Mikhail, o ômega

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— Eu não acredito que você está me pedindo isso! — Não queria ter gritado, não fazia do seu feitio falar alto enquanto estava caminho na calçada. Sempre reclamara daqueles caras que parecem alheios as pessoas a sua volta, com seus smartphones ou auriculares bluetooths, falando pelos cotovelos. Aliás, aqueles que usavam os bluetooths eram os piores, pois de início você pode até pensar que eles estão falando sozinhos, sinais de esquizofrenia ou mediunidade, o que causa uma grande confusão mental até descobrir que eles estavam sim se comunicando com pessoas vivas e encarnadas. Sim, se prometera a não fazer esse tipo de cena, mas ali estava ele fazendo justamente isso.

— Micha... — Agora seu pai utilizando o diminutivo de seu nome: Mikhail. Uma tática muito baixa por recorrer ao emocional.

— Você tem ideia do que está me pedindo?

— Só que volte para casa.

— Fala isso como tivesse abandonado vocês! Eu falo com vocês todos os dias! Fazemos até chamadas de vídeo. Esqueceram das visitas que vocês me fizeram?

— Micha, não estou te acusando de estar negligenciando seus pais nem nada. Só que desde que você começou a fazer faculdade aí na capital, sequer visitou sua cidade natal. Existe algum problema por não quere visitar a casa aonde nasceste?

Mikhail soltou um suspiro, massageou o espaço entre as sobrancelhas. Não era a primeira vez que seus pais insinuavam a sua clara aversão ao retorno as suas origens. Claro, que agora não se tratava de uma insinuação por meio de indiretas e mensagem subliminar.

— Pai, aqui na capital tudo é tão diferente...Digo, você mesmo viu. — Tentou contornar a situação. Obvio que Zvezda, a capital do seu país, apresentava muitas vantagens comparada a cidade interiorana da qual procedera. Principalmente em relação a uma coisa que sempre foi desejado por Mikhail: liberdade ômega. Na cidade grande, havia vários ômegas, betas e alfas vivendo juntos em certa harmonia. O mercado de trabalho que requisitava mão-de-obra não se importava muito com o seu perfil fisiológico-social de ser. Só queriam saber se você era um empregado eficiente e daria produção! Isso meio que diluía o preconceito e normas sociais atreladas ao sistema ABO (Alfa-Beta-Ômega) que seria a base da estrutura da sociedade em seu mundo.

Não era ingênuo o suficiente em pensar que não havia ainda diferenças de tratamento. Alfas ainda eram chefes, gerentes ou líderes. Betas os perfeitos funcionários medianos subalternos. E os ômegas? Normalmente era o cara responsável por comprar café para todos e distribuir donuts açucarados com um sorriso no rosto...Mas era diferente do destino de um ômega do interior que consistia de um único caminho: casamento.

— Filho, sabemos que você meio que está vislumbrado com os prazeres da capital...

— Pai...

— Deixa-me terminar, ok? Entendo que você deseje viver a sua vida. Na verdade, nos orgulhamos do que você foi capaz de alcançar!

— Er...Obrigado. — Não que Mikhail tenha alcançado grandes coisas, tinha o emprego de meio período como barista, enquanto se arrasta no curso preparatório para entrar na faculdade. Tinha passado em uma faculdade exclusiva para Ômegas, mas abandonara o curso logo no primeiro semestre por não concordar que aprender a costurar e cozinhar fossem realmente matérias obrigatórias para uma graduação! (não contara aos seus pais o abandono do curso ainda!). Tentava adentrar em uma faculdade aberta, destinada para todos os tipos, seja Alfa, Beta ou Ômega, contudo a concorrência era absurda! De fato, não havia muito o que comemorar...

— Então, por que não permitir uma regalia aos seus velhos pais? Hein? Uma forma de compensar pelos anos que passamos te criando e incentivando! Pense nisso como um presente de Natal antecipado.

Exame OmegaOnde histórias criam vida. Descubra agora