A Biblioteca

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Katie(Jéssica)

  A sessão da quimioterapia foi...bom, estranha. Acho que é pelo fato de eu nunca ter imaginado que iria ter que passar por isso algum dia. Estava com muito medo mas conversar com Cristian me ajudou a me acalmar um pouco.
  Por que ele é assim, hein? Tão...tão...AAH até me faltam palavras!
  Eu sinto que ele é uma pessoa diferente, de outro mundo, que não é normal e...ok, ele definitivamente não é normal! Que pessoa no planeta Terra não conhece uma biblioteca?! Isso é surreal!
  Mas falando disso, lembrei da nossa lista e instantaneamente um sorriso surgiu em meus lábios.
  Sentei no sofá para relê-la.
  -Ir a praia. Faz tanto tempo que não vou lá, Mingau!- olho pra ele, que pede carinho colocando sua pata em meu colo- Engraçado como o Cristian não questionou sobre o "se apaixonar".- faço carinho no Mingau- Ou será que já está apaixonado e por isso não se importou? E se estiver, por quem?- olho pro Mingau- Ok, tem razão. Sem paranóias desnecessárias.
  Pego o celular e entro no contato dele. Digito:
 
  Ei, como somos amigos, pode me dizer por quem está apaixonado? Ela é bonita? Eu conheço? Me passa o endereço AGORA!
 
  -É claro que eu não posso enviar isso. Vai me achar uma louca! Mas preciso de informações...ok, vou esquecer.
  Não sei se é porque me levanto rápido demais do sofá, mas de repente sinto uma tontura muito forte...preciso ir no banheiro!
  Saio correndo e ao abrir a porta vomito todo o almoço. Enquanto tento me limpar, o banheiro começa girar a minha volta. Rapidamente tento ir para o meu quarto, derrubando enfeites e quadros na parede, afim de tentar me apoiar. Deito na cama e fecho os olhos.
  -Eu...preciso do...- lembro que meus créditos expiraram hoje- Oh, não! Ok, só preciso...de uns minutos...- quarto girando, respiração rápida...
  A campainha toca. O som é longe mas faz com que minha cabeça doa.
  Levanto e tento caminhar até a porta de entrada, esbarrando nos objetos que derrubei.
  -Senhorita Katie?- ouço a voz feminina do outro lado da porta-Está tudo bem?
  Sinto tudo escurecer antes de conseguir mover a maçaneta.
  -Senhorita Katie, eu ouvi uns barulhos e...- Apago.

  Estou em um quarto deitada em uma maca. As vozes ainda continuam longe, mas sinto alguém tocar a minha mão.
  -Katie?- fixo o olhar para que volte ao normal, e o vejo- Katie, sou eu, o Cristian. Você está bem?
  -Cristian...
  -Senhorita Katie!- a voz feminina que ouvi da última vez- Fiquei tão preocupada! Não sabia pra quem avisar que estava vindo no hospital com você, então liguei pro seu contato mais recente.
  Olho para Cristian. Ela ligou para a pessoa certa.
  -Obrigada...- acabo de me lembrar que não sei o nome dela.
  -Denise. Apenas Denise, nada de "dona Denise". Tenho umas rugas mas não sou tão velha assim!- ela ri e lhe sorrio- Vou chamar o médico para conversar com você.
  Assim que ela sai, percebo que a mão de Cristian ainda está junto da minha.
  -Fiquei preocupado. Quando sua vizinha me ligou, encontrei aqueles...táxi e vim o mais rápido possível.- enquanto explica, seus olhos não desviam dos meus- Hospital é muito triste.
  -Ia te ligar mas estou sem crédito. Foi tudo tão rápido.
  O médico entra no quarto, acompanhado da dona Denise. Quer dizer, apenas Denise.
  -Olá, está se sentindo melhor? Vamos conversar sobre o que aconteceu e eu vou explicar os efeitos que as sessões vão trazer.

  Uma hora depois, voltei pra casa de táxi com Cristian. Ele insistiu em ficar um tempo comigo, até ter certeza de que estou bem.
  -Mas Cristian, eu...
  -Não, nada disso. Eu vou ficar aqui com você e ponto.- ele faz uma cara séria, brincando, na tentativa de demonstrar que é superior.
  Mostrei um aplicativo de fotos para termos ideias do que pintar na tela.
  -Está animada para fazer a lista comigo?- ele pergunta, me encarando. As minhas opiniões parecem ser muito importantes pra ele.
  -Claro! Mas, sabe, aquela sobre...- não sei se deveria tocar no assunto do "se apaixonar" agora. É muito delicado e não imagino como será a sua reação- competição de ciclismo parece ser bem legal.
  -Eu já pesquisei mas ainda não tenho certeza do dia, então primeiro acho que devíamos ir na biblioteca.- Cristian sorri. O sorriso mais sincero e meigo que já vi.
  -Ok, então vamos agora!- levanto do sofá.
  -Que tal irmos amanhã? Você não está totalmente...
  Sento novamente e pego o celular, fingindo pesquisar mais fotos. Não quero ouvir a palavra "bem". Sei que "bem" está longe de ser o meu estado agora.
  Encosto a cabeça no ombro dele e o observo navegar pelo aplicativo.
  -Olha, um desenho artístico de um cachorro. Perfeito pra você!- ele coloca o seu celular perto do meu rosto.
  -Sim!- rio- Vou tentar, quem sabe. Agora afasta um pouco o celular, está me fazendo rir.
  -Estou? E não são cócegas que fazem as pessoas rir?- ele se afasta e continua me olhando.
  -Também, mas...- Cristian começa a fazer cócegas em mim- CRISTIAN!- grito em meio aos risos.
  -Que foi? Não gosta de cócegas?- ele sorri, sem se afastar.
  -Para!- acho que vou morrer de rir ou de nervoso por estarmos tão perto- Eu...alguém me ajuda!
  Ele para, ainda sorrindo e olhando para mim.
  -Isso não teve graça, ok?- tento repreender mas os risos ainda não cessaram.
  -Teve sim.- Cristian me abraça.

  A tarde fomos a biblioteca depois de receber muito carinho e um mini sermão por contar que não estou me alimentando bem.
  -Você sabia que a alimentação para um ser humano é muito importante?- disse ele enquanto atravessamos a rua- Ela contém proteínas, carboidratos...
  -Sim, sim, contém tudo isso!- eu disse tentando não demonstrar que aquele sermão já estava ficando chato.- Olha, eu vou me esforçar pra comer melhor, está bem?
  Cristian para bruscamente.
  -O que foi?- é aí que percebo que chegamos na biblioteca.
  -É tão...- seus olhos estão brilhando.
  -Incrível? Maravilhoso? Esplêndido? É. - sorrio e entro- Espera só até você...- de repente Cristian passa por mim correndo e vai à uma estante de livros. Ele está tão fascinado com tudo isso.
  -Posso levar alguns pra casa?- ele folheia um livro de romance.
  -O máximo é três. Pode escolher.
  Ele sorri e seus olhos continuam brilhando. Não vejo a hora de ouvir ele me contando sobre essas histórias.
  Sento em uma poltrona depois de devolver O homem na Lua (tirei o lembrete de Cristian antes de entregar. Guardei na minha gaveta, mas ele não precisa saber disso).
  Ainda me sinto zonza. Acho que foi por causa da caminhada até aqui.
  Cristian vem ao meu encontro e me entrega um livro.
  -Eu encontrei dois desse, então nós vamos ler juntos, ok?
  -Tudo bem.- leio o título- A culpa é das estrelas. Ta legal, vamos ler.
  -Vou pegar só mais um. Me espera aqui!- e sai todo animado entrando em outro corredor de livros.
  Fico o olhando se afastar e uma felicidade me invade. É tão bom ter Cristian por perto.

Um amor, uma curaOnde histórias criam vida. Descubra agora