A Aliança

1.2K 67 9
                                    

Camus olhou para os dois e, por alguns segundos, fechou os olhos e apertou a ponta do nariz com os dedos da mão direita, como quem se concentra e se acalma. Abriu os olhos e levantou.

– Hyoga, por favor, vá para o seu quarto, eu vou falar com o Milo fora
daqui e depois vou ter uma conversa bem séria com você. Esteja aqui quando eu voltar campeão... Posso contar com você?

Hyoga apenas olhou para baixo pensativo e acenou positivamente com a cabeça, não podia mais encarar seu Mestre. Foi com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa para o seu quarto e fechou a porta, se condenando por tudo de ruim que havia feito nos últimos tempos.

Camus voltou para o seu quarto, onde Milo estava, e fechou a porta. Se trocou muito rápido sendo observado por Milo, era incrível a habilidade de Camus de ficar fenomenal em segundos.

Vestia uma camisa justa branca com uma calça jeans preta, usava um sapato morrom e cinto da mesma cor. Borrifou um perfume francês, penteou os cabelos e colocou por cima um casaco. Ele não estava em perfeito estado ainda, mas com o remédio a crise quase não deixava rastros.

Em algumas pessoas deixava alguma reação adversa, mas não no cavaleiro de ouro de aquário.

Camus avisou Milo que iriam sair rapidamente, pois queria conversar com Hyoga ainda naquela noite. Disse que havia planejado diferente, mas que mudara os planos. 

– Que planos Camyu?

– Vem comigo – Disse Camus abraçando o loiro com carinho e firmeza.

Eles chegaram naquele local, naquele local no qual os dois se beijaram pela primeira vez... Um dos pontos mais altos do santuário, lá havia uma cerejeira, um pequeno riacho e muitas pedras grandes. Não era frequentado, poucos conheciam os atalhos para chegar até aquele lugar.

Lá eles se conheceram, se beijaram, se tocaram e trocaram juras de amor eterno. Lá também brigaram e romperam com cenhos franzidos e dedos em riste. Lá se reconciliaram e se amaram tantas e tantas vezes.

– Meu amor, vem aqui... - Disse Camus dando um tapinha no colo quando sentou na pedra que mais gostava.

Milo foi correndo e sorrindo, pulou no colo de Camus e agarrou em seu pescoço com um sorriso que não cabia em suas bochechas.

– Milo eu...

– AAAAAAAAAAAAAAAH, EU ACHEI QUE VOCÊ FOSSE MORRER..E...

– Milo, por favor, me deixe falar tudo que tenho para falar.

Camus encarou Milo, sério. Milo segurou tudo que tinha para dizer dentro de si e ficou ouvindo, era difícil conter as emoções num lugar tão lindo e emocionante como aquele. Mas ao mesmo tempo, geralmente, Camus ficava calado.

– Milo, eu tenho muita coisa para te dizer, muita coisa que eu nunca disse... Nossa história não foi fácil, você é um adolescente num corpo de deus grego e seus hormônios te controlam mais que seu cérebro...

– Ora, vai começar um ser...

Camus encostou a ponta do dedo indicador na boca indignada de Milo e pediu com os olhos que o deixasse terminar. Aproveitou para fazer uma
pequena carícia nos lábios de seu amado.

– Você é inconsequente e, muitas vezes, inconveniente. Não respeita meus horários de trabalho, meus compromissos e até pouco tempo atrás
vivia em guerra com o meu filho. Mas também é o homem mais encantador que já conheci, mais dócil, mais impetuoso, uma pessoa
com a alma bondosa e um coração enorme. E é por TUDO isso, meu
amor, que eu te amo.

Camus fez uma pausa e fitou Milo que tinha lágrimas nos olhos, decidiu continuar antes de ser interrompido novamente.

– Milo, você é e sempre será a minha primeira e única verdadeira paixão. É em você que eu penso quando estou em apuros, é em você que eu sonho nas minhas noites solitárias, é você que eu espero na linha cada vez que meu telefone toca. Você arranca o gelo da minha vida, arranca a solidão com a qual eu me acostumei. Hyoga é a razão de eu continuar e você o motivo da minha felicidade.

Camus se levantou e pegou algo no bolso que Milo não conseguiu identificar.

