Jimin sentia seus pés fora do chão, como se fosse puxado para longe do próprio corpo, flutuando em um vazio pesado e sem cor. A cena à sua frente começava a tomar forma, um altar frio e sombrio, iluminado apenas por uma luz fraca e quase fantasmagórica. Lá estava ela, sua esposa, parada, com um sorriso doce que parecia congelado em seus lábios. Os olhos dela o perfuravam com uma intensidade perturbadora, um olhar que parecia enxergar através de sua alma, dissecando cada pedaço escondido de si.
Ele tentou dizer algo, mas as palavras se afogaram em sua garganta. Os rostos ao redor dos dois, borrados e distorcidos, aplaudiam, mas os aplausos soavam como lamentos longínquos, ecos de almas aprisionadas. Um nó se formou em seu estômago enquanto ela continuava a encará-lo, seus lábios movendo-se suavemente para pronunciar palavras inaudíveis, incompreensíveis, como uma maldição sussurrada. Jimin sentiu um arrepio frio rasgar sua pele, congelando-o no lugar.
Ele piscou, e quando abriu os olhos novamente, o rosto da esposa já não era o mesmo. A pele dela começou a derreter, escorrendo como cera, revelando uma carne putrefata por baixo, enquanto uma escuridão densa e viscosa cobria seus olhos. Um sorriso insano começou a se formar em seu rosto, um sorriso grotesco, largo demais, revelando dentes afiados que sangravam e pulsavam, como se estivessem vivos. A risada dela enchia o ambiente, aguda e retorcida, um som que penetrava os ouvidos de Jimin como agulhas.
Ele tentou recuar, mas seus pés estavam presos ao chão, e cada movimento era dolorosamente lento, como se o ar ao redor dele tivesse se transformado em um líquido espesso e sufocante. Jimin sentiu o peso esmagador de sua própria impotência, uma sensação desesperadora que o afogava. A boca dela se abriu ainda mais, um abismo de escuridão onde os dentes gotejavam sangue, e então ela avançou para ele, faminta, pronta para devorá-lo por inteiro.
Com um grito silencioso, ele viu os dentes dela se aproximando de seu rosto, cada vez mais perto, até que...
Ele acordou.
O peito arfando violentamente, o quarto mergulhado em penumbra. Sentado na cama, sentiu o peito subir e descer em respirações rasgadas, tentando expulsar a última sombra do pesadelo. Por um momento, tudo o que ele queria era voltar para o sono – mesmo com os sonhos que o assombravam. Passou as mãos pelos cabelos suados, sentindo o tremor fino nos dedos.
Fez um esforço para levantar-se e foi até o banheiro. Encostou-se na pia, encarando o próprio reflexo no espelho. As olheiras profundas, a palidez que parecia acentuar a angústia nos olhos… Era como se estivesse vendo alguém que mal reconhecia. Por um instante, o rosto da ex-esposa passou em sua mente, e ele afastou a lembrança com um suspiro pesado.
Abriu o armário do banheiro, onde uma pequena fileira de frascos repousava, testemunha silenciosa de suas lutas. Pegou um dos potes de comprimidos, retirou um e colocou-o na boca, deixando que o amargo se dissolvesse brevemente antes de engolir. Esse era o preço de manter tudo sob controle – ou ao menos de fingir que conseguia.
O efeito era rápido, anestesiando levemente o pânico que ainda pulsava sob sua pele. Ele ajeitou a postura, lutando para se recompor. Precisava encontrar forças para mais um dia de trabalho, encarar as pessoas, enfrentar o olhar julgador dos parentes e as demandas constantes dos filhos, que esperavam dele uma figura sólida e incansável. Mas, por dentro, Jimin se sentia desmoronando.
Quando Jimin saiu do banheiro, sentiu o impacto suave da claridade do corredor e avistou Minki encostado no batente da porta, abraçando seu ursinho de pelúcia favorito. Os olhos do menino estavam fixos nele, sem expressão, quase perdidos em algum lugar que Jimin não conseguia alcançar. Após um breve silêncio, Minki soltou, num tom baixo e hesitante:

VOCÊ ESTÁ LENDO
Daddy Is In Love
RomanceCom a crise financeira que ameaça levar a sua empresa à falência, Park Jimin se vê forçado a sair de sua bolha de luxo e enfrentar os desafios de uma nova vida com seus cinco filhos. Acostumado a liderar grandes reuniões e tomar decisões, ele agora...