Quatro meses depois e lá estava eu, no carro caro e aconchegante do menino mais imprevisível que eu já havia conhecido na vida, e a pior parte era que parte de mim se sentia completamente satisfeita por isso.
Falar com Dylan Chase de novo fez com que eu me sentisse confortável na minha própria pele outra vez, algo que não acontecia há meses – com ele ao meu lado, eu não sentia tanta vontade de correr de mim mesma, e esse era um sentimento completamente aterrorizante. Então, eu entrei no carro e me virei para janela, as mãos dobradas no colo, com medo de encarar aquele sorriso que me fazia sentir tanto.
Eu não queria sentir.
Dylan continuava o mesmo: cabelos castanhos curtos, olhos azuis penetrantes, sorriso impecável, magro musculoso e bonito demais para o meu próprio bem. Ele usava um moletom preto fino por cima de uma blusa branca, que aparecia em seu pescoço, uma calça jeans, e parecia confortável demais – isso foi tudo que eu tive tempo de reparar antes de me recusar a olhar para ele novamente.
Por mais que a antiga Teodora estivesse morrendo de vontade de virar o rosto e sorrir para aquele garoto, não o fiz. Não o fiz pela mágoa de quatro meses, não o fiz porque Dylan Chase era mais era mais instável do que eu, e ele poderia desaparecer facilmente e me deixar vazia outra vez, como havia feito há quatro meses atrás. Obviamente, ele não era tudo que importava, mas era mais do que suficiente.
E eu não queria que ele encontrasse a antiga Teodora no meio da bagunça que eu era agora.
– O que aconteceu com a sua boca? – Ele perguntou, inabalado com minha luta interna.
– Briguei com ninjas. – Respondi, imediatamente e sem tirar os olhos da janela. – Você estava na rave? – Perguntei, sabendo que a resposta era não, porque eu saberia se a resposta fosse sim.
– Não.
– Como me achou? – Perguntei, tentando parecer indiferente.
– Destino. – Ele respondeu, e sorriu para mim outra vez. Eu o ignorei.
– Por que me deu uma carona?
– Porque eu tenho um sexto sentido para donzelas em perigo. – Ele rebateu, e eu quase sorri, porque foi ele que me achou naquela noite, há quatro meses atrás, e isso parecia ser estranhamente engraçado.
– Estou falando sério. – Eu disse, querendo dizer outra coisa.
– Queria que eu tivesse te ignorado?
– É só o que você tem feito nos últimos quatro meses.
– Estou tentando mudar.
– Algum dia eu vou conseguir uma resposta sincera sua? – Perguntei, me virando para ele.
– Não acho que conta como ignorar alguém que nunca tentou falar comigo, Teodora. – Ele me encarou de volta. – Você também fingiu que não nos conhecíamos.
– Minha mãe morreu, eu tenho uma desculpa. – Rebati, e ele revirou os olhos ao invés de sentir pena, o que fez com que eu me sentisse um pouquinho mais confortável na minha pele, e eu odiei.
– Tudo bem, não falei com você porque tentei me convencer de que não queria outra chance contigo. Eu estava errado. – Ele se virou para mim. – E sinto muito por tudo que aconteceu. Satisfeita?
Não aguentei, e sorri.
– O que foi? – Ele perguntou, quando não consegui fechar a cara outra vez.
– Você me ofereceu uma carona e não me perguntou onde eu moro, Chase.
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Acrimônia | ✓
RomantikAcrimônia (s.f): aspereza, rudeza, comportamento indelicado. A definição perfeita da personalidade de Teodora Mason em uma manhã de segunda-feira, antes de uma xícara de café e um cigarro, componentes que, para ela, são como calmantes. O conceito de...