Capítulo 1

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Adina

Era primavera. Tudo estava florido lá fora. Meu quarto tinha pouca iluminação do dia, por isso eu tirava um pouco do meu tempo para andar nas ruas. Meu cantinho era embaixo da casa da bruxa e suas filhas gêmeas más. Na verdade, a casa era uma mansão de tão grande, era encantador o lugar — menos quem morava dentro dele! Elas tinham os melhores carros, as melhores comidas e as melhores roupas... Eu percebi que minha vontade de viver era grande, porque acredito que outra pessoa em meu lugar já teria se matado de tão intolerante e severa que eram essas três mulheres juntas. A pior parte é que eu morava com elas, era a empregada delas. Uma das gêmeas, Lara, sempre foi melhor pra mim, sempre conversou comigo e desde pequena brincávamos juntas... Mas Tamara sempre atrapalhava nossas conversas, então nos afastamos.

Acordei bem cedo para ter o meu tempo sozinha, correr, poder ser livre, pelo menos por alguns minutos. Ainda escura estavam as ruas, sem vizinhos, sem nada. Sempre foi assim, um lugar no meio do nada onde eu me encontrava.
Lá no começo da minha rua eu conseguia ver aquela grande mansão, e na janela estava Tamara, uma das gêmeas - assim que me viu, ela saiu correndo de lá.

—Demorou muito pra chegar, está um minuto atrasada, não vai à escola se não conseguir terminar de limpar a casa toda! — Gritou a bruxa Ester jogando em mim uma vassoura.
—Desculpa, senhora Ester!
—"Senhora Ester", não! Senhorita! Mora desde seus doze anos comigo e ainda não aprendeu como deve me chamar? Menina hipócrita! Ainda bem que seu pai não está mais entre os vivos, seria horrível ele ver como você cresceu mal-educada.

Horrível mesmo era ouvir falar mal dos meus pais. Por longos anos me senti culpada pela morte da minha mãe. Ela faleceu assim que eu nasci, ela deu a luz e morreu. E meu pai procurou uma mulher para ficar novamente, eu entendo, ele precisava mesmo de alguém, porém ele encontrou a pior pessoa da face da terra! Ester e suas filhas.

Eles se identificaram, pois os dois estavam sozinhos, com filhas da mesma idade. Mas depois de dois anos, ele partiu também... Por conta de uma doença irreconhecível.

—Me desculpa! — sussurrei.
—Desculpa, desculpa, só ouço desculpas. Se fizesse as coisas direito pelo menos... Hoje por castigo, quero ver essa casa brilhando, armários limpos, guarda–roupas arrumado. Até o porão lá fora eu quero que limpe. Você não vai à escola hoje! Você achou que ia ter uma vida de rainha igual sua mãe?
— Hoje é o primeiro dia de aula. — ignorei a pergunta sobre minha mãe.
—É mesmo?! Eu sei! Minhas filhas vão.

Ela saiu andando pela casa dando risada. Ela sempre me perguntava se eu "achava que ia ter uma vida de rainha igual minha mãe", só não sei que vida era essa! Também não sei como ela sabia da vida da minha mãe antigamente.

Meu dia foi longo, mas não deixei ser tão cansativo. Enquanto eu limpava, eu cantava uma música que eu criava, dançava e brincava comigo mesma. Tarde da noite, quando eu terminei de limpar a mansão, eu fui para o porão — a porta estava entreaberta, logo estranhei, pois sempre ficava trancada — ali só ficavam livros, coisas antigas e velhas. Abri mais a porta, peguei tudo o que precisava para limpar e entrei. Onde passava tinha pó, todo lugar tinha pó! Só a escada estava um pouco melhor, na verdade ela estava limpa, pelo menos os corrimãos — estranhei.

Branca e o LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora