Eu voltei por você

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"Esperar é tão importante quanto respirar" era o que repetia toda vez que decidia desistir de se manter acordada, precisava ter esperanças, ela sim deve ser a última a morrer.

Todos os músculos de seu corpo doíam, Cosima não sentia mais seus braços, suas pernas e quadril, seus olhos estavam prestes a se fechar quando ouviu os primeiros tiros. Aquilo foi suficiente para seu corpo se encher de energia. Cosima tentou novamente em vão sair das amarras, chorou como uma criança que perde seu brinquedo favorito, sua garganta doía enquanto gritava em desespero. Não era mais a dor física que a incomodava, ela estava aterrorizada com a possibilidade daquelas tiros terem matado Charlotte, Jane e Max; três crianças inocentes na mão de uma pessoa surtada.

"Maldita esperança" Cosima tentava gritar, mesmo a mordaça úmida de saliva e sangue a atrapalhando, sua garganta rasgava por dentro e por fora e ela gritava com todas as forças que restavam. "Passarinha", o rosto da menina invadia seus pensamentos, Cosima havia falhado tantas vezes com ela que não conseguia contar.

O tempo parecia brincar com ela, esperava que sua vez chegasse, que Adele voltasse e apontasse uma arma para sua cabeça e apertasse o gatilho. Diferente do que Beth havia dito, Cosima estava sem esperanças, não havia mais o que esperar. Vários minutos se passaram depois que os barulhos de tiros cessaram, minutos que pareciam horas sem ninguém aparecer e que faziam a sua agonia aumentar.

As vozes ao longe chamaram sua atenção, Cosima espremeu os olhos para ver as luzes das lanternas que clareavam o caminho e iluminavam a mata adjacente à trilha. As luzes vinham em sua direção, eram mais pontos de luz que podia contar. Vozes desesperadas chamavam seu nome, mas Cosima não podia responder, mal tinha forças para manter os olhos abertos.

一 Ela está aqui. 一 Alguém gritou, fazendo com que as pálpebras de Cosima se abrissem lentamente, ela não reconheceu a voz do homem que se aproximava correndo, seria um dos homens de Adele? 一 Cosima Niehaus? 一 Ele perguntou, mas Cosima não conseguiu mexer um músculo. 一 Está tudo bem, você está a salvo.

Ela estava? O que havia acontecido? Cosima abriu os olhos e tentou focar no homem, mais luzes se aproximavam, mais passos eram ouvidos, mais gente falando alto.

一 Cosima, Cosima!

Aquela voz chamou a sua atenção, o cheiro da umidade da mata foi substituído pelo odor da primavera trazida junto com ela. Cosima respirou fundo, queria ter certeza de que sua primavera estava ali, de que as flores poderiam florescer sem medo, de que ela pudesse sentir um alívio em seu peito por tê-la novamente por perto. Talvez aquele fosse outro sonho, talvez estivesse na hora de Cosima partir e o que ela mais desejava era vê-la uma última vez.

Sua primavera, sua Delphine.

一 Cosima, meu amor. 一 Delphine tocou seu rosto, tirou a mordaça de sua boca, limpou a sua pele delicadamente. 一 Uma faca! Uma faca, alguém corte essas cordas, pelo amor de Deus. 一 Ela disse alto, sua voz beirando o desespero.

一 Del...一 Cosima tentou falar, sabia que não era mais um sonho quando sua voz rouca foi cortada pela dor que sentia na garganta ao tentar pronunciar qualquer coisa e seus lábios machucados se racharam formando pequenas linhas de sangue, os borrões a sua frente tomaram forma vagarosamente, mas ela conseguiu vê-la, Delphine estava lá a luz contornava seus cabelos, parecia um anjo, seu rosto pálido, seu nariz avermelhado, provavelmente por ter chorado.

一 Estou aqui Cosima, está tudo bem... 一 Delphine deu vários beijos em seu rosto e a abraçou enquanto um homem tentava desfazer os nós das cordas para libertar Cosima 一 Estou aqui...

一 M.. me p-per-doe 一 Cosima tentou novamente falar, sua voz fraca e doída, a culpa lhe matando por dentro, será que Delphine não sabia?

一 Cosima...

Galaxy of women (cophine)Onde histórias criam vida. Descubra agora