Califórnia, 2017.
Dipper
Já pararam para pensar como o mundo é pequeno quando percebemos que tudo, em questão de milésimos depois de acontecer, já é passado mesmo que no momento não pareça? Sempre tentando lembrar, em uma tentativa clichê, que temos uma utilidade, obrigados a continuar dando cada passo em uma estrada contínua, qual a única certeza que temos é o último passo que vamos dar nela é a morte.
Todos os dias levantamos e começamos o dia, sem saber exatamente como vai ser. Temos planos, expectativas, ideais do que se deve colocar em prática, alguma coisa aqui e ali saem como planejado, outras aparecerem como uma bomba de problemas explodindo de maneira repentina, e você tem que lidar, querendo ou não.
O problema é que nunca sabemos como essa bomba vai explodir, o quanto da sua estrada vai ser estilhaçada, e se você será capaz de mover os pedregulhos e os restos para continuar avançando.
Hoje aqui estou eu, ajoelhado no asfalto, com o corpo tremendo de choque e coberto de sangue. Diversas pessoas aleatórias filmando a tragédia em nossa frente, postando em alguma rede social, dando falsos textos com finais variados de "vão em paz" ou "olha o que aconteceu", pessoas que observam com curiosidade, mas ninguém está disposto a ajudar.
Minha irmã gêmea, também ajoelhada, diferente de mim chorava tudo que podia, com as mãos sobre os dois cadáveres presos nos destroços do que um dia foi um carro, tentando os recuperar a todo custo.
Foi naquele momento que tive certeza que ela era mais forte do que eu, ela conseguia se mover, tentava fazer o que conseguia mesmo se fosse irracional, mas seu irmão idiota estava ali, tremendo de forma incapaz, olhando e pensando coisas estúpidas para a situação, segurando forte com a mão esquerda o corte no braço direito que insistia em sangrar, com o coração batendo mais forte do que já bateu um dia.
~°~
30 minutos antes.
Mabel
Califórnia, um lugar comum, com pessoas comuns. Por incrível que pareça o comum me agrada, porque é graças a ele que me sinto como uma adolescente normal, andando pelas ruas com o irmão, conversando tanto sobre o dia a dia como coisas que podem acontecer no amanhã.
Enquanto andava em frente a uma vitrine, focando mais no meu reflexo do que nos produtos expostos, repeti mentalmente isso para mim mesma: Uma adolescente normal, no Shopping com o irmão entediado enfiado em um livro que tinha acabado de comprar sobre alguma coisa de ciências, enquanto segurava duas sacolas para mim na mão livre. E que, a coisa mais perigosa ali, era o quanto queriam cobrar por uma blusinha que não vale metade do preço na etiqueta.
Sim, sorri ainda mais afirmando isso, porque por mais que essa mesma rotina às vezes proporcione uma grande vontade de pular de um prédio, o que está no meu alcance eu sempre vou tentar fazer, quero que a última coisa que eu me lembre seja de não me arrepender, e isso tem funcionado, já que os últimos anos da escola estão sendo incríveis.
Que se dane as pessoas, eu finalmente estou feliz sendo eu mesma, então eu amo minha rotina!
Dipper, qual seu cabelo marrom cobria boa parte dos seus olhos, movendo-se toda vez que virava a cabeça para mim para falar sobre alguma curiosidade do livro, dessa vez franziu a testa provavelmente por causa do sorriso mais brilhante que eu conseguia fazer. Ele não reclamava em me acompanhar, mesmo obviamente aquele tipo de passeio estando longe de ser o seu mais divertido, como ficar sentado em um puff esperando eu me decidir qual cor da maquiagem combina mais com meu tom de pele. No entanto, ele muitas vezes sorria e me ajudava com sua opinião, seja ela muito duvidosa ou em um sorriso sem graça, dizendo que aquilo era extravagante demais e perguntando se eu queria parecer com um pavão ou uma menina de dezessete anos.
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Reverse Falls - A quebra entre mundos
FanfictionEm uma volta dolorosa para Gravity Falls faz com que Mabel e Dipper se sintam perdidos após a morte de seus pais, e o que eram dias divertidos de verão passaram a se tornar uma rotina diferente, seja pela busca de algo novo ou por uma adaptação difí...