Capítulo 1

325 22 3
                                    


Tinha sido um dia ameno nas terras montanhosas de Shibden Hall. Jeremy repousava na cadeira da sala, observando o tempo passar tão devagar quanto a respiração preguiçosa de Argus que tirava um cochilo no tapete. O senhorzinho se perguntou qual era o milagre de nenhum inquilino passar por ali para perturbar a paz tão rara e aporrinhar a filha mais velha, uma mulher que colecionava aventuras e conhecimentos dos mais diversos tipos.

Mas agora ele poderia se preocupar menos, por enquanto, após ela ter retornado da viagem de meses e ter alguma solução nova para os problemas que teve que tomar conta sozinho por conta da mina de carvão que ela havia planejado em fazer. Não era uma atividade fácil, desde que aconteceu a inundação da mina e Anne estava se aventurando em Copenhagen, sem a menor ideia do que estava acontecendo em Halifax. Seu medo era que perder a velha Shibden Hall fosse de fato, uma possibilidade. De qualquer forma, ficou a pensar se as coisas mudariam de rumo depois da pequena senhorita Walker aparecer por ali mais cedo, perguntando o endereço dela. Saiu tão depressa que não deu espaço para qualquer dúvida sobre aquela visita.

A Tia Anne desceu lentamente com a ajuda de Marian para esperar que o jantar fosse servido. Ela estava bastante animada, apesar do estado de saúde um tanto debilitado. Marian estava sorridente, não podia se conter em ver como a tia se sentia melhor desde que a sobrinha mais velha tinha retornado e também estava feliz por ter a irmã de volta. "Eu soube que a senhorita Walker passou por aqui. Ela não estava na Escócia?" O velho Jeremy abriu os olhos, sendo acordado do estado de sonolência que entrou há pouco tempo. "Sim? Sobre o que estamos falando?" Marian rolou os olhos, colocando a tia gentilmente no sofá.

"Sobre a senhorita Walker, pai." Marian disse alto, soltando a mão da tia e indo para a mesa que ficava atrás, servindo um pouco de chá. "Ela passou por aqui mais cedo. Pediu o endereço da Anne em Copenhagen." Jeremy apoiou o braço na madeira da cadeira, na lateral, mantendo a expressão séria no rosto. "Eu disse a ela que a Anne foi até o topo da mina para ver o Senhor Washington. Saiu tão rápido que nem pudemos conversar direito." A caçula resmungou, sentando-se na cadeira ao lado da lareira. Tia Anne sorriu, tomando um gole da bebida servida. "Oh, mas é compreensível, querida. Elas não se vêem há tanto tempo, com certeza a senhorita Walker gostaria de acertar as coisas com a Anne. Elas sempre foram muito afetuosas uma com a outra." Um riso compassivo soou. Com certeza a tia não poderia estar mais feliz de saber aquela notícia, já que há pouco tinha presenciado a sobrinha tão triste por não ter informação alguma, ainda mais com ela tão longe da cidade.

"Pobre senhorita Walker. Ela tem uma paciência de ouro para querer estar tanto perto da minha irmã." Marian engoliu o conhaque que estava na pequena taça que trouxe consigo mesma. De certa forma, ela não estava com tanta raiva assim, mas não daria o braço a torcer. Jeremy apenas tocou os dedos na madeira da cadeira, fazendo um toque constante, quase se irritando com as implicâncias da filha. "Querida, você sabe que a senhorita Walker é muito gentil com a Anne. É claro que ela não vai tratar a moça da mesma forma que trata você, já que você vive implicando com ela." Marian se deu por vencida com o sermão da tia. Não que ela estivesse errada, mas grande parte das brigas que tinham eram por se preocupar com a irmã mais velha que nunca estava em casa, se metendo em negócios que a colocavam em situações difíceis e sua imagem estava sempre manchada na boca dos habitantes de Halifax.

Sem ter mais argumentos, olhou para fora em busca de se distrair com alguma coisa. Notou um movimento diferente na frente da casa, assim como parecia que duas silhuetas estavam entrando na residência. A figura mais alta vestia um casaco preto e a menor trajava um azul contrastante, completamente diferente da cor escura ao lado. "Elas chegaram." Marian levantou, segurando as anaguas do vestido quadriculado. "É mesmo? Oh, meu Deus!" A tia Anne riu brevemente com uma felicidade imensa estampada no rosto. Pela porta da frente, Anne entrou na casa logo após Ann, segurando a mão da jovem e ambas com os sorrisos mais bonitos nos lábios. A mulher mais alta passou direto para o portal da cozinha, onde Cordingley preparava o jantar junto a Eugénie e Hemingway. "Hemingway, prepare os meus aposentos. Quero a roupa de cama nova." Ela apontou para a empregada que se curvou prontamente. "Eugénie, ma baignoire." A empregada francesa acenou com a cabeça, indo para os fundos com uma bacia com água.

Shibden HalloveOnde histórias criam vida. Descubra agora