas que temeram à cair, e respirei fundo. Eu ainda não havia olhado nos olhos de ambos, e gostaria de manter assim.
Ao menos tinha conseguido estancar o sangue do ferimento mais sério, já que não tinha chácra o suficiente para tratar deles com mais precisão. Ainda sou uma médica, antes de tudo. O que quer que eles tenham resolvido entre si, não me intrometerei.
— Muito bem... — Ergui-me, procurando em seguida a imagem do meu sensei deixado para trás. — Shannaro...
— A idade está chegando pro Kakashi-sensei? — Ouvi o loiro dizer e me virei de volta para o mesmo. — Eu que perdi um braço, estou pronto para outra guerra! — Escutei um riso nasalado de Sasuke, enquanto eu não tinha o que dizer.
Naruto pode não ter noção da seriedade da situação deles. Se eu não tivesse chegado à tempo a hemorragia mataria eles em apenas algumas horas, e ele faz piada sobre?
— Ele está fraco, vou voltar com ele. — Disse já me posicionando para voltar para a beira do penhasco.
— Também vamos, Sakura-chan, isso ainda não acabou! — o loiro voltou a falar, seguindo meus passos junto ao Uchiha. Ele deve estar se tratando sobre as Bijus presas por Sasuke, e as pessoas que ainda estavam presas no genjutsu. Bom pra eles que estão de acordo em suas decisões.
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É Tarde demais?
RandomSakura está tão quebrada por dentro e insegura de si que se deixa levar pelo o ressentimento. O seu amado não a-reconhecia, nem seus sentimentos à ele quanto seus esforços para salvá-lo da escuridão que o-consumira. Restando apenas tristeza e pedaço...