Sick

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Inha já não prestava mais atenção no que acontecia a sua volta. Mais e mais as pessoas corriam de um lado para o outro procurando por fitas, grampos, agulhas e alfinetes. Ela no entanto não as percebia. Era como se estivesse em uma realidade paralela, onde tudo o que existia era ela mesma e aquele vestido que ainda segurava na altura de seu busto enquanto sua mãe tentava consertar o erro que uma das costureiras cometera na parte de trás do espartilho.

Seus olhos migravam pelo contorno das camadas e mais camadas de tecido branco que se uniam ao seu redor. Era um vestido bonito. Era delicado com uma estrutura que lembrava muito a dos vestidos das mulheres ocidentais no período Vitoriano, embora não houvesse ali tanto panejamento quanto haveria de ter se fosse um autêntico. Ele mais se assemelhava aos vestidos das princesas da Disney, dos quais Inha fugira sempre quando era mais nova. A saia caia uniformemente ao redor das camadas de anáguas e tule e se estendia na parte de trás por uma cauda mais longa. Os detalhes de bordado, feitos com uma linha de um tom branco diferente do tom do resto da peça, um pouco mais puxado para o creme, cobria todo o seu busto e cintura e descia desorganizadamente pela saia de seda, como se na verdade aquele bordado estivesse escorrendo pelo corpo. Eram pequenas figuras de flores e espirais conversando delicadamente e sendo cobertas, em alguns pontos, por pequenas pedrinhas de diamante - cortesia de seu pai.

Mas em toda a sua majestade e magnitude aquele vestido mais lhe parecia um amontoado de tecidos sem alma. Sua mãe que não ouvisse aquilo, mas aquele vestido estava muito longe do que Inha considerava como ideal. Era lindo sim, mas não mostrava nada de si. Não havia absolutamente coisa alguma de Ko Inha ali. Era um sonho de vestido, mas não o sonho de Inha. Era sufocante, quase claustrofóbico. Fazia-a querer fugir.

Em que ponto as coisas haviam saído tanto do controle para que ela pensasse aquilo tudo sobre o próprio vestido de casamento?

Tudo parecera tão certo quando ela se colocara no início daquela empreitada. Tudo parecera tão mágico naquele início digno de conto de fadas. Uma vida cansativa e entediante cheia de mais baixos do que altos até o dia em que um alto príncipe de ombros largos aparecera em seu cavalo branco para mudar toda a sua trajetória e ajudando-a finalmente a encontrar o seu "e viveram felizes para sempre..."

Mas agora tudo parecia tão errado, tão diferente do que ela imaginara, do que ela pensara. Inha não sabia mais se queria aquilo. E não estava falando só do vestido, mas de todo o contexto que a rodeava. Estava cansada, dividida entre aquilo e todos os seus sonhos. Estava dividida entre tudo o que imaginara e sonhara com aquilo que todos ao seu redor decidiram, determinaram para sua vida.

- Inha? - a garota fechou os olhos e os abriu de novo balançando levemente a cabeça de um lado para o outro - Está tudo bem?

Ela olhou confusa para a mulher que anos antes havia lhe dado à luz. Estava tudo bem? Inha não saberia dizer, mas se limitou a fazer um gesto afirmativo com a cabeça deixando seus olhos voltarem-se para o espelho novamente. Não queria ter que explicar nada a ninguém, preferia ficar calada, sozinha em seus pensamentos.

- O que você achou? - a outra perguntou.

- Sobre?

- O vestido, oras! Deu um trabalho muito grande reconstruir o espartilho aqui atrás. Mas para uma prova está ótimo, quando você o tirar vai ser mais fácil de consertar, embora demorado. Ainda bem que você só vai se casar no final de novembro... - Inha agora prestava atenção na fala de sua mãe enquanto vasculhava o vestido para responder-lhe.

- Ele é lindo... Está muito lindo... - sua voz saiu baixa e seus olhos começaram a coçar. Aqueles pensamentos vinham lhe causando várias noites de insônia.

- Eu também achei! E olha não é porque eu fiz o vestido... Não, mentira, é porque eu fiz o vestido sim. Claro que minha filha linda também ajudou muito, aliás você é linda por minha causa também. Porque se dependesse só do seu pai... Quero nem pensar no desastre, minha filha. - as costureiras e assistentes que se reuniam ali enfileiradas com as mãos para trás do corpo sorriram, algumas tiveram que abafar o riso. Mas Ko Eunji e Inha deixaram suas risadas escaparem, aliviando o ambiente para as funcionárias.

Gonna Find YouOnde histórias criam vida. Descubra agora