Capítulo 1

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             Traída, assim que eu me sinto neste momento, não sinto minhas pernas, não sinto meu próprio corpo. Em uma tarde chuvosa, eu estou parada no meio de uma máquina que diz tudo que eu não queria acreditar. Eu confiei tanto na pessoa errada que sinto a dor no peito subindo para cabeça, meus neurônios não raciocinam direito, céus, não permita que isso aconteça.

             Puxo o celular do bolso e ligo para aquele que me colocou no chão, me tirou tudo aquilo que eu acreditava ser meu, ser real. Chama uma, duas, três, quatro vezes e vai para caixa postal, sinto meu corpo esquentar, lágrimas de desespero descem em meu rosto e uau, eu estou na merda.

-A senhora precisa de ajuda?-pergunta o segurança, educado.

-Não– tento dar um sorriso amigável que deve ter saído como uma careta. –Estou de saída.

               Retiro o cartão da máquina, saio pelas ruas atordoada, não sei para onde ir, onde vou morar, não sei o que vai ser da minha vida, eu voltei para a estaca zero, voltei para o chão, Deus, isso dói tanto.

              Meu único refúgio foi à casa de Bruna, única pessoa que eu confio nesse momento, única pessoa que me deu abrigo, que nunca me abandonou.

-Fiz um chá para você-Bruna me entrega uma xícara quente me tirando dos meus pensamentos.

-Você está bem? –pergunta passando a mão em meus cabelos cacheados.

-Não-digo com a voz rouca, carregada de mágoa. –ele me tirou tudo, Nana

            Volto a me derramar em lágrimas, tanto esforço para nada, tantas noites sem dormir para tudo ser tirado de uma forma tão rápida, fácil.

-Você vai se reerguer, vai destruir todos aqueles que te humilharam, vai dar a volta por cima e se Deus quiser, não irá confiar em nenhum bastardo novamente – Bruna me dá um abraço reconfortante e faz carinho na minha cabeça.

-Eu estou contigo –Diz enquanto limpa minhas lágrimas.

              Eu definitivamente nunca vou me esquecer disso.

                                                                         Seis anos depois.

            Dia 9 de julho de 2021 às 10h42min

-Precisa de mais alguma coisa, senhor Andrade? –pergunta minha secretária Caroline, pela milésima vez.

           Respiro fundo, batalhei muito para chegar até aqui, não posso surtar nesse momento, mas porra! Vazaram a porra da publicidade de um dos lançamentos de um celular que tanto pediram sigilo, tanto suspense para no final estragarem tudo. Puta que pariu, eu estou ao ponto de surtar. Minhas mãos tremem, vou até minha mesa e me sento na beirada encarando Caroline.

-Quero que descubra como vazaram isso, se tiver alguém aqui dentro que vazou isso, teremos sérios problemas, não irei tolerar pessoas que não tem comprometimento com o trabalho aqui dentro, acha que consegue fazer isso, senhorita Garcia?

          Tem uma pontada de deboche nas minhas últimas palavras, não pude evitar.

           Caroline abraça o seu tablet e arrumou seus óculos redondos no seu rosto, que dar um ar mais jovem e o seu vestido justo na cor azul escuro não ajuda em muita coisa.

          Se não tivesse cara de nerd e uma completa estranha, foderia ela nessa sala, principalmente em cima da minha mesa.

-Senhor Andrade, com todo respeito, se não fosse eficiente para tal situação eu não estaria aqui há cinco anos consecutivos, vi vários desses erros, várias pessoas sendo demitidas, você como cresceu aqui dentro deveria saber. Agora me diga Senhor Andrade, será que consegue tomar o controle de volta? Pois já vi vários como você indo pro ralo.

          Meu sangue ferve, olho seu rosto e vejo que não está com medo, gosta de me desafiar. Dou a volta em minha mesa e me sento na cadeira observando cada movimento seu.

           Caroline já trabalhava aqui quando comecei a trabalhar como estagiário, sua boca carnuda sempre fora atrevida, não sei como ainda está aqui, sempre no cargo de secretária, tem tanto potencial que não vejo por que não sobe de cargo, nem que seja para o administrativo.

-Irei chama-la se precisar de algo. –Ela assente e sai de cabeça erguida, confiante.

             Tantas vezes vi pessoas caírem pelo mesmo erro, ou até mesmo menores, eu cheguei até aqui por mérito, todas as vezes que fiquei até tarde para terminar relatórios, ajudando na gráfica, deixando de almoçar, chegando sempre cedo, céus, eu mereço estar aqui, tenho que ficar aqui até construir meu nome de vez.

Caroline Almeida

           Céus preciso de uma folga! Meus dedos doem de tanto digitar e o troglodita do Thomas não me ajuda, um grande filho de uma bela mãe.

           São 12h e 47 minutos, já era meu almoço com Bruna, eu só queria um almoço decente com a minha melhor amiga. Meu telefone toca me tirando dos devaneios, acho que é meu querido chefe e então atendo.

-CADÊ VOCÊ? –Bruna grita no telefone para Deus e o mundo ouvir- Eu estou nesse maldito restaurante te esperando e nada de você chegar! Poxa Carol, achei que hoje seria nosso dia!-Bufa ao terminar de falar.

-Você não entrou na internet hoje? –apoio minha meu rosto na minha mão e suspiro- Vazaram as imagens e publicidades do novo celular, Thomas tá puto e não me deixa quieta. –resmungo

-Deve tá com medo do que o chefe dele pode fazer, ou melhor, a chefe- da uma risadinha baixa e reviro os olhos.

-Bruna Silva, pode parar agora com suas piadinhas- não me aguento e dou uma risadinha- você poderia, por favor, trazer meu almoço? Estava contando de ir contigo e não trouxe nada-passo a mão nos meus cabelos cacheados que estão rebeldes hoje.

-Posso sim, vai querer o frango com maca... -desliga na minha cara, ou melhor, desligam na cara dela. Acompanho a mão que está no meu telefone e vejo o Thomas com a cara nada animada,

-Eu te pago para ficar com conversinhas no telefone, Srta. Garcia? –bufa, vemos que nosso querido chefe não está nos seus melhores dias, para não fazer a fera me atacar, fico calada e abaixo a cabeça. –Foi o que eu imaginei. –se retira.

           Reviro os olhos quando vejo Daniele e suas cobrinhas rindo da minha cara, volto a trabalhar duramente e só paro quando Nana vem deixar meu almoço, não sei o que seria de mim sem essa garota.

            Meu relógio marca 18 horas e 14 minutos, finalmente posso ir embora e aproveitar o resto da minha sexta feira nada animada, levanto já com minhas coisas na mão preparada para ir embora quando o Sr. Andrade me chama em sua sala, esse homem vai ter que me pagar hora extra.

             Amarro meu cabelo em um rabo de cavalo alto, ajeito meus saltos que estão me matando e entro na sala do troglodita que está em pé no meio da sala.

-Srta. Garcia –sorri ao falar meu nome- gostaria de saber se quer sair comigo nessa sexta, não estou nem um pouco a fim de ficar sozinho-vem em minha direção e passa a mão nos meus cabelos.

-Se o senhor quer um passatempo para sua noite, acredito que deveria ir a uma casa de prostituição, por que não sou nenhuma das suas vadias. –o empurro de perto de mim, meu sangue ferve- e se caso chegar perto de mim dessa maneira novamente, irei levar isso para o seu superior –dou um sorriso de lado ao ver que não gostou nenhum pouco da minha ameaça- Tenha uma boa noite, Thomas.

              Saio de sua sala de cabeça erguida, quem esse filha da mãe pensa que é para me tratar assim? Isso definitivamente não vai ficar assim.





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