Cap. 8 - Michelangelo, Charlie Chaplin e assuntos de toque

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"Você nunca verá um arco-íris se continuar olhando para baixo." Cito. "Charlie Chaplin."

"Eu gosto de andar na chuva, assim ninguém vê minhas lágrimas." Ele cita. "Uma das frases mais tristes, dita por um dos homens mais engraçados. Quão dolorosamente irônica a vida pode se tornar, não é mesmo?" Jacob sorri.

"Um pouco deprimente pensar desse jeito, fazer a memória do grande Charlie Chaplin desse modo tão triste." Disse.

"Bem... Ninguém é feliz na totalidade." Eu olho para ele.

"Você vê sempre o lado ruim em tudo?" Pergunto. Ele olha para frente e senta-se na grama ao lado da lagoa.

"Eu não vejo somente o lado ruim." Ele falou e afundou as mãos nos bolsos da calça. "Eu só acho presunçoso não ver também o lado ruim. Tudo tem um lado ruim. Só que existem pessoas que preferem ocultá-lo, e viver de ilusões." Ele diz.

"Eu penso muito sobre o que está errado a minha volta. Você sabe, uma pessoa como eu não tem o luxo de não pensar em injustiças. Mas quando tem algo certo, eu não fico me atormentando tentando encontrar defeito. A isso... eu não chamaria viver de ilusões." Digo sentando com ele. "Eu.. acho só... viver sem perder tempo pensando sempre no que está ruim ou errado em certo aspecto."

"Qual será o propósito disso?" pergunta. "Quero dizer, você come animais, e depois quando morre vai para a terra, terra essa que por natureza se transforma em relvado. O que é a comida dos animais que você comeu." Ele diz. "A vida não tem sentido, Solange. É o ciclo que ela tem. Onde há vida, há morte. Onde há coisas boas, há coisas ruins. É apenas lógica."

"De certa forma concordo com você. Falar sobre a vida não é simples quando temos percepções tão diferentes. Parece errado assumir o que é a vida e impor essas assunções para os outros. Eu diria que tudo é muito relativo... a vida é, de facto, confusa. Hoje você pode pensar assim.. mas quem sabe amanhã você a veja com outras cores."

"A vida não tem cores, realmente." Ele diz. "Você fala como um livro."

"Basta você querer que ela tenha." Digo. Ele olha para mim e eu para ele. Ele desvia. "E obrigada." Olho os carros passarem com velocidade e meu dedo sujar com o sorvete derretido. Inspiro com força o vento que passava agora por nós.

Eu pensava em como Jacob era triste.

Não quis dizer que ele estava sempre triste, eu sabia que não era assim. Mas eu sentia tristeza nele toda vez que ele abria a boca e balbuciava palavras pequenas e inocentes. Era bom conversar com ele, vi que tínhamos muito em comum. Partilhávamos conhecimento por filosofia e literatura, e você sabe... não há nada melhor do que isso.

Entende? Se conectar com alguém em um nível tão pessoal quanto a partilha de pensamentos internos é a melhor forma de mostrar sua intelectualidade e amizade. Sempre foi sobre isso. Partilhar conhecimento, discutir hipóteses e poder rir de coisas idiotas como o aspecto unusual de um pássaro.

Mas não se tratava apenas de me conectar de forma saudável com Jacob. Era absolutamente saudável discutir assuntos filosóficos com ele.

Mas não deixo de me perguntar, alguém com a inteligência e se posso dizer, nível intelectual de Jacob, deveria ser tão triste?

Raspo a ponta de minha unha pela casquinha do sorvete em frustração e suspiro. Pensando no que Jacob poderia ter.

"Eu fui diagnosticado com depressão e anorexia, há cerca de um ano." Ele diz, chamando a minha atenção. "Penso que é sobre isso que está pensando?" Ele olha para mim. Eu pisco e olho para a estrada novamente. "Foi... foi depois do meu irmão morrer."

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