Início

119 4 0
                                    

Gaara

Acordei tarde. Eu simplesmente estava com zero vontade de ir para a escola. Por sorte, meus pais se importam o mesmo tanto comigo. Ser o mais novo tem suas vantagens em certos momentos. Havia passado a madrugada em claro jogando videogame, então estava exausto.

Me levantei e fiz minha higiene cotidiana. Vesti uma bermuda preta e uma camiseta vermelha com alguns detalhes. Desci as escadas descalço. Ao passar por um espelho de parede, pude ver a gigantesca palidez que sou eu. Minhas olheiras como sempre se destacavam em meio a tanta falta de cor.

As férias de verão haviam terminado há uma semana e era evidente o fato de que eu tinha faltado ao encontro familiar na praia durante esse tempo. Meus pais viajaram com meus irmãos e avós para nossa casa praiana, mas eu resolvi ficar. Não me sentia acolhido de qualquer forma. O filho esquecido que eles sequer dão a mínima.

Meu café da manhã estava pronto. Delilah sempre deixava guardado com um protetor de metal nos dias em que eu faltava. Me sentei à mesa e descobri tudo. Comi lentamente pensando na vida. Sinceramente, eu parecia um zumbi: completamente sem vida.

Peguei meu carro da garagem. Eu tinha três, mas raramente usava os outros dois na cidade. Um eu usava para viagens, por ser uma Hilux; o outro só para eventos, por ser uma Lamborghini veneno; já o último era apenas uma BMW i8 prata que eu normalmente uso. Sim, só dois lugares para não correr o risco de eu virar o uber da galera todas as vezes. Na verdade, eram raros os momentos em que eu dava carona para alguém que não fosse mais uma das garotas que eu saio.

Novamente a vida de fanfarrão. Acho que é o maior clichê dos Estados Unidos da América, completamente reforçado por seriados e filmes adolescentes. É completamente comum ter um cara popular na escola por ter pais podres de ricos e não ter feito nada para merecer as coisas que eles dão; ainda por cima pegar todas as garotas na tentativa de suprir essa necessidade de se provar "incrível".

Eu critico completamente isso, embora eu seja um desses caras. Honestamente eu amaria não ser, mas a sensação de ter o mundo em suas mãos dá uma energizada na espinha. É o famoso bônus que some em segundos e deixa enormes efeitos colaterais que te mantêm pensando que se sua vida não for cem por cento do tempo dessa forma, você é um total fracasso. Uma idiotice.

Liguei o som no máximo sem me preocupar com o resto do mundo. Saí do condomínio após acenar para o segurança. Todo o assunto da praia me deu uma vontade de dar uma olhada. Tive que dirigir por um bom tempo até chegar lá. Isso tudo para dar uma olhada rápida e retomar meu caminho para lugar nenhum.

Bati a porta do carro com leveza antes de ir direto para uma sorveteria no centro da cidade, umas quadras abaixo da minha escola. Tinha uma moça muito educada cuidando do lugar. É minha sorveteria favorita, apesar de ser pequena eles sempre cuidam bem de seus clientes. Às vezes a dona, uma senhora, vem para ajudar a filha, a moça adulta que geralmente trabalha sozinha. Raramente eu vejo um homem de cabelos castanhos, que julgo ser parte da família, dando uma mãozinha para as duas.

Pedi o de sempre e não demorei muito ali. Permaneci sentado apenas até o momento em que só restasse a casquinha e o sorvete contido dentro dela. Comi o restante dirigindo o carro. Parei para abastecer uma vez e continuei seguindo até o momento em que percebo meu celular vibrando no banco ao lado.

-Neji?

-Oi, Gaara. Lembra que eu prometi nunca mais te pedir ajuda?

Honestamente eu gosto muito de ajudar o Neji. Mesmo que ninguém o mantenha em um emprego por ele morar no lado mais perigoso do Bronx em Nova York, eu continuo tentando ajuda-lo a achar um novo, e até empresto uma grana – sem qualquer intuito de receber de volta. Eu uso o termo "emprestar" porque o faz se sentir menos pior com a situação.

Start overOnde histórias criam vida. Descubra agora