O fim do dia pouco a pouco se aproximara, eu estava prestes a ir embora, meu chefe, o senhor Mendez vem falar comigo.
- Boa noite, como está? - diz ele, com uma voz calma enquanto um leve sorriso repousava em seus lábios.
Isso não fazia sentido algum, porque isso do nada?- Boa noite, senhor, estou bem sim. O que houve? - perguntei com um leve medo em minha voz.
- Vou ser breve, quero saber o porquê de tantos atrasos seguidos, caso o senhor não tenha notado, somos o que somos pela nossa seriedade e comprometimento com esse local. Hoje é sexta-feira, notou quantas vezes de atrasou essa semana? -disse ele desfazendo o sorriso que e lentamente se despedindo do tom tranquilo de sua voz.
- Não senhor... - disse de cabeça baixa, tentando entender a bronca que era atirada contra minhas orelhas.
E então ele sorriu novamente como no início da conversa e desejou-me sorte, aquilo parecia uma ameaça de demissão novamente, o meu desespero espreitava aquelas duras palavras. Irritei-me e sem perceber, deixo o senhor Mendez falando sozinho, Não por ego, mas por que aquela bronca não era baseada na realidade. Da pra ter uma noção do quanto eu odeio aquelas pessoas? Era o meu primeiro atraso no mês, eu adoraria falar umas coisinhas pra ele, mas, meu dinheiro que já era pouco parecia diminuir a medida em q a noite caía.Dessa vez eu conseguira pegar o ônibus que se encontrara quase vazio e não conseguia tirar da mente aquelas palavras. Questionava-me o tempo todo, compensava continuar naquele lugar? O desemprego é algo gigantesco, quase que uma crise, como eu iria conseguir dinheiro? Eu simplesmente não tenho opções. Mas mesmo assim seria uma dádiva não ter de vê-los nunca mais. Minha tormenta não chegara ao fim, aquele sentimento de ira corroia-me por dentro, minha mágoa pouco a pouco se transformava em ódio.
Enfim o ônibus para, onde deveria ser meu ponto, eu estava distraído demais para notar que havia começado a chover e que, bem, não era meu ponto. As gostas de água gelada tocavam meu corpo, pareciam facas cortando minha pele, a chuva fria parecia não se importar com meu dia difícil, afinal, quem se importaria?
Irritado, começo a caminhar, o meu destino estava um tanto quanto longe, a noite ia caindo depressa e a chuva engrossando, mas eu nem me importava com mais com aquela situação, só queria chegar ao meu descanso, ou pelo menos a minha casa, tarefa que parecia ser quase impossível de ser concluída. Ao menos tive um excelente tempo para pensar.Até que após algum tempo de caminhada chego ao meu destino, minha roupa estava completamente encharcada, o portão havia emperrado, meu dia me surpreendera muito, começara péssimo e agora, se encontrava horrível. Forcei o portão por algum tempo, a ponto dos meus dedos se encontrarem roxos por conta do frio intenso, finalmente o portão resolve cooperar e se abre.
Então eu entro e o tranco, abro a porta de casa, entro, e a chuva parecia ter chegado a casa antes de mesmo de mim, mas isso pouco importava agora, tiro a roupa molhada, pego um rodo e começo a puxar a água que havia molhado todo o assoalho, algumas gotas de água voltam a cair sobre meu cabelo, acontece que havia muitas goteiras pela casa então, num ato de completo ódio atiro o rodo ao chão. Decido tomar um banho e ir dormir, eu estava irritado demais para ter fome.Deito-me a cama com uma roupa qualquer que encontrei ao lado do travesseiro, fechos meus olhos. Ouço ao longe uma voz chamar por meu nome, uma doce e delicada voz, feminina, uma voz familiar, caminho em direção a voz que continuara a chamar por mim, deparo-me com uma mulher linda, seus cabelos cor de ouro e aquela pele clara,seu doce cheiro perfumava o ambiente, só podia ser uma pessoa.
- Dia difícil no trabalho, filho? - disse ela enquanto se ajeitava numa cadeira ao canto da sala e vestia um casaco escuro enquanto me encarava.
Meus olhos encheram de lágrimas e eu corri para abraçá-la, a sensação do toque de sua pele e seus cabelos em meu corpo era confortante demais e, há tempos que eu não a via.
- O que foi meu filho? Parece até que você viu um fantasma. Por que tantos abraços? - disse ela enquanto abria um imenso sorriso em seus lábios e bagunçava meu cabelo com seu doce cafuné.
Da minha boca não saía uma palavra se quer, eu não conseguia, meus braços se arrepiaram de uma forma rara e um forte frio tomou conta do ambiente e principalmente da minha nuca, respirei fundo buscando estabilidade em minhas palavras e disse:
- Não a vejo desde o ano passado, mãe. Você me deixou tão de repente, mal vem me ver, você sabe que sinto sua falta... - falei aquilo soluçando e tentando conter minhas lágrimas que molhavam meu rosto.
- Escute filho, sei que conheceu uma pessoa ontem, quero que saiba que ela é muito especial, não seja tolo de deixar uma garota daquelas ir embora ainda mais por um motivo tão banal quanto este. - disse ela enquanto afugentava meus medos e fazia com que seus dedos cruzassem meu cabelo.
Nesse momento eu já estava aos prantos, quase não conseguia me manter de pé. Minha tentativa de me conter foi em vão, eu só conseguia abraçá-la forte, não queria a ver partir novamente.
- A senhora poderia ficar mais desta vez,não acha?
- Perdoe-me garoto, já deu a minha hora, você sabe que não posso fazer isso...
Aquelas palavras saíram de sua boca de forma melancólica e destrutiva, como uma sirene, tocando durante uma sangrenta guerra. Eu a vi sem conseguir esconder seu desapontamento. Por que tão triste mãe? Não sabe que no fundo ninguém é tão forte quanto parece. Então ela sorriu.
- Ensinei bem a você no curto tempo que tive. -ao falar isso, me deu um beijo na testa e me levou até a minha cama.
- Deite aqui, já não posso te fazer tantas visitas, muito menos te guiar por esse mundo repleto de escuridão, e isso me chateia demais, quase quanto o fato de não saber se te verei novamente, mas peço que trilhe o caminho para a sua felicidade acima de tudo, você sabe o caminho para lá. Agora, por favor, feche teus olhos, não esqueça que sempre estarei acompanhando sua jornada, sei que me trará grande orgulho. Amo-te filho.
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As Cores Do Inverno
RomanceEsse livro conta a história de um Personagem muito misterioso, talvez, paranóico ou simplesmente louco, é difícil de decidir, mas acima de tudo é um rapaz apaixonado. Chamam me de X, sabe o motivo? O desconhecido me atrai como um ímã atrai uma porçã...