– Milo – dessa vez era o homem de gelo que tinha lágrimas nos olhos – Nunca ninguém te amará como eu te amo, eu amo seu jeito de falar, sua
forma histérica e desesperada diante de problemas sérios, sua
maneira de me tratar nas situações difíceis e de me amar desse
jeito tão... peculiar.

Milo já estava chorando muito e se segurando para não agarrar Camus.

– Eu sempre te achei imaturo, e continuo achando. Mas, no meio disso tudo, você me provou que cresceu muito, que AMADURECEU muito. Você não é, nem de longe, o crianção que me traiu tantas vezes por pura birra. Você não é mais aquele adolescente que foi... Você é meu maior
companheiro... E eu quero...

Camus estendeu uma caixinha...

– Eu quero que você seja o meu marido, eu quero dormir e acordar com
você todas as noites e manhãs. Eu quero poder ter o prazer de ver
você preparar um jantar para mim como o de hoje. Eu quero estar ao
seu lado nas suas gripes e resfriados. Eu quero ter a certeza que
você estará comigo para todo o sempre.

Camus andou até Milo que chorava de soluçar, Milo sabia que aquela declaração era única na vida, que jamais arrancaria algo assim de Camus novamente. Sentiu orgulho de si mesmo ao ouvir tantos elogios sobre amadurecimento, tinha certeza que logo logo levaria uma nova bronca de Camus por algum motivo banal, mas apenas ver que cada gesto seu era reconhecido era tão bom.

– Eu planejei fazer isso numa viagem, mas aqui é o lugar ideal, o lugar no qual pensei quando ficou tudo escuro hoje pela crise... - Camus decidiu não trazer o assunto à tona – Você aceita essa responsabilidade meu amor?

– SE ACEITO? É TUDO QUE MAIS QUERO MINHA VIDA! EU TE AMO! TE AMO MAIS DO QUE AMO QUALQUER COISA!!! QUERO FICAR AO SEU LADO PARA SEMPRE...

Camus se levantou e abraçou Milo, havia lágrimas no rosto de Milo e eles
demoraram naquele abraço, como se nada mais existisse. Camus buscou
os lábios de Milo e beijou delicadamente a parte inferior, mais carnuda, dos lábios do escorpiano.

Milo se deixou beijar, enquanto Camus mordiscava e abocanhava os lábios dele, buscando a outra língua num beijo devasso. A mão de Camus estava nas nádegas de Milo apertando de leve enquanto Milo segurava as costas de Camus com desespero.

Camus já estava com o ímpeto de arrancar as roupas do escorpiano, mas se afastou.

– Haverá tempo para isso, agora precisamos parar e voltar, eu PRECISO resolver as coisas com Hyoga, minha cabeça precisa voltar para o lugar, as coisas vão voltar para o prumo.

Milo olhou triste, pois queria Camus dentro de si naquele instante, mas foi compreensivo. Sabia que a novela do Hyoga rebelde estava lhe tirando o sono e havia acabado de passar por uma experiência de quase morte.

– Posso te perguntar uma coisa?
– Todas.
– Você só me pediu em casamento porque quase morreu?
– Tolo... - Camus riu – Tenho esse anel guardado há anos, desde a primeira vez que você me traiu. Decidi que o entregaria quando você amadurecesse para ter um relacionamento de verdade. Tirei ele da gaveta há pouco, estava decidido que a hora chegou.

Milo riu satisfeito. Não, aquilo não era efeito da crise alérgica, sua cabeça estava no lugar.

– Sai com você nesse segundo porque voltarei para casa para ditar regras, com você lá serão diferentes, Hyoga quer essas regras, pois bem, vou dá-las. Milo, você não ouse me desautorizar. Os limites mudarão... Se eu consegui conter você, o Hyoga será fichinha - Disse Camus quase rindo no final da frase.

Milo acenou com a cabeça e fechou a cara com pena do pato e bravo por ser comparado a um adolescente.

O momento romântico acabara, mas jamais seria esquecido. Cada palavra que Camus falou seria lembrada por Milo pela eternidade de sua alma e Camus, por dentro, era o homem mais feliz do mundo.

Mas, agora, tinha assuntos a tratar.

Uma Família se FormaOnde histórias criam vida. Descubra agora