Rosa ouvia o barulho de vozes que pareciam vir de muito longe, mas não se moveu da cama. Depois, a porta se abriu devagar e a claridade incomodou um pouco seus olhos. Levantou a cabeça e viu os vultos de Beto e da moça trazida pela sogra na noite anterior.
- Esse é o nosso quarto. - Ele disse baixinho. - Bem... mais tarde você tenta arrumar.
- Beto?
- Oi, amor. Já deve estar quase na hora de tomar o remédio. Fiz café. Vamos levantar?
- Que horas são?
- Quase 8. Daqui a pouco tenho que sair. Estou atrasado. A Ana vai ficar aqui com você.
- Tá...
- Vou trazer seu café da manhã.
- Tá...
Os dois foram saindo de mansinho, encostando de leve a porta. Rosa continuou ouvindo as vozes distante. De repente, pareceu ouvir o som de uma risada. Será!?
Pouco tempo depois, Beto retornou com uma bandeja e ajudou-a a se sentar. Ele levava à boca da mulher a xícara de café. Depois fez com que ela tomasse um gole do suco de laranja, comesse um pedaço de banana e provasse um pão de queijo. Beto estava se esforçando, trazendo tudo o que ela mais gostava de comer pela manhã. Alimentou-se melhor do que esperava. Então, ele se despediu e levou a bandeja para a cozinha.
- Estou indo, amor. A Ana está aí pra te ajudar no que precisar.
- É só chamar, tá? - Ouviu a voz bonita e doce falar por trás da porta. - Eu escuto bem!
Rosa esperou ainda mais um pouco na cama, até que o alarme do celular anunciasse a hora do remédio. Alguns minutos depois, Ana entrou de mansinho no quarto, com um copo de água fresca que Rosa aceitou, obediente.
- A senhora não gostaria de se levantar e tomar um banho? Posso ajudar, se quiser. Um banho sempre anima a gente, minha mãe costuma dizer.
- É, acho que um banho seria uma boa ideia. - Rosa passou a mão pelos cabelos desalinhados. - Devo estar horrível.
- Que nada! Um pouquinho amassada está, é claro. Quem não acorda assim? Só na televisão que as mulheres acordam lindas.
- Verdade... - Rosa comentou, achando divertido aquele comentário sincero e ao mesmo tempo encorajador. - Só lá mesmo...
Depois do banho , Rosa foi até a cozinha e Ana pediu algumas orientações sobre a organização da casa. Ficou fazendo perguntas e tentando distraí-la o máximo de tempo possível fora do quarto. Quando Rosa fez menção de voltar para a cama, Ana procurou desencorajá-la.
- Eu gostaria de arrumar seu quarto primeiro. Mas, olhe, seu marido preparou a varanda para a senhora ficar e tomar um pouquinho de sol. Eu, se fosse a senhora, ia lá pra fora porque está um pouco pálida. Daqui a pouco vai parecer a parede da cozinha...
Rosa não pode evitar o sorriso. Ana era bem humorada. Melhor assim.
Sentada na espreguiçadeira e olhando a paisagem da sua varanda, Rosa ouvia a voz bonita da moça, cantarolando uma música animada. Percebeu que as montanhas no horizonte pareciam bem verdes e o dia até que estava bonito.
