¬nozes

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Os lábios gelados descendo pelo meu pescoço, as mãos grandes e quentes procurando algum pedaço de pele minha exposta mesmo com tanta roupa que eu estava vestindo. Os suspiros pesados, meu cabelo sendo puxado me deixando ainda mais vulnerável... e a pressão sendo exercida sobre minha virilha me fazia delirar. Eu já estava tão entregue, tão perdida entre sentimentos intensos, que se me perguntassem meu nome, eu não seria capaz de lembrar.

Eu sabia o que iria acon-

— VOCÊ NÂO SABE O QUE ACONTECEU!

Gritei! Gritei e derramei o meu cereal que nem havia tocado, inteiro sobre a pia.

— Como você entra gritando assim nos lugares garota? — pergunto enquanto continuo de costas catando os meus cereais derramados. O que eu estava pensando? Meu deus! Eu não poderia me virar e encarar Bianca com meu rosto completamente em chamas.

— Eu completei meu cartão fidelidade na loja nova do campus! — ela disse empolgada — eu ganhei um pedaço gi-gan-te daquele bolo de nozes que a gente tanto ama.

Desisti de catar o resto dos meus cereais e só joguei tudo no lixo. Logo depois virei para olhar para Bianca que segurava a embalagem da loja.

— Você está bem? — me perguntou e olhei confusa para ela.

— Estou. — confirmei — por que?

— Seu rosto está vermelho. Achei que estava com febre. — Bianca disse sem se importar muito e foi até o nosso balcão que dividia a sala da cozinha, deixando o bolo sobre a pedra escura.

Coloquei as mãos sobre minhas bochechas e elas pareciam quentes. Tudo por causa das benditas lembranças! Meu rosto estava em chamas, assim como todo meu corpo.

— Acho que você está vendo coisa. — desconverso e pego no escorredor de louças duas colheres, vou até o balcão entregando em seguida umas das colheres para Bianca que já tinha aberto a caixa deixando o nosso pedaço de bolo exposto.

Ela pegou um pedaço grande do bolo e deu de ombros. Terminamos de comer o bolo em poucos minutos e ficamos discutindo sobre como um bolo pode ser tão gostoso como aquele. A nova loja do campus estava nos deixando pobre aos poucos, já que grande parte do nosso dinheiro ia para a caixa registradora de lá. Posso dizer que quase todo o campus era daquele jeito.

— Acho que é lavagem de dinheiro. — Bianca fala depois de colocar a caixa de papel no lixo e nossas colheres na pia. — Digo, do nada um ex-aluno abre uma confeitaria no campus onde eles fazem o melhor bolo do mundo e por um preço até razoável, só pode ser lavagem de dinheiro. Pegando do nosso bolso e enchendo os bolsos dos donos a cada fatia.

Rio da teoria de Bianca e vejo meu celular vibrar sobre o balcão anunciando uma mensagem recebida, pela barra de notificações, vejo quem mandou e o conteúdo dela.

"Vou esperar por você."

Ignoro a mensagem assim como todas as outras que havia recebido até agora e travo meu celular, deixando ele no mesmo lugar.

— Aconteceu algo que eu deva saber? — Bianca me pergunta assim que meu olhar cruza com o dela e pelo seu tom de voz, sei que ela sabe de algo.

— Por que? — pergunto me fazendo de desentendida. — Parece que aconteceu algo?

Ela parece me analisar por um tempo e pensar bem antes de falar: — Não, é que encontrei o Gabriel na confeitaria e ele me perguntou de você. Me perguntou se você estava bem. — a última frase ela falou pausadamente, como se quisesse me induzir a algo. Se eu não conhecesse minha melhor amiga tão bem como conheço, eu seria descoberta ali.

— Não nos vimos muito na última semana. — não minto — Ando ocupada com os trabalhos da faculdade e ele com o estágio —, mas também não falo a verdade. A última semana eu havia passado toda enfiada dentro do meu quarto, mas não estudando e sim assistindo filmes e seriados com um balde de pipoca do meu lado. Bianca me analisou mais uma vez e engoliu minha desculpa; ou então fingiu engolir.

— Certo. — pegou sua bolsa que estava em cima do balcão ao meu lado e passou em direção aos quartos. — Você vai sair? — não me deixou responder. — Vamos assistir um filme? Recebi uma notificação da Netflix avisando que o filme que eu queria ver já está disponível.

Meu celular vibrou novamente e dessa vez eu não cheguei nem a olhar, apenas virei sua tela para baixo e me joguei nos sofá.

— Qual o nome? 

O Desastre Amoroso de Hayley ManatoOnde histórias criam vida. Descubra agora