a chuva que chegou rápido demais

esqueci quem são os outros

Já não me recordo mais dos pensamentos que tive há um tempo atrás, me dizendo que não sou o suficiente pra nada e que nunca serei. Me livrei deles, queimei-os no momento em que me olhei no espelho e pude ver quem realmente sou. No instante em que percebi minhas vulnerabilidades e decidi abraçá-las. Olhei para dentro de mim e tive uma conversa com minha alma. Ela me disse:

"Seu cabelo ondulado é único e conta a trajetória de mãos que tentaram usá-lo como corda para envolvê-la em seu pescoço, mas tornaram-se um caminho de fuga.

Seus olhos azuis cor de céu contam sobre o dia em que iluminaram a vida de alguém com palavras carinhosas e aconchegantes que acabaram se transformando em abraço.

Suas mãos delicadas contam as rotas que você traçou no formato do amor personificado em uma pessoa.

Sua pele branca como a neve conta sobre as vezes em que tentou agradar aos outros, quando na verdade deveria agradar a si mesma.

Suas pernas finas como gravetos contam os enlaços que você quis ter com o corpo de alguém, mas que acabaram fechando-se antes da entrega; pois ela seria precoce.

Sua entrega intensa conta como você espera receber o mesmo na mesma intensidade, mas sabe que reciprocidade não significa isso, embora sempre que se doe demais, isso cause feridas em seu coração que já cansou de apanhar.

Suas cicatrizes contam das guerras que você lutou, dos dragões mortos em dias que pensou não conseguir nem respirar, pois sentia-se naufragando; suas cicatrizes mostram que toda a sua história existe por uma razão e que ela deveria ser sua desde o dia em que você foi feito."

Minha alma me contou a razão de eu estar aqui quando pensei em me jogar no precipício da vida e não retornar à superfície. Ela me mostrou os segredos que escondi de mim mesma, enquanto tentava agradar estranhos que nem sequer recordam meu nome ou que nunca me viram em sua frente. Minha alma fez com que eu esquecesse quem são os outros e descobrisse quem eu sou.

-pra quando se esquecer do amor próprio