último

222 37 23
                                    

O metrô associava-se a um buraco no meio da terra, sem fim, assustador e por onde passava seu enorme morador: o trem.

Era desse jeito esquisito que Sana via o túnel; repleto de luzes e aspecto sinistro. Não gostava de ir lá, mas precisava. Descer lugares e permanecer abaixo do chão não é seu forte. Tinha extremo medo de morrer enterrada. Não sabia da onde tinha começado isso, as paranóias de que seu destino estava celado daquele forma cruel, mas elas existiam. Seu ego murcho pelas catástrofes imaginárias.

Precisava de luz do sol, queria respirar. Inspirou fundo, e deu o último passo rumo ao subterrâneo.

O metrô continuava cheio, em costume, pessoas pegando o caminho rumo seus planos para o dia. Teria alguém a mais ali que estivesse perdido, ou que não gostasse do nível abaixo do normal? Sana pôs uma mecha atrás da orelha, procurando com o olhar alguém com quem se identificasse. Alguém com quem pudesse depositar suas esperanças, só até seu trem chegar – isto, se ela tinha um trem para pegar.

Não precisou caminhar muito até encontrá-la, bem como Jihyo a amaldiçoara. "Você encontrará o amor da sua vida um dia."

Obviamente seria burrice chamar a garota do incidente da camiseta como seu "amor". Mas Sana tinha medo dessa previsão, tal como tinha do metrô. Duas coisas que não contrastavam com sua personalidade, clara e aberta. O amor era um jogo, Sana não curtia jogos. Mas chamava todos de amor, assim que cruzassem seu caminho. Seria esse o motivo para tantas desilusões amorosas?

Ela precisaria ir até ela?

Aproximou-se devagar, sentando-se no mesmo banco, uma certa distância as separando. Olhou de soslaio para a garota pirada, virando o olhar de volta para longe. Não conseguia acreditar, passara tanto tempo negando-se e afastando o pensamento da garota, que agora, mal chegando próxima dela sentia seu corpo fraquejar. Agora, olhando bem, ela era bonita. Bem bonita.

Sana estremeceu. A garota fixava seu olhar no infinito do mistério, dentro de sua cabeça. O que se passaria com ela? Não estava feliz. Triste? É, triste.

Sana estava certa. Muitas coisas aconteciam dentro da cabeça de Dahyun. Onde teria enfiado a cabeça? Um momento de emoção. Pediu demissão? Está louca. Como arranjaria comida para casa? Ela era campeã? Estava certa? Devia ter aguentado até o fim. Até tudo acabar. Para quê? Um desperdício trabalhista e de vida. Sofrer pelos outros, por seu desejo consumista e capitalista gritante... Maldito seja a cultura pop.

— Com licença...? — Alguém a chamou ao lado, e levou um susto ao reconhecê-la. Seu coração palpitou. O olhar inocente da loira do dia anterior, estampado na sua frente. Quer ela deseje ou não, outra coisa que precisava resolver. Agora.

Ficaram se encarando, até Dahyun assustar-se novamente com o barulho do trem. Quantos faltavam até sua estação? Dois? Perdera as contas. Desta vez, a culpa era da loira.

— Desculpe. — Após um silêncio constrangedor, Dahyun se pronunciou. Não imaginou as palavras. Elas saíram sozinhas. — Por ter te empurrado.

A loira agradeceu com a cabeça, com um aceno leve. Dahyun quase babou. "Tão delicadinha..." Suspirou. Sana fez o mesmo. Não acreditava na tamanha fofura vinda daquele ser tão surtadinho assim. Todas as pessoas loucas por música eram assim? Ela precisava se relacionar com gente assim mais vezes.

A curiosidade entre as duas só aumentava, esperando qual seria a próxima a falar, e quebrar a parede que se formava entre ambas. Uma parede desconfortável, mas doce de se ver.

— Você... Gosta muito daquela... Banda? — Sana questionou devagar, com medo de errar. Não precisava. Errar é humano, e Sana é humana.

A outra assentiu, não resistindo um sorrisinho, cujo fez o coraçãozinho de Sana saltar dentro do peito. Tão lindinho...

— Não queria ter agido daquela forma. — Continuou. — Fui fria, mas também, não pensei que alguém ainda gosfava daquele tipo de coisa... — Levantou as mãos. — Nada contra. Aqui quem menos sabe sou eu.

— Como assim, menos sabe?

Sana soltou os ombros.

— Não tenho tanto conhecimento sobre música... Não me chama tanta atenção assim. — Dahyun assentiu, surpreendendo a japonesa. — Eu não me relaciono muito com a moda ou a cultura da juventude. Gosto de me sentir desapegada... E gostar do que eu gostar, sem cair no penhasco. É mais aventureiro olhar de cima do que se deixar levar.

— Sou assim às vezes. — Dahyun riu, fixando o olhar no topo do metrô. Quantos trens já se passaram mesmo? — Todos temos isso, não se preocupe.

— Em admirar de longe? — Sana deixou a cabeça caída de lado, uma expressão fofa pender seu rosto. "O amor é um jogo divertido", pensou. — Chega a irritar um pouco.

Dahyun mordeu os lábios, pensativa. Na verdade, ela não entendia nenhum pouco a loira. Como alguém conseguia se apaixonar por algo sem ter interesse real nela? Não encontrava o amor? Não sentia a falta de algo a mais? Preencher o vazio incondicional de nosso interior. Compensava em fatos matemáticos e curiosidades do mundo que lia das revistas. Adquirir conhecimento é igual alimento para a alma, assim como lembranças e ouvir música. Talvez a garota loira não tenha achado isso ainda. Aí, está a resposta.

— Qual o seu nome? — Avançou a loira.

— Dahyun, e o teu?

— Sana. — Deu um sorrisinho. Dahyun, mais do que teve prazer, quis guardar aquela visão consigo.

— Você nunca escutou uma música do Queen, de verdade? — A japonesa negou com a cabeça. Dahyun arqueou as sobrancelhas. Depois parou. Poderiam esperá-la? Não tinha ninguém mais quem a esperasse. Somente Sana e sua avó. Voltava em casa a tempo. Sana é sua prioridade agora, de acordo com seu coração. — Você quer escutar?

Sana nunca tinha sentido algo parecido na vida. Apenas a euforia de seu corpo entregar-se na tremederia, o frio na barriga quando tocou a mão de Dahyun, e os sentidos desligados a cada passo que davam fora daquele metrô assustador. "Adeus, escuridão!" Comemorava ela.

— Onde estamos indo? — Questionou.

Dahyun parou de arrastá-la. Fitou-a fundo nos olhos, transparecendo que tinha visto na primeira vez com Sana: tranquilidade e inocência. Foi o suficiente para a japonesa.

Caminharam até uma biblioteca específica, e após uma democracia interna, conseguiram ir até a área de discos e música. Dahyun pegou uma fita cassete, entregou os fones à Sana, e segurando sua mão novamente, garantiu:

— Está música você vai adorar.

E nos primeiros acordes, Sana sentia cair no abismo pela primeira vez. E acompanhada por alguém experiente, sem medo de acabar conhecendo o amor.

vitrine de uma rainha ☆ twiceOnde histórias criam vida. Descubra agora