Masoquismo

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Indiferente, quieto, misterioso, lindo.

Era assim que a maioria de seus alunos definiam Izuku Midoriya, que leciona química na escola em que trabalha. Seu contato com os outros professores era mínimo, seus companheiros de trabalho diziam entre eles que ele os faziam sentir um certo medo, e ao mesmo tempo uma atração, e Izuku sabia disso, era comum para ele ser enxergado dessa forma, bom, menos pelo seu aluno bicolor.

Todoroki era quieto em suas aulas, o olhava com indiferença, tinha os olhos distantes e profundos, a cada aula Izuku se via prestando mais atenção no garoto.

Um dia se viu observando o aluno praticar educação física. O corpo magro e belo do outro era lindo ele confessara, enquanto passava os dedos da mão que apoiava o rosto nos lábios, mas suas expressões de cansaço era o que definitivamente o fascinava. Observa-lo todo dia se tornou um hábito.

Claro que ele já teria se interessado em outros de seus alunos, mas nenhum como Todoroki, nenhum despertava a imaginação fértil de Midoriya e a vontade de ter aquele corpo em sua sala especial, ninguém nunca valera a pena esse esforço e perigo de seu estilo de vida ser descoberto, afinal ele precisava do emprego que tinha.

Então foi tirado de um de seus devaneios por vozes e gritos altos, olhou para onde a turma de Todoroki praticava e viu uma briga. Um aglomerado de pessoas ao redor abria espaço para os delinquentes se agarrarem.

Izuku odiava como essas crianças eram tão infantis, suspirou e cogitou ir embora, até que viu uma cena.

Todoroki levou socos no estomago que o fizeram engasgar, logo em seguida um forte em seu rosto, o garoto segurou seus dois braços fortes, chegando a deixar a marca de seus dedos, depois o jogando no gramado do campo. Suas pernas tremiam junto de seu corpo, seu rosto ruborizava e ele arfava sem reação, então correu para fora da multidão em direção ao vestiário masculino. As outras pessoas seguraram o outro garoto que o agrediu por motivos desconhecidos, murmuraram julgamentos sem entender o que se passava.

Já de longe, Izuku abria um sorriso de excitação que a muito tempo não sentia, pois conhecia bem aquela maravilhosa situação em que o bicolor se encontrava.

Todoroki chorava e tinha espasmos no chão do vestiário, se odiava por se sentir daquela forma, era anormal o jeito que seu corpo pedia por mais, como se excitava com a dor, como seu corpo estremecia à ardências que qualquer um sofreria. Queria não ser assim. Evitava ao máximo se machucar e sentir dor, por isso quando acontecia suas reações eram sempre muito intensas.

Ouviu alguém adentrar o vestiário.

- Todoroki? - Era a voz de seu professor, mas estava diferente, mais grave, penetrante. Shoto pensou em se esconder mas Izuku já o encarava.

- Você está mais calmo? - Perguntou o mais velho. Todoroki não poderia responder que sim, suas pernas ainda tremiam e ele tinha uma meia ereção que escondia entre elas. A única coisa que fez foi olhar naqueles olhos.

Izuku via aquela criatura como uma presa frágil, recém descoberta e ferida, tudo que ele precisava era ser cuidadoso e direto. Fitou aqueles olhos marejados de súplica.

- Eu sei o que você está sentindo. - Falou sem hesitar, como alguém realmente preocupado.

- Eu conheço pessoas na sua mesma condição. - Disse se abaixando para mais perto de Shoto que estava assustado. Como seu professor percebera? Estava zombando de si?

- Como assim? - Perguntou incrédulo.

- Você gosta da dor certo? Gosta de senti-la. - Disse sério sem medir suas palavras, informal e direto.

Todoroki permaneceu mudo.

- Se não quiser afirmar tudo bem, venha conversar comigo na sala após a aula quando raciocinar melhor, posso te ajudar. - Disse se levantando, caminhando em direção a entrada.

Todoroki levou sua mão aos seus cabelos os segurando e respirou fundo. O que ele queria dizer? Ajudar, como? Ele tiraria seu desejo? O faria conseguir conviver com ele em alguma espécie de masoquistas anônimos?

Quando o sinal tocou ele foi para a aula, apesar de ter uma licença da enfermaria para faltar devido aos machucados.

Podia sentir os olhares estranhos o olhando disfarçadamente, um único olhar era diferente, os verdes que os observavam hora ou outra de frente eram diferentes, transmitiam segurança e um certo desejo, talvez esses olhos e a curiosidade foi o que o fez permanecer sentado em sua carteira quando a aula finalmente acabou, esperando que todos saíssem.

- Você disse que queria conversar, que de certo modo me ajudaria. - Foi direto ao ponto, pois caso o outro estivesse zombando de si, a brincadeira acabaria rápido.

- E eu vou, mas queria lhe levar a um lugar primeiro. - Izuku não sabia nada do bicolor, nem o outro de si, naquele momento tinha uma oportunidade em mãos, e não conseguiria nada sem antes adquirir sua confiança, afinal, ele não se mostrava ser qualquer putinha interessada em aventuras.

Profissionalismo era essencial.

Shoto estava louco? Ir com um estranho que por mais que seja seu professor, era um completo estranho, para um lugar totalmente desconhecido, em que não sabia nem o nome. Sim ele deveria estar louco, pois agora estava sentado no banco de trás do carro do esverdeado enquanto o mesmo dirigia.

Todoroki acreditava que havia ido pela mais pura curiosidade, o que não deixava de ser verdade, mas não era seu único motivo. Ele sentiu algo em Izuku, na verdade sempre sentiu, sentia que o cercava com o olhar, um olhar quase indecifrável, desconfiado e curioso, vez ou outra arrepiava-se com a intensidade daquele olhar. E se o mesmo conseguisse lhe ajudar, ele estaria muito grato.

Apesar de ser uma pessoa naturalmente indiferente e fria, Todoroki está tão perto, o tempo inteiro, de explodir de estresse. O masoquismo não lhe permitia viver normalmente, e suas dúvidas persistentes sobre sua condição, já que sua família não lhe permitia acesso a internet e redes sociais.

Percebeu que o outro o observava pelo espelho interno do motorista.

- Estamos quase chegando. - Foram cerca de uma hora no carro, até chegarem em um lugar aparentemente deserto, com um grande jardim de plantas altas, passaram por um grande portão de grades que tinham o aspecto enferrujado.

O que é esse lugar? Pensou o bicolor. E por quê ele estava o trazendo ali?

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