A Prostituta

VII

Pov Camila

Acordo confusa, tudo estava girando, mas ainda reconhecia os lençóis macios da Cama de Lauren. Meu estômago revira, ah merda, aqui não. Deslizo pra fora da cama sem saber ao certo ainda onde eu estava, mas uma mão me segura pela cintura e me puxa de volta pra cama, num abraço confortável.

-Onde pensa que vai? -Lauren perguntou

-Banheiro... -Eu disse tentando segurar a vontade de vomitar, Lauren percebeu pela minha voz e me soltou pra que eu fosse, corri em direção ao vaso e vomitei, como odiava vomitar. Sinto a mão de Lauren segurar meu cabelo longe da bagunça, e só sei sentir uma vergonha imensa por ela me ver nesse estado.

Termino e já sinto um alívio imediato no estômago que antes revirava, fechei a tampa do vaso e me sentei nele, ainda estava muito tinta. Lauren se agachou na minha frente, tirando fios de cabelo do meu rosto num carinho delicado.

-Melhor? -Ela perguntou e eu fiz que sim com a cabeça. -Precisa de remédio?

-Talvez pra dor de cabeça. -Eu disse

-Vou buscar. -Lauren disse se levantando e saindo do banheiro.
Fui até seu gabinete procurando pela escova de dentes que eu tinha usado na última vez, e pensei que era uma ideia idiota, já que ela devia só ter me dado uma descartável. Mas pra minha surpresa realmente estava lá em seu armário, organizada com as outras. É algo tão idiota, mas me fez ficar feliz. Ela guardou porque queria que eu voltasse, porque sabia que eu ia voltar.

Escovei meus dentes a tempo de terminar no mesmo momento que Lauren chegou com um remédio e uma garrafa de água.

-Trouxe pra você beber também durante a noite, senão amanhã você vai acordar mal de qualquer jeito. -Ela disse me entregando os dois, então eu engoli o comprimido seguido pela água.

-Desculpa por essa situação...

-Não se desculpe! Eu que tenho que pedir desculpas, acho que nunca cuidei de ninguém na vida antes, devo ser péssima... -Ela disse

-É perfeita. -Eu disse e ela sorriu, sorriso tão raro de se ver. E era o mais lindo que já vi.- Por que me beijou ontem a noite?

-Você ainda pergunta, Camila? -Ela disse num tom irônico tão suave que não tinha como se ofender.

-Então, por que não fez isso antes?

-Vamos dormir? Amanhã conversamos. -Ela disse me puxando pela mão de volta para o quarto, se deitou primeiro e me abraçou apertado em seu peito. E assim eu dormi novamente, e não me importaria de dormir assim todo dia.

Dessa vez acordo antes de Lauren, ela estava deitada de bruços com o rosto virado pro outro lado, tive uma enorme vontade de abraçar seu corpo que era tão quente e confortável, mas preferi deixá-la dormir, devia estar cansada. Ainda vestia a mesma regata preta e o shorts cinza de ontem a noite. A cobri direito pois estava frio.

Fui pro seu banheiro e tomei um banho quente rápido, lavei meus cabelos e os deixei na toalha como o de costume. Não achei minhas roupas em nenhum lugar, então fui até seu closet. E depois de muito procurar, achei as gavetas de seus moletons e suas camisetas que estavam perfeitamente dobradas e organizadas por temas. Peguei uma do Star Wars e ri por não conseguir imaginar Jauregui em uma dessas. Peguei uma calça de moletom e uma blusa que parecia ser conjunto da mesma, era tudo muito confortável.

Quando saí, Lauren ainda dormia na mesma posição, resolvi sair pra explorar sua grande casa. Como estava muito frio, nem tentei ir pro lado de fora, embora seus jardins fossem tentadores. A casa era vazia e quieta demais pra o que eu estava acostumada. Acabei achando uma sala de jogos e filmes, e foi ali mesmo que eu fiquei, distraída com alguns jogos.

Acho que levou quase uma hora pra que Lauren fosse até mim, abriu a porta e ficou encostada ali mesmo, com um riso no rosto.

-Estou encrencada? -Perguntei

-De forma alguma. Fico feliz que esteja se sentindo em casa.

-Eu sempre quis ter um videogame... Sofi também. -Eu disse.

-Sofi é sua irmãzinha, não? -Ela disse se sentando ao meu lado no enorme sofá-cama.

-Sim...

-Camila, por que não deixa aquele lugar? Por que não procura sua família?

-Não é fácil assim... Aquela gente é criminosa. Eles fizeram coisas terríveis com uma das minhas colegas de quarto.

-E porque vocês não se juntam e denunciam?

-Porque nem todo mundo ali quer isso, a maioria não tem mais pra onde ir, aquele lugar, aquele emprego, é tudo o que elas têm.

-Mas você está lá por pressão, por ameaça. E aposto que várias outras também.

-É, e pra onde eu vou, Lauren? Minha mãe não deve mais nem querer olhar na minha cara.

-Você não sabe se isso é mesmo verdade. E você tem a mim agora... Camila eu não quero mais me separar de você e saber que você é obrigada a transar com outras pessoas toda noite.

-Eu não posso fugir, nunca conseguiria. Não sei o que fazer!

-Eu sei.

-O que?

-Confie em mim. Vamos almoçar, preciso te levar de volta.

-O que você está planejando, Lauren? -Perguntei.

Ela não respondeu nenhuma pergunta minha sobre, fiquei com medo do que ela tinha em mente. Se meter com gente daquela laia era perigoso, só me resta esperar e fazer o que ela mesma pediu: confiar.