Setembro de 2016 - 23H30 - São PauloQuem transitava por ali conseguia ouvir entre os prédios e becos o eco dos pneus que cantavam uma sinfonia em declínio para a morte ou para o que a própria sorte lhes trouxesse.
Entre passos inseguros na noite que se tornava ainda mais obscura sob o breu da cidade cinza, as sirenes eram ouvidas aproximando-se cada vez mais em algum ponto da avenida trazendo junto ao vento frio daquela noite um incomodo em quem ainda não estava encoberto pelo descanso.
Os automóveis percorriam em alta velocidade levando consigo algumas latas de cerveja que esmagavam pelo caminho. Não se sabia ao certo de onde vinham e à quanto tempo estavam no trajeto que mais lembrava uma perigosa brincadeira de gato e rato.
Só conseguiam enxergar os faróis altos se aproximando como disparos frenéticos que antecedem um aviso, dando a quem assistia alguns poucos segundos para se desviar ou então se tornar um número estatístico por atropelamento.
O motorista em fuga distribuía seu olhar entre o retrovisor e o para brisa. Um segundo em falso e seu plano estaria perdido. No porta luvas entre aberto o cromo da arma refletia a luz amarela dos postes que ficavam para trás como esperança que se vai.
Sua testa transpirava com a tensão enquanto seu coração acelerado dava sinais de que algo em seu corpo não estava bem. Tirou a mão direita do volante e passou nas gotas de suor enquanto calafrios lhe percorreram a espinha e a superfície de sua pele tremeu.
- Droga! - Balbuciou com a voz trêmula para si mesmo. Afinal no percurso da morte quem nos acompanha?
Chegaram no acesso à Avenida República quase se perdendo em uma curva. As únicas testemunhas estavam debaixo de cobertores finos e casebres de papelão e madeira, fingindo não ver e ouvir nada.
Já em frente a estação do metrô ele observou de relance o terraço Itália imponente e marcante ao lado da Obra de Niemeyer "Grandes obras tem pequenos inícios" pensou enquanto afundava o pé no acelerador.
Atrás a fileira de viaturas já formava cinco veículos perseguindo com agilidade, embora a raiva já consumia o raciocínio dos agentes que vez ou outra derrapavam nas ruas desniveladas.
- Esse cara deve ter cometido um crime absurdo! - Falou o policial do primeiro carro sem desviar os olhos de seu alvo.
Seu parceiro o capitão, retirando a pistola do coldre exclamou já pondo a cabeça para fora enquanto o vento batia em seu rosto.
- Não sei qual foi o crime que esse merda cometeu soldado, mas já estou cansado dessa brincadeira.
Sem hesitar apoiou o punho com a mão esquerda e mirou. O dedo escorregou pelo gatilho enquanto o cruzamento se aproximava; o estampido seco ecoou espantando alguns pombos do topo dos prédios.
O projétil espatifou o vidro traseiro do carro à frente. Assustado ele reduziu a velocidade por alguns segundos sentindo seus batimentos cardíacos acelerar enquanto retomava o fôlego.
"Só mais um pouco" pensou com as mãos já tremendo no volante.
- Quase! Acelera soldado, Acelera! - a voz do capitão fluía carregada de adrenalina.
Logo atrás as outras viaturas seguiram o ritmo ditado e enquanto a velocidade aumentava alguns dos outros soldados empunhavam suas pistolas.
- Se... Se um milagre não me salvar agora... Então é o fim - disse ele com o vento tomando conta do veículo e já com os olhos desfalecendo.
- ATIRA DE NOVO CAPITÃO! - um soldado empolgado gritou pondo parte de seu corpo para fora.
Ao mirar novamente o soldado que conduzia o veículo disse:
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M.A.N.T.R.A - O Último herdeiro
Historia CortaA história esconde segredos que a humanidade jamais cogitou em questionar. Nem sempre o que nos contaram são a verdade de fato, entre uma e outra ocorrência histórica a influência de forças além de nossa percepção assinalou o molde do que vivemos ho...