Colega de Quarto

Avesso. (Capítulo 19)

LARIESCE GRACE

Nunca fui de chorar na frente das pessoas, é como se o meu íntimo fosse totalmente exposto. Lembro que no enterro do meu avô todos estavam arrasados, choravam desesperadamente... E eu, bom... Não conseguia derramar uma lágrima. Eu amava o meu avô, ele era uma das pessoas mais importantes pra mim, mas o fato de estar cercada de pessoas, me paralisava. Parece egoísta, insensível... É o que todos pensam, mas, nunca procuram saber o que acontece depois, quando a poeira abaixa, quando os holofotes se apagam.
Fiquei horas á fio pensando em uma forma de engolir meu orgulho e tentar melhorar esse clima horrível. Ouvir a Cass chorando do meu lado está me matando. Eu não queria me explicar, estava sem jeito... A sensação de que só faço merda está me consumindo.
Fechei os olhos e tentei dormir... É melhor resolver tudo amanhã.
Após algum tempo, ouvi passos, uma movimentação estranha, mas continuei em silêncio. Senti a respiração de Cass próxima ao meu rosto e logo a porta se abriu. Levantei bem devagar e fui andando atrás dela... Eu não queria acreditar que ela estava indo embora. O frio me fez arrepiar por todo corredor, meu coração estava saindo pela boca.
Desci as escadas e vi ela agachada procurando a chave no capacho. Quando ela abriu a porta eu finalmente decidi chama-la.

-Cass... -Falei com a voz trêmula.

As luminárias do quintal iluminavam seu rosto. Ela permaneceu em silêncio e se virou novamente.
Fiquei imóvel, sem reação. Eu não podia deixa-la ir.
Segurei seu braço e a olhei no fundo dos olhos. Estava tremendo e temendo que ela se fosse.

-Por favor... -Falei.

Cass me encarava, seus olhos estavam inchados de tanto chorar.

-Pra que? -Perguntou chorando. -Qual o sentido disso tudo? -Completou.

Fiquei em silêncio.

-Me responde, caralho! -Gritou.

Não conseguia responde-la, eu tinha tantos motivos, mas... eu simplesmente perdi a voz.

-Era de se imaginar. -Falou saindo.

Comecei a chorar desesperadamente. Eu não queria que tudo terminasse desse jeito.

-Eu sou uma insensível, Cass. -Gritei com a voz trêmula.

Estava morrendo de frio, meus dedos congelavam.
Cass parou de andar e ficou de costas para mim.

-Eu sei o quanto está sofrendo, eu sei o quão forte você tem sido... E eu não tenho demonstrado e nem te apoiado ultimamente. -Falei. -Eu só tenho pensado em mim. -Completei.

Cass se virou e ficou me encarando.

-Pare de se culpar. -Falou. -Você tem seus motivos. -Completou.

-Acho que estamos o tempo inteiro tentando justificar nossos erros. Não há um culpado aqui e nem deve ter, pois nós perdoamos... -Falei.

Cass ficou em silêncio.

-Por mais que não pareça... Eu perdoei. -Falei. -Mas, Cass... Eu não consigo esconder o quanto essa merda acabou comigo. -Completei.

Cassie estava em prantos, não conseguia dizer uma palavra.

-Me destrói toda vez que toca no assunto e faz questão de lembrar o quão filha da puta eu fui. -Falou em prantos. -Eu tenho problemas demais pra me culpar e eu não estou aguentando carregar mais esse. -Falou secando os olhos.