Entre abismo

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Ela costumava ser alegre. Rir em momentos inadequados. Chorar por qualquer coisa. Sabia o que dizer para as pessoas mais desesperadas.

Ela era tudo. Não era perfeita...

Mas tudo o que a humanidade estava precisando. Alguém que tivesse esperança nas pessoas, conseguia acalentar.

Agora,está morta. Ela sugou tudo pra si.

Não sei em que momento ela deixou de ser assim. Mas me lembro, vagamente. Em dias que ela esperava alguns segundos para dar um sorriso, ou quando olhava para um ponto fixo, como se estivesse lutando com algo.

Quando suas mãos se fechavam, e fincavam suas unhas na pele alva. Nada a fez parar.

Ou em dias que ela não falava com ninguém. Sentava no canto, escrevendo em seu caderno. Eu me perguntava o que ela escrevia, pois depois que fechava seu caderno.

Suas bochechas ficavam levemente vermelhas e seus olhos mais profundos e úmidos. Ela chorava, toda vez em que escrevia.

Eu podia ter ajudado. Mas, como ?

Olho novamente para o caixão, que agora estava fechado. Alguém pousa a mão em meu ombro e me estende uma carta.

"Encontramos isso na cama dela, é pra você".

Encaro aquele papel...a minha vontade é não ler. Se abrir, será real. A morte dela, seria veraz.

Respiro fundo e com as mãos trêmulas abro o papel, daquele mesmo caderno em que ela carregava para todos os lados.

" Sim, me matei. Eu já não tinha mas jeito...bom, eu tinha. Mas eu não consegui recuperar as forças para lutar. Sei que você sempre ficou em dúvida, no que podia fazer para me ajudar. Uma simples pergunta, faria toda a diferença. Você ainda pode me ajudar. Não é algo banal.

Eu sempre quis ajudar pessoas. Faça isso por mim. Eu gostaria que tivessem me abraçado, me incentivado. Mas ninguém ouvia as minhas súplicas. Simplesmente, ignoravam. E aquilo me matava cada vez mais.

Sabe...Quando eu estava escrevendo essa carta. Na escada da escola, vi duas amigas conversando. Uma estava na mesma situação que eu. Ela tinha/tem depressão. Naquele momento, eu tive esperanças. A amiga dela a incentivou a procurar ajuda, abraçou ela e disse que tudo ficaria bem.

Eu não sabia como era a sensação. Aquela sensação.

Ajude as pessoas. Qualquer uma. Mesmo que ela não tenha, não espere aquela coisa chegar.

Se chegar, conte que tudo pode ser diferente. Pois pode. Não pra mim. Não tinha como. Ninguém percebeu.

Ninguém.

Posso te dizer que a minha felicidade era ver o sorriso das pessoas. Ainda é.

Você sabe o que fazer. Salve-as.

Enquanto se tem o tempo".

Depressão não é brincadeira, liguem 188

Abra e aceite o que vierOnde histórias criam vida. Descubra agora