Prólogo ༄

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26/01.

Para mim, cada um de nós temos nosso próprio serendipity. Por exemplo, achar uma nota de vinte reais na rua, tropeçar e o amor da sua vida lhe segurar pelos braços ou achar algo que perdeu justamente onde não imaginaria que encontraria.

Mas, levando em conta todas essas hipóteses –que eu acho particularmente impossível para mim– pode ser que algumas delas aconteçam com qualquer pessoa.

Eu mesma poderia achar um ingresso para o show da Lana Del Rey no chão, poderia ganhar na loteria apostando pela primeira vez ou até mesmo finalmente encontrar meu colar com um pequeno pingente de coração rosa que perdi há meses.

Mas meu serendipity será diferente, e eu sei disso. O meu serendipity ainda irá acontecer.

🎡🎡🎡

Para me divertir nessa cidade pequena e quente de 22.145 habitantes, fico a maior parte do tempo no Bellini's – uma lanchonete ao lado da praia – e na maioria das vezes fotografando alguma coisa ou tomando algum milkshake de morango com leite.

Sim, sou totalmente apaixonada por doces. Quer me conquistar? me compre um sorvete de creme ou um pirulito de cereja. Mas apesar da minha paixão por coisas açucaradas, minha vida anda totalmente amarga ultimamente. Meus pais me mudaram de colégio sem ao menos me questionar e ficarei justamente no colégio de meu irmão.

argh.

Não é como se eu odiasse meu irmão ou algo do tipo, justamente pelo contrário: meus pais passam semanas na cidade vizinha à trabalho e é ele quem cuida de mim (ou ao menos cuidava). Mas sim pelo fato de que, com certeza eu serei conhecida por ser "A irmã de Vinnie" e, ao contrário de meu irmão, não suporto a ideia de ser o centro das atenções, muito menos de ser reconhecida por causa da fama de outra pessoa. De ser apenas um aproveitadora da fama.

E pensar nisso me da calafrios.

Talvez seja por isso que eu só tenho uma amiga. Naomi Natsumi. Eu costumava a ver todos os dias, mas nessas férias eu mantive menos contato com ela porque a mesma viajou com seus pais para algum país da Europa, acredito que seja a Holanda. A única pessoa que vejo todos os dias nas minhas férias todas foi minha irmãzinha Violet, de onze anos.

De vez em quando, minha madrinha aparece com presentes e preocupada com nossa alimentação. Ela sempre nos pergunta se estamos bem ou se queremos alguma coisa. Desde que me entendo por gente, Margaret se preocupa comigo e com meus irmãos. Dizem que pareço-me mais filha dela do que de minha própria mãe.

Não que meus pais não se preocupem, mas eles estão ocupados demais para mandar alguma mensagem para perguntar se estamos bem. Eu sei que eles se sentem mal por isso, por esse motivo eu digo que eles não precisam se sentir desse jeito e que apoiamos eles.

Apesar de meus dias serem totalmente monótonos e tediosos, eu aproveito minhas férias para fazer o que mais amo: fotografar. Sou nitidamente aquela pessoa apaixonada que tira foto de tudo o que vê.

Lembro-me de minha primeira câmera: Era uma polaroide rosa pastel quadrada e pequena que minha madrinha havia me presenteado em meu aniversário de 5 anos.

Definitivamente foi o melhor presente que já recebi dela e de qualquer pessoa em todos esses anos, ela fica guardada na escrivaninha branca de meu quarto todo dia para que seja a primeira coisa que avisto após acordar. Assim, saberei que meu dia será bom, como se aquela câmera fosse meu amuleto da sorte.

Afinal, eu prefiro mil vezes observar uma pessoa fotografando-a,  do que conversando com ela.

Primeiramente porque as pessoas são muito complicadas. Elas costumam dizer uma coisa, e sentir outra totalmente diferente. Preferem perder alguém do que deixar o orgulho de lado.

E segundamente porque sinto como se cada foto de qualquer pessoa contasse uma história, talvez uma história tão profunda que não conseguiria ser descritas com palavras.

Uma foto vale mais que mil palavras, e esse é o poder da fotografia. A verdade é que todos nós registramos nossos momentos, seja eles na memória, no papel ou na galeria do celular.

Desde que meu irmão saiu – o que já faz dois dias – sem me avisar e meus pais estão a uma viagem a trabalho, me sinto mais sozinha do que normalmente. Sim, eu sinto falta de conversar com Vinicius, apesar de sermos totalmente diferentes, e sim, tenho minha irmãzinha, porém não é a mesma coisa.

Apesar dela sempre me apoiar e ser muito imponente e decidida considerando ter apenas onze anos de idade, ela jamais entenderia meus dilemas da adolescência. Com certeza diria que estou fazendo uma "tempestade no copo d'água", o que eu não discordo totalmente dela.

Em relação ao meu antigo colégio, eu não era esquecida, porém estava bem longe de ser popular. Tinha uns 3 amigos e o melhor de tudo: não estudava na mesma escola que meu irmão. Mas, pensando no lado bom, estudar em uma escola nova poderia ser um recomeço para mim, já que ninguém se importa com alunos novos.

Meu pai costuma dizer que eu fico muito tempo atrás das câmaras e deixo de aproveitar o momento. Em parte eu até concordaria com o que ele diz se no fundo não significasse "largue a câmara e arrume um namorado, Valentina".

Não hesito em respondê-lo com algo do tipo "já aproveito o momento fazendo o que me faz bem." ou "não preciso de namorados."

Honestamente, não sei o porquê dessa pressa toda de meu pai foi de querer alguém para mim, estou vivendo muito bem sozinha. Mas não que eu pretendo ficar solitária a vida toda, mas sinto que essas coisas de "achar o par perfeito" ou "alma gêmea" não existe, afinal, tenho dezesseis anos e nunca me apaixonei por alguém e nem sequer cheguei perto disso.

Ano passado, estava disposta a convidar Luke – um menino que estudava em minha sala de cabelos ruivos e sardas – para sentar ao meu lado no ônibus na excursão que tivera. E em resposta, Luke dissera que havia acompanhante e saiu correndo antes mesmo de eu o perguntar quem. No final da história, Luke estava tão sozinho no ônibus quanto eu.

Não guardo rancor dele por conta disso, e na realidade, até fico agradecida por ele ter recusado. Pois como eu já havia dito, acho que essas coisas de amor não funciona comigo, ou talvez não tenha acontecido ainda.

E enquanto isso não acontece, prefiro continuar com minhas paranóias sobre a escola nova, continuar fotografando as coisas e continuar indo ao Bellini's tomar milkshake de morango.

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