Prólogo

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 Eu lembro muito bem da chuva. As gotas grossas de água explodindo como granadas ao entrarem em contato com o asfalto. O cheiro de molhado impregnando cada centímetro quadrado de ar, e a sensação da minha jaqueta pesando nas costas, pressionando minha camisa contra a pele.

  Além disso, me lembro da tristeza no meu peito quando eu lembrava de Sarah, e lembro da vontade que eu tinha de não ter esse maldito poder.

  E eu lembro da luz.

  Duas bolas de luz paralelas se aproximando pela névoa. E então, escuro. Ambulância, "socorro!", sirene. "O que eu fiz?!".

  Uma comunicação rápida em mediquês, e, na cabeça daqueles paramédicos, o tédio. Não o tédio que se tem numa tarde de domingo, tinha adrenalina demais. Ainda assim não chegava a ser algo importante, não era insólito o suficiente para que eles ficassem empolgados. "Mais um atropelamento, o que essas pessoas tem na cabeça para dirigir na chuva?" E me segurei para não responder que eu não queria estar ali. Mas ela não podia saber que eu lia mentes com a mesma facilidade que eu lia um livro infantil. Então, fechei os olhos para cessar a vasculha involuntária que eu fazia no subconsciente de cada pessoa que entrava no meu campo de visão.

E então, nada.

Ponderei por algumas horas se devia ou não inventar fatos para tornar minha história mais interessante, e cheguei à conclusão de que não o farei. Será uma história crua. Se você encontrou este diário, significa que eu já [trecho ilegível]. Mas não se preocupe, eu tive uma vida longa.

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