Prólogo

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O Aeroporto estava lotado para uma quarta-feira final do dia. Assim que deixei a área de desembarque fui atingida pela lufada de ar quente típica de Salvador. Puxei o casaco precisando manter meu corpo na temperatura da cabine do avião e saí puxando a minha mala logo atrás de mim.

— Boas férias, Amanda! — Solange, minha colega de trabalho e amiga, se despediu de mim com certa empolgação.

Era a primeira vez que eu retornava a Salvador desde os meus... acho que doze anos. A decisão de deixar a cidade foi repentina, aceitando um convite da minha madrinha e a sugestão da minha mãe. Porém, o que de fato definiu a situação estava além da minha necessidade de passar as férias em outra cidade.

Vou confessar com certa ironia que aos doze anos encontrava-me apaixonada pelo irmão da minha melhor amiga. Um garoto bem mais velho do que eu e que, na época, esmagou o meu coração sem nunca ter me tocado. Este foi o motivo para eu ter arrumado a mala e viajado com o intuito de passar um mês em São Paulo com minha madrinha, o que acabou se transformando em treze maravilhosos anos.

Confesso com ironia porque hoje posso rir daquela noite que se tornou um marco com facilidade. Se eu não tivesse decidido partir não teria me dado a oportunidade de ter vivido coisas tão incríveis. Foi graças a esse amor platônico que fui morar em São Paulo, decidi estudar inglês e italiano, lutei para fazer intercâmbio e me tornei, aos vinte e um anos, comissária de bordo.

Agora estava de volta para curtir a praia por trinta dias. Meus planos eram bem simples: aluguei um apartamento na orla então teria praia todos os dias. Verão, final do ano, a cidade fervendo em festas e muitos amigos para reencontrar. Dentre eles, Geovana.

Eu sei, você vai dizer que devo ser louca, mas Geovana é a irmã de Diogo, o garoto por quem eu era apaixonada. Quando fui embora não existia essa coisa de WhatsApp, nem Facetime. No máximo o Orkut e o Msn, isso se você tivesse conexão diária. Então passei boa parte do meu tempo longe trocando e-mails com Geovana aos poucos a amizade foi perdendo a sua força. Coisas da vida.

Mas eu pretendia visitá-la, afinal de contas, já fazia treze anos que não nos encontrávamos. E sim, era provável que eu teria a sorte de encontrar Diogo, o que não seria nenhum abalo para nenhum dos lados. Há tempos não tinha notícias do garoto e a última não trouxe nenhuma novidade. Ele permanecia namorando Eduarda, e apaixonado por ela.

Deixe eu te contar um pouco mais sobre esta situação para que você possa entender melhor a história e descobrir como me tornei a garota invisível, como se não fosse previsível este título para alguém como eu na vida de Diogo.

Então vamos lá. Nossa história não começa há trezes anos. Diogo estava em minha vida há pelo menos quatro anos antes de tudo acontecer. Mas eu tinha doze anos naquele dezoito de dezembro e estava onde costumava sempre estar quando ia brincar com Geovana: no quarto dos fundos da sua casa, depois do quintal, ao lado da casinha onde eles guardavam todos os tipos de coisas que não serviam para nada. Era aniversário de Geovana, ela faria treze anos e estávamos animadas com a festa que os pais dela dariam naquela noite.

— E minha mãe disse que eu posso usar a sandália alta dela. Não é maravilhoso? — Recortou mais um coração da revista para guardar no seu estoque de imagens bonitas para colar no diário.

— Quem dera minha mãe me deixar usar saltos. Nem sei se consigo usar um batom sem que ela reclame.

— Talvez um fraquinho. Rosa mais claro. Tia Fátima não vai achar ruim. Olha! Vou cortar esse esmalte. Posso colar no dia da beleza. — Deixou assim morrer o assunto sobre a minha insegurança infantil.

A Garota InvisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora