Capítulo único

2K 261 85
                                    

— Então… — comecei a dizer, fixando meu olhar em Aziraphale, cansado do silêncio que havia se estabelecido entre nós. — Já descobriu algo de útil nessas velharias, meu anjo?

O anjo, sentado de pernas cruzadas a minha frente, balançou a cabeça negativamente e suspirou fechando com delicadeza o livro velho em suas mãos.

— Tenha paciência, Crowley — pediu, com um tom de voz gentil, enquanto coloca o livro no topo da pequena pilha de livros do lado esquerdo de seu corpo.

Aziraphale pegou outro livro, da pilha do lado direito de seu corpo, e antes de iniciar a leitura olhou para mim e sorriu como se estivesse reforçando o pedido que acabou de fazer. Concordei com a cabeça, vendo-o iniciar sua nova leitura. Já que é impossível para mim negar qualquer coisa que Aziraphale me peça sorrindo, terei que ser paciente até que ele termine sua pesquisa.

Se fossem em outras circunstâncias, eu não me importaria de passar horas admirando-o enquanto desfruta de uma boa leitura. Durante suas leituras rotineiras, o rosto de Aziraphale assume as expressões mais variadas, é um verdadeiro deleite poder apreciar cada uma delas. Só que no momento, devido a situação em que estamos, a única coisa que vejo estampada em seu rosto é sua preocupação latente.

Estamos correndo contra o tempo, para encontrarmos o anticristo perdido, antes que o Armagedom se inicie. Aziraphale está estudando antigas profecias sobre o fim dos tempos, pois tem esperança que em alguma delas encontrará alguma pista para encontrarmos o anticristo o mais rápido possível.

— Hm… não é isso — o anjo murmurou consigo mesmo, deixando o mais um livro de profecias de lado para iniciar outro.

O final dos tempos havia sido profetizado há centenas de anos atrás, por isso, Aziraphale concluiu que talvez houvesse alguma profecia que pudesse lhes guiar até a localização do anticristo. Claro que odiei a ideia, mas não consegui impedir que ele tentasse, afinal ele estava tão animado enquanto procurava todos os livros proféticos que havia reunido ao longo dos séculos.

Mesmo que ele não encontre nada em seus livros, teremos que arrumar outro jeito de encontrar o moleque antes que seja tarde demais. Não quero participar de uma guerra idiota, para decidir qual lado é o melhor, nem quero que Aziraphale participe de algo assim. A última coisa que eu quero, é que sua personalidade gentil e amável seja destruída pela guerra. Eu nem sei se ele sobreviveria a algo assim, considerando que ele nunca matou ninguém em toda sua vida. No pior dos cenários, acabaremos nos encontrando no campo de batalha, e eu juro por Satã que prefiro ser dissolvido com água benta do que ser obrigado a feri-lo.

— Não encontrei nada, Crowley — Aziraphale anunciou, fechando o livro em suas mãos um pouco de força, deixando seu descontentamento evidentemente.

Levantei-me, ajeitando minhas vestes, olhando para todos os livros ao nosso entorno. Mesmo que eu não ligue nem um pouco para livros, gosto bastante daqui e quando tudo isso acabar é para cá que eu quero retornar ao lado do meu anjo.

— Vamos para o carro — falei, fazendo um gesto para que ele se levante rápido, já tendo uma vaga ideia de qual pode ser nosso próximo passo. — Não é parados aqui que iremos impedir o grande plano do todo poderoso.

Aziraphale franziu a testa no momento em que eu conclui a frase, e nem mesmo assim ele conseguiu tornar-se menos fofo.

— Não acho que o fim do mundo faça parte do grande plano inefável de Deus — disse, com convicção, sorrindo para mim. — Mas, quem sabe, impedi-lo seja.

Revirei os olhos, detesto quando ele menciona o plano inefável de Deus. Pra mim, a única coisa inefável neste mundo é a beleza e a fofura do anjo à minha frente.

— Certo, então vamos salvar o mundo — sorri, colocando meus óculos escuros, saindo da livraria junto ao belo anjo de olhos azuis.

— Podemos comprar crepes no caminho? — Aziraphale questionou, enquanto tranca as portas de seu precioso lar.

Nos conhecemos há seis mil anos, é claro que eu não me surpreendi nem um pouco com seu pedido, considerando o grande amor que o anjo tem por doces.

— Claro que sim — respondi, abrindo a porta do carro para que ele entre. — Meu anjo.

Fechei a porta no momento em que Aziraphale já havia se acomodado em seu assento. Dei a volta no carro, para entrar e começar a dirigir ao nosso próximo destino. Temos pouco tempo, mas sei que iremos dar um jeito de deter o Armagedom e poderei continuar ao lado do meu amado anjo enquanto estivermos vivos.

Meu AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora