29 - Feliz aniversário

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Hoje seria o aniversário da minha mãe.

Sarah Baker Mason estaria fazendo 38 anos se não tivesse sido achada sem vida no corredor de sua antiga casa há quase cinco meses, se ela nunca tivesse conhecido George Walter, se alguém tivesse a ajudado quando ela gritou. Mas nada disso aconteceu, e agora seu corpo reside no cemitério da cidade, apodrecendo à quase cinco meses.

Pelo lado bom, hoje também é sexta-feira.

Eu realmente pensei que o aniversário da minha mãe não me afetaria tanto, porque nunca fui muito ligada a datas, mas, naquela sexta, acordei como se meu corpo pesasse mais vinte quilos que o normal, e não cheguei a chorar ou entrar em desespero, mas estava mais anestesiada do que nunca.

Não fui no enterro dela, achei melhor ficar no hospital comendo pudim ruim porque estava aterrorizada demais para observar minha mãe pela última vez com algodões nas narinas dentro de uma caixa de madeira claustrofóbica enquanto parecia dormir pacificamente – o que não combinava em nada com ela. Também não queria receber os olhares de pena que tanto tentei evitar nos últimos meses e, mais do que tudo, não queria sentir.

Só não pensei que a última imagem que eu tinha da minha mãe agora, não era assim tão melhor do que a ver morta como um boneco em um caixão.

Quando cheguei em casa na sexta de manhã, depois de passar uma noite pouco distrativa com Thomas e tendo faltado aula secretamente, minha avó me lançou o melhor sorriso triste que ela poderia dar e me perguntou se eu gostaria de ir ao cemitério com ela, ao que eu dei o mesmo sorriso e respondi que sim, antes de subir as escadas e me trancar no quarto enquanto mandava uma mensagem com urgência para Maxine, que apareceu de carro na porta da minha casa menos de trinta minutos depois.

Nós acabamos indo para a casa dela, um apartamento chique em frente à praia com nenhum parente a vista, e bebemos durante o dia todo. Ela não perguntou porque eu havia ressurgido do nada, ou porque havia uma chave no meu pescoço, ou até porque eu parecia mais chateada que o normal – era o que eu mais gostava nela, ela nunca me fazia perguntas que sabia que eu não queria responder.

Em certo momento da tarde, Thomas apareceu lá, e me cumprimentou com um aceno de cabeça como se não me conhecesse outra vez. Eu e ele não conversávamos muito, então não falamos sobre a rave domingo ou sobre como eu havia telefonado para ele do nada ontem – essa era uma das coisas que eu mais gostava nele, ele não cobrava coisas que sabia que eu não queria que me cobrassem.

Quando escureceu e eu já estava bêbada demais para pensar muito, tomei um banho na casa de Maxine e peguei uma de suas roupas emprestadas enquanto ela e Thomas se beijavam no sofá da sala, também bêbados demais para pensarem muito. Eu sabia que Jonah provavelmente estava triste como eu, já que hoje também era aniversário de sua mãe, mais morta que a minha, mas o lado ruim de não se importar onde você vai acabar parando, é que você acaba deixando de se importar com os outros também.

Então, enquanto meu cabelo pingava pelo banho recém tomado, desliguei o celular e o deixei na cômoda de Maxine, sem me importar se mataria alguém de preocupação no processo.

Quando voltei para sala, Maxine e Thomas já estavam bebendo outra vez, como se nada tivesse acontecido. A garota sorriu para mim e tirou da gaveta da estante um estojo de maquiagem, e passou uma sombra rosa avermelhado em minhas pálpebras assim que me sentei no sofá, idêntica a que ela exibia no próprio rosto – não me importei, apenas me encostei no sofá e a deixei pintar minha cara enquanto molhava o estofado com meu cabelo.

Ela e Thomas conversavam sobre alguma coisa, mas eu não quis prestar atenção. Quando parei de sentir o pincel tocar a parte de cima dos olhos, os abri novamente, e Maxine sorriu para mim conforme falava:

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