Capítulo 02

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Haniel


— Pai...

— Não.

— Pai...

— Não.

— Por fa...

— Acabou o seu tempo, Haniel. Chegou a hora de assumir o seu lugar.

— E arrumar uma mulher boa para sossegar – minha mãe entra na conversa.

Não adianta falar nada. Não serei ouvido pelas próximas horas enquanto sou refém do senhor Raziel e senhora Lilly Saints. Esse inferno começou hoje, mais especificamente há algumas horas quando os chefes Saints invadiram o meu consultório na WellCare para anunciar minha subida ao trono. Desde então paz foi deletado do meu dicionário.

Nós somos a primeira geração que pode ter uma profissão além de ser herdeiro das Organizações Saints. Eles nos deram isso por causa de nossas mães que insistiram que deveríamos ter vida antes de nos dedicar totalmente ao mundo da família. Fomos treinados, torturados, iniciados e talvez para amenizar tudo o que passamos, ganhamos esse pequeno tempo de liberdade.

Tanto Raffaele, quanto Aniella ou eu, temos nossos próprios demônios. No meu caso, não só a nossa iniciação, mas o fato de ser adotado. Ainda me debato sobre isso, não acho que eu mereça herdar a cadeira do meu pai, mas a família insiste. Eu sou um Saints, cresci sabendo disso. Todos me amam como se eu fosse seu próprio sangue, mas não sou, então não me acho digno estar no trono. Cada vez que tive essa conversar com o meu pai, ele ficava furioso.

Raziel Saints me criou como dele. O homem me ensinou tudo o que eu sei, cuidou de mim e deu mais do que uma criança possa imaginar. Quando cada irmão meu nasceu, ele priorizava a mim. Eu fui amado por um homem que não precisava me dar nada! Fui adicionado a uma família que nunca questionou o meu gene, afinal, meu progenitor tentou o matar duas vezes. Minha mãe fez questão de que eu sempre soubesse a minha história para ter noção de quem eu poderia ter sido, para ser grato por quem sou.

Não me revoltei, não tinha motivos para isso. Raziel Saints é o meu pai e antes dele não houve ninguém. Ele costumava dizer que se fizessem o teste de DNA todos veriam que eu sou um Saints. Ele não me adotou apenas de coração, nos ligamos pela alma. Nunca questionaram a minha paternidade... na verdade, aconteceu uma vez e desde então ninguém mais ousou questionar.

Eu fui uma criança sortuda. Tive uma mãe que lutava por mim e em meio a essa luta, encontrou uma família que nos acolheu e um homem que nos amou. Fui para as melhores escolas, ganhei um carro de luxo quando tirei minha habilitação, tive conselhos e broncas de um pai preocupado. E mesmo quando ele estava puto, Raziel me tratou como uma das coisas mais importantes de sua vida. Ele me ensinou a ser um homem e disse que eu nunca devo nada a ninguém por me amarem. Ou seja, não devia nada aos Saints.

Fui mimado por avós e tios que me mostravam a cada dia o quão importante eu era. Raffaele, Aniella e eu fomos criados juntos porque fomos os primeiros a nascer, mas a minha responsabilidade era maior porque era mais velho. Sou privilegiado e agradeço a Deus por isso. Não é todo mundo que adota uma criança e a ama como se fosse seu próprio sangue. Da mesma maneira que fui amado, também tive brigas e momentos difíceis. Porque famílias são assim, estão lá para o bom ou para ruim.

Minha família é descendente da máfia italiana. Desertores que fugiram da Itália rumo aos Estados Unidos para reconstruir suas vidas longe dos desmandos da máfia. Em meio a perseguições e à queda do império criminoso, Giuseppe Luchese partiu clandestinamente em um navio cargueiro rumo à América. Com ele vieram Narciso Lugharelli e Carlo Vittore, também com suas esposas e filhos.

Haniel - Trilogia Tríade (Livro 01) [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora