filosofia barata de escritores perdidos.

tons de sangue também pintam quadros

meu medo me fez uma artista coberta de desespero, e meu sangue é o novo tom suave da dor, o único que eu consigo ver entre o caos angustiante que condena meu corpo. ele desenha meus medos em tons vivos sobre meu próprio pulso, adornando a pele que queima abaixo do vermelho cegante, juntando-se na ponta dos dedos e escorrendo como tinta num quadro branco em um estúdio qualquer.

eu sou o poema exposto pela dor, meu bem; eu sou o caos. ele me molda entre as palmas das mãos pesadas, me sufoca com o cheiro de metal grudado na ponta do pincel, me transforma na própria descrição dos meus pesadelos mais profundos.

e eu os vejo todos os dias, quando olho para o espelho que sussurra em meu ouvido seus murmúrios desesperados, refletindo meu rosto nele; enxergo tão bem os desenhos feitos de cicatrizes pelo meu corpo.

eu não queria, mas sou meu próprio inferno. eu queimo em minhas próprias lembranças com gosto de metal, me condeno pela dor espalhada por minhas veias, me mato de dentro para fora todas as vezes em que peço baixinho para que meu coração pare de bater.

eu sou a representação bonita da morte na filosofia barata de escritores perdidos, sou os poemas bonitos de dor.

eu sou o troféu da depressão, pois, assim como ela queria eu me matei com suas ilusões dolorosas em minha cabeça.

meu sangue é a cor mais pura da dor, e eu vejo os tons sumirem todos os dias quando me impesso de viver, quando me obrigo sentir dor para sufocar a culpa que eu insisto em carregar nas costas.

minha dor escreveu em mim sua tristeza profunda, me transformou apenas naquilo que ela quer ver. e eu peço todos os dias para que um dia eu consiga apagar os rabiscos em vermelho que o medo coloriu em meu corpo;

eu peço todos os dias para que eu possa reviver em tons brancos e dessa vez, possa ser reescrita pela felicidade e não pelo desespero.