Celeste

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A tia havia lhe arranjado aquele emprego de babá assim que chegou do Nordeste. Duas crianças, uma de cinco e outra de dois aninhos. Poderia dormir no trabalho, o que seria muito bom pois a casa da tia era distante, minúscula e cheia de gente.

- Mas será que eles vão me querer assim?! - Celeste disse, apontando para a barriga que ainda não dava sinais da gravidez.

- Não conta nada ainda. Você nem sabe se vai dar certo. E vai juntando seu dinheirinho. Se falar agora, nem vão te querer. - A tia deu um longo suspiro - Depois... bom, aí vai aparecer mesmo... paciência! 

E assim Celeste foi. Era uma casa aconchegante. Nem grande e nem pequena. Viviam ali o casal, que trabalhavam o dia todo, a mãe da mulher e as duas crianças. Uma família unida, divertida e boa. Celeste teve vontade de contar logo, mas os conselhos da tia ficaram martelando sua ideia. 

O casal saía cedo e voltava à tardinha.Dona Alzira, a avó das crianças adorava cozinhar e fazia deliciosos quitutes sob encomenda para a vizinhança. Celeste cuidava dos dois pela manhã e levava a mais velha na escola de pois do almoço. Quando o bebê dormia à tarde, sempre ajudava um pouquinho a dona Alzira na cozinha, montando salgadinhos e docinhos. Era um trabalho bom, uma família boa e Celeste sentia-se quase feliz.

No início não foi difícil esconder a gravidez, magra do jeito que era. Mas, aos poucos, conforme a barriga crescia e os quadris se alargavam, Celeste começou a ter medo. Aquela casa não era como a primeira onde havia trabalhado. Aquela que havia lhe levado a alegria e a honra. Já fazia mais de um ano desde o dia em que o pai, agricultor pobre do sertão, havia lhe entregue àquela família rica da cidade. Tinha esperanças de que a filha conseguisse estudar para ter um futuro melhor. A mãe sonhava com a filha professora. Depois, com tantas bocas para alimentar, uma a menos...

Celeste sentiu muita falta dos irmão, principalmente do Zequinha, o menor, ainda bebê, que ela ajudava a criar enquanto a mãe ia pra feira vender o que conseguiam cultivar no pequeno pedaço de terra seca que cultivavam com dificuldade.

Na cidade grande, Celeste ficou impressionada com a casa do advogado onde trabalhava. Havia muita comida na geladeira, muitos quartos e todos tinham muitas coisas e roupas e sapatos. Celeste trabalhava bastante, o dia todo. A promessa de estudar foi logo esquecida. "Só no ano que vem. Agora não tem vaga!" Dona Célia lhe disse logo assim que chegaram. Celeste ia visitar a família uma vez por mês. 



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⏰ Last updated: Jul 20, 2019 ⏰

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