Capítulo 7

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Ninguém lembrou, ou mesmo soube, mas Edward completou dezoito anos no dia em que o irmão venceu o primeiro torneio importante de remo.

Sentia que tinha tão pouca importância o pobre Edward. Que tudo para eles era o Edgar, o campeão. O futuro medalhista olímpico. E quem era o primeiro filho? Um empregado? O monstro que pesava em suas costas e que tentavam ocultar na escuridão de seus medos e vaidades?

Edward Mordrake sempre estava carente dos pais. E já nem mesmo sabia como lhes chamar a atenção. Nem mesmo o seu esplêndido talento ao piano os impressionava naquela altura.

E sua solidão lhe assolava cada vez mais, corroía sua alma pouco a pouco, em uma tortura sem promessa de fim.

Aquele dia lhe tinha um ar fúnebre, como se houvesse um cadáver deitado em um caixão no meio da sala. As notas musicais soavam muitas vezes como lamentos e doíam em seus ouvidos.

A sua volta os outros conversavam e riam. Não se preocupavam com ele, não tentavam entende-lo, não se importavam se seus olhos estavam inchados e vermelhos, se estava muito calado. Não se importavam com a sua dor.

Naquele dia, os risos e as conversas ecoavam em seus ouvidos, traziam consigo não somente a tristeza mas também a revolta. Por que ainda o tratavam como um estranho? Por que tinha que ser daquele jeito? Eles eram seus pais; tudo o que ele tinha, e era assim que agiam, quando deveriam cuidar dele. Isso o fez querer gritar bem alto, como um urro de dor e ao mesmo de raiva.

Até quando viveria daquele jeito?

Dezoito anos perdidos; dezoito anos inúteis e sem sentido.

Era tempo demais para ficar parado vendo a vida passar. Mas o que Edward podia fazer? Se nem mesmo a sua única esperança de viver a vida de forma quase normal, estava mais lá.

Nos últimos três anos, levou músicas, poemas e flores para Emma. Mas fazia mais de um mês que ela havia sumido. Pelo que soube Edward, ela fora estudar em algum lugar próximo a casa dos avós. Quando voltaria? Ele não fazia ideia. Talvez nunca.

Isso acabou com ele. Sua tristeza chegou a um nível arrasador. Tanto sonhou com o dia em que se revelaria para ela e os dois finalmente ficariam juntos e com o tempo formariam uma família, uma família muito melhor do que a que ele tinha. Mas agora ela foi embora levando suas esperanças. E ele sentia que a culpa era em partes dele.

Emma sempre o respeitou. Nunca tentou saber de forma muito forçada quem era o seu admirador secreto. Mas ficou muitas vezes curiosa o esperando passar os bilhetes por baixo da porta. A sombra dos seus pés era tudo o que ela via dele. Mas tentou; perguntou várias vezes detalhes sobre ele através de bilhetinhos. Mas Edward nunca teve coragem, nunca se achou preparado. Com o passar dos anos ela cansou dele, mas não revelou. Ela também já tinha dezoito anos. Não queria mais ficar trocando poemas por baixo de uma porta. Não era mais adolescente para isso. E sem que ela dissesse, Edward sabia disso.

Era hora de ter uma vida. Mas Edward foi incapaz de dar o primeiro passo, e por isso foi deixado para trás.

Sem Emma e sem uma família que se importasse com ele, que esperança poderia ter para encarar a vida? Passaria o resto dos seus dias naquele tormento? Vivendo daquela forma?

Como isso doía, como isso o sufocava e lhe deixava a beira do desespero. Achou que se ao menos houvesse um botão para se desligar... tornaria tudo tão fácil. Acabaria de vez com o seu sofrimento.

Ao pensar nisso, ele sacudiu a cabeça para afastar o pensamento. Aquele não era caminho certo. Devia haver outra opção para solucionar os seus problemas.

Isso é verdade. Sempre há uma solução por mais que nos piores momentos o sofrimento não deixe que se perceba. Com um pouco de fé e força tudo se resolve.

A Face do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora