Plataforma cheia, pessoas andando apressadas com pastas nas mãos para todos os lados. Em sua maioria, pessoas brancas. O que não é difícil de explicar, já que os pretos que eu conheço nunca conseguiram um trabalho de verdade. Eu me sinto extremamente favorecida por nessa idade ter algo para colocar no meu currículo. Estou neste momento correndo, segurando a bolsa, com meu caderno e estojo dentro, em direção ao ônibus. O mesmo ônibus amarelo e de cor azul no meio, com desenhos, riscos e poesias no fundo das cadeiras duras, que um dia foram novas e cinzas, desde muitos anos. Infelizmente as mesmas pessoas me olhando com escárnio, ódio e alguns sentimentos que sinceramente eu não sei explicar, mas consigo sentir pelo jeito que me olham, dói, mas não me intimida. Diariamente faço esse percurso para chegar até a CELET, Centro de Educação e Letramento, essa é a...
- Desculpa - Grito para um cara que eu esbarrei no meio da estação, agora. Agradeço mentalmente aos céus por não ter derrubado nada, nem meu e nem da outra pessoa, que também aparentou estar com pressa, já que não me xingou como muitos já fizeram.
Continuando, a CELET é a escola na qual eu estudo, por misericórdia, já que as bolsas estudantis na escola são limitadas, sim, é um colégio particular. A sua estrutura é de um colégio grande. Não sei as suas dimensões exatamente, mas contém duas quadras de esportes, um ginásio coberto e inúmeros de laboratórios de ciência e salões de arte. O ensino é altamente disputado por quem mora na cidade e nos arredores, sempre sai na TV por alguém que estudou lá ter alcançado um novo título ou ter entrado em uma faculdade de renome, confesso que sempre foi o meu sonho aparecer num programa por ter conseguido a bolsa e tirado a minha família da miséria. Eu moro muito longe, como é de se imaginar. O colégio fica na parte Norte da cidade e eu moro no sul, onde fica dividido entre casas, favelas e onde vivo, os barraquinhos subindo o morro das Pedras. No Norte é onde fica basicamente tudo, toda a cidade grande. Lojas, livrarias, cafés, shoppings (Inclusive nunca fui) Mas para a minha sorte, cheio de gente legal e prestativa. Adianto meus passos, quase saltos largos, para alcançar o ônibus que ameaça ir embora, 1, 2, 3, 4, 5, 6... 7!
Consegui, me jogo em frente a porta fechada do ônibus já em movimento, distribuindo socos repetidas vezes, até que ela se abre. As pessoas reclamam e gritam para que o ônibus siga adiante e em resposta subo ainda correndo.
- Caramba, Inara! Quer quebrar meu ônibus menina?! - Suspiro aliviada, mas ainda em pura adrenalina. Olho ao redor e o ambiente continua o mesmo, beirando a insalubridade. Pessoas demais, juntas umas das outras para chegar ao seu destino. O cheiro é uma mistura de muitos perfumes e comidas diferentes, provavelmente de quem não teve tempo de comer em casa, mas tem dinheiro para comprar em algum lugar e comer no caminho. Não é o meu caso, devo dizer.
- Foi mal Seu Berto, desculpa mesmo. A patroa amanheceu doente hoje. - Sentei no chão do ônibus ao seu lado, aquele era o meu jeito de dizer que hoje não haveria grana da minha parte... Isso raramente acontece, mas estamos no final doo mês e eu tive que usar as últimas moedas para comprar o pão, semana passada.
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Nada Impedirá Inara
General FictionElinara Silva é uma garota pobre com sonhos, objetivos e que almeja consquista-los. Embora passe por muitas dificuldades todos os dias, não pensa em desistir. Gosta de ler e escrever, é movida pela esperança de poder dar uma educação melhor para tod...