"Estou atrasada. Droga. O transito está um inferno e eu estou quase sem bateria no celular. No rádio do Uber uma música da Anavitória me deixa mais sentimental do que eu pensei ser possível. Luto contra as lágrimas que querem sair. O motorista já parou de tentar puxar papo comigo, ele deve ter se cansado de quantas vezes eu lhe dei má resposta. Tadinho, sei que a culpa não é dele por ter tido um acidente bem na longa avenida que nos leva ao aeroporto... Acho que vou andando mesmo... Não consigo mais ficar presa nesse carro.
Pago o transporte com dinheiro vivo e lhe deixo a maior gorjeta possível. Saio apressada, batendo a porta e sem me despedir. Os saltos altos estão dificultando minha corrida. Os retiro sem me importar em pisar na calçada descalça. O celular permanece à mão para ver quantos minutos me restam.
Ele está indo embora. O que vou fazer para impedi-lo? O que posso fazer para convencê-lo que seu lugar é comigo? Corro. Corro como nunca. Sei que meus pés estão machucados, mas é como se estivessem anestesiados. Chego no aeroporto e procuro o balcão da companhia aérea no qual sei que ele sempre viaja, mas já é tarde. O painel luminoso diz que o avião parte em menos de 10 minutos. Eles nunca me deixarão passar do check-in.
Não pode ser. Tudo o que fiz foi em vão? Estou suada e ofegante. Um senhor passa por mim meio mal humorado e percebo que estou atrapalhando a passagem. Sento no único banco disponível e me deixo ficar ali.
Passos se aproximam e eu levanto a cabeça assustada. É ele. Ele não pegou o voo. Ele está aqui. Em choque, apenas digo:
- Me diz. Me diz o que eu faço dessa vida sem você?
Ele não me olha nos olhos. Só segura minha mão apertado. Sua calma de sempre me faz sentir que estou em casa. As minhas lágrimas rolam como se fossem infinitas. O abraço que se segue não é uma despedida. Sei que não. Ele vai ficar. Vai ajudar a me refazer."
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Contos Escritos com o Coração
DragosteA cada capítulo, uma história nova. Uma sensação, uma mensagem, um sorriso.