Doce Perigo

Desaparecimento

― Cheguei – Dominic anunciou assim que abriu a porta da casa com um sorriso largo no rosto antes de olhar em volta, surpreendendo-se ao se deparar com Cassandra adormecida no sofá. Suas mãos apoiavam sua cabeça lhe dando um pueril e indefeso. Aproximou-se lentamente assim como um animal selvagem faria ao encontrar a sua presa, abaixou-se, observando-a atentamente. Estendeu sua mão, tocando em seu cabelo, enrolando uma mecha em seu dedo, cuidadosamente. A cada segundo que ele mantinha o seu olhar nela, divertia-se diante de suas reações e suas duvidas, contudo indagava-se quando ela voltaria a ser carinhosa com ele. – Espero que seja logo – Murmurou ao se recordar do toque cálido de sua mão contra o seu rosto e de sua expressão delicada. Ele queria reviver aqueles momentos mais uma vez.

Afinal foi por isso que a trouxe até aqui. Sorriu diante de seu próprio pensamento antes de levantar-se e seguir para o seu quarto. Em poucas horas, o seu turno iria começar no hospital, e Dominic tinha certeza que seria divertido.

***
Cassandra abriu seus olhos incerta sobre o local onde estava até o momento em que as lembranças do hospital surgiram em sua mente, como um flash. Fez uma careta no segundo seguinte ao fechar os olhos por mais alguns segundos, tempo suficiente para que sentisse suas costas doerem, e sua boca seca. Levantou-se sentindo sua cabeça latejar, fazendo uma careta ao levar a sua mão até sua têmpora.

― Será que tem algum remédio aqui? – Perguntou-se ao estreitar o olhar, dando-se conta que não tinha nada fora do lugar, apenas ela adormecida no sofá. – Ele não voltou para casa ontem? – Caminhou até o quarto encontrando a cama completamente arrumada, e se não fosse pela blusa dobrada próxima ao travesseiro. – Por que ele me deixou dormir no sofá?

Avaliou as alternativas, incerta sobre como deveria se comportar com ele ou como deveria interpretar a ausência de compaixão com uma mulher que havia acabado de sair do hospital.

― Ele pode ser apenas desligado – Deu de ombros ao ir para a cozinha. Abriu a geladeira permanecendo parada sem saber o que fazer em seguida. – O que eu gosto de comer? O que eu como no café da manhã? – Questões cotidianas como aquela a faziam se sentir perdida e desesperada. – Por alguma razão sinto mais medo do que desespero por ter esquecido tudo.

***
Um largo sorriso estampou o semblante atrativo de Dominic assim que parou em frente ao hospital ao olhar para a viatura policial estacionada em frente. O sentimento de satisfação preencheu completamente o médico, o qual gargalhou ao se recordar da expressão aterrorizada do policial na noite anterior. O modo como ele o encarou com completo terror reacendeu o desejo de divertir-se com o sofrimento alheio. Ele se viu ansioso para descobrir quem seria a próxima pessoa com quem brincaria daquela forma, surgindo em sua mente a imagem de Cassandra em seguida. A mulher que lhe despertou a curiosidade de como seria viver recebendo carinho.

Mas o que posso fazer quando fico tão ansioso em imaginá-la sofrendo?

Questionou-se seriamente ao colocar as mãos nos bolsos de sua calça ao avançar para a entrada, modificando a sua expressão fácil. Bastou passar pela entrada para manter um semblante profissional e sério, mesmo que no segundo seguinte fosse alvo de olhares curiosos, principalmente de Jonny e de um homem usando um uniforme policial ao seu lado. Não ficou surpreso ao ver Jonny ir até ele juntamente com o policial.

Policial Greyson. Leu no uniforme segurando-se para não passar a língua pelos seus lábios ao imaginar o homem a sua frente chorando em desespero. Dominic não pretendia que sua verdadeira identidade – ou personalidade – fosse descoberta pelos moradores daquela pequena cidade, pelo menos não, enquanto estivessem servindo para o seu proposito de manter-se escondido, vivendo uma vida tranquila e normal.

Ao menos era normal até a noite passada.

Considerou antes de sorrir galante para o policial a sua frente. Ele pretendia mostrar o seu charme ao reprimir a vontade de gargalhar.