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Vendo Zayn ali parado, sua voz tendo acabado de invadir seus ouvidos, Liam sentiu que estava, bem à sua frente, um começo ou um adeus. Seu corpo estava tão exposto, tão machucado e roxo, que ele quase teve a sensação de que estava virado do avesso. Se não fosse a toalha amarrada em sua cintura, ele teria certeza que aquilo podia muito bem ser um dos seus sonhos, daqueles em que todos os tipos de coisas absurdas aconteciam diante dele quando estava assim, completamente nu.

Para se certificar de que estava acordado, tentou movimentar o pulso enfaixado. Os sonhos conseguem mascarar dores, tornando-as apenas formigamentos que fogem da dimensão do real. Estaria ele sonhando? Acabou por descobrir uma resposta quando fez o movimento e sentiu uma dor lhe subir queimando pelo braço. Foi como se o peso da realidade lhe caísse sobre os ombros. Estava acordado, e Zayn estava mesmo ali, depois de quase quatro dias sem dar nenhuma notícia ou sinal de vida.

"Zayn" um grande nó se formou na sua garganta. Liam não aguentaria mais nenhum tipo de impacto, de brincadeira ou vai e vem. Sabia disso.

O garoto deixou a mochila aonde estava e veio se aproximando. Parecia ter perdido peso, de tão abatido que seu rosto estava. O cabelo lhe caía no rosto, não mais no topete que costumava armar todos os dias. Os olhos pareciam menores, devido às olheiras enormes que deixavam seu rosto fundo. Ele lhe parecia alguém diferente, alguém que tivera dias de tempestade.

"Liam" ele o olhava como se estivesse prestes a chorar. De certo, vê-lo daquele jeito, cheio de hematomas e pontos aqui e ali, havia o deixado meio desesperado.

A mão de Zayn estava prestes a passar pelo maxilar de Liam quando este se afastou, mesmo que minimamente. Zayn não pareceu compreender.

"Não.".

"Não?" as sobrancelhas de Zayn se aproximaram uma da outra, acima de seus olhos.

Liam respirou fundo.

"Não" ele manteve-se firme. Precisava mostrar a Zayn que ele não seria como em todas as outras vezes, aceitando chutes no estômago e sorrindo em agradecimento. "Antes que você diga qualquer coisa, eu preciso que você faça uma escolha" as palavras arranharam o pescoço de Liam por dentro, saindo dolorosas a cada sílaba. Era quase impossível falar daquele jeito. As lágrimas de Zayn tremiam nos cílios inferiores, prestes a cair. "Eu... eu estou quebrando, e preciso saber se desta vez você veio disposto a resolver essa merda gigante que vem se acumulando entre nós. Se você está pronto para me contar o que aconteceu, ou então se você veio só me deixar maluco, achando que temos tempo para continuar adiando essa conversa dia após dia, para amanhã ou depois eu acordar e não achar mais nada que seja seu dentro desse apartamento".

"Liam..." Zayn baixou seu rosto, soltando um profundo suspiro.

"Eu preciso saber se você está disposto a ficar, Zayn" um desespero começou a borbulhar dentro dele, afetando-lhe a voz e molhando seus olhos. "Se você está disposto a mexer nesse monte de caos e dor comigo, porque, sinceramente, eu não posso e nem consigo fazer isso sozinho.".

Zayn finalmente lhe tocou pela primeira vez. Ele pôs a mão em volta de seus braços, com cuidado. Foi como se, pela primeira vez em muitos dias, um pedaço de chão se materializasse debaixo dos pés de Liam.

"Ei, eu estou aqui" seus olhos castanhos olhavam fixamente para os dele. "Eu sei que demorei a chegar, e que no caminho eu brinquei de errar umas bilhões de vezes, que eu não só te magoei para caralho, mas como eu quase te matei por um monte de coisas idiotas. Olha só para você" seus dedos foram descendo pelos braços de Liam, não como um carinho, mas como alguém que estava segurando algo extremamente frágil. "Olha o que eu fiz contigo.".

"Zayn" algo se agitava dentro de Liam, pareciam um monte de bichinhos rasgando-lhe o peito por dentro.

"E você me pergunta se eu estou disposto a ficar" Zayn quase ria de nervoso. "Eu não estou em posição de decidir coisa alguma, Liam. Eu vim até aqui para saber se você me aceita de volta. Se você quer, de alguma forma, ouvir minha voz, ou estar na porra do mesmo lugar do cara ridículo, idiota e estúpido que te fez cair de uma maldita cachoeira.".

SchopenhauerOnde histórias criam vida. Descubra agora