Reverse Falls - A quebra entre mundos

Reencontro

Reverse Falls, lado Dia.

Dipper

Nas pausas que a dor de cabeça repentina não vinha, eu tentava aperfeiçoar aquele poder.

Não é como se tivesse muitas outras coisas para fazer, mas era tentador ter a capacidade de materializar qualquer coisa que eu quisesse, principalmente de quando estava na outra dimensão.

Sentado em uma linha de trem, sobre uma estrutura de aço suspensa no ar, ligando duas partes da montanha, eu olhava a cidade e tinha, nas tábuas de madeira de cada lado, duas pilhas de livros. Na direita dos que eu ainda iria ler, na esquerda dos lidos.

Um pensamento insistia toda vez que eu materializava algo e o objeto caía em queda livre em minha frente, e eu fazia ele retornar ao lugar de onde tirei antes que acertasse alguma coisa. 

Tinha realmente sentido agora essa sede de conhecimento, toda aquela curiosidade em conhecer o mundo em minha volta?

Agora eu tinha o mundo em mãos, e de alguma forma, isso me parecia perca de tempo.

Will estava sentado na pilha da direita, sugerindo objetos dos mais variados quando eu não conseguia pensar em algo. A pérola continha uma pequena parte de seu poder, diferente de Bill, ele só poderia fornecer, e não o utilizar para fins próprios, então me ter como compatível fez com que conseguisse a criar.

— Não se sente usado, como um objeto, como qualquer um desses? — perguntei, mas sem olhar para ele. — Ter um poder tão grande, que só pode ser usado por terceiros, como uma ferramenta.

— Você foi o primeiro a usá-lo — respondeu, me olhando. — Me vê como uma?

— Eu... não sei. — Coloquei a mão direita no rosto, fechando os olhos. — Pode ser pela contaminação da dimensão, mas algo me diz que deveria. — Afastei a mão, olhando para ela. — Já vi muitos idiotas ficarem cegos por poder, e não pretendo me tornar um deles.

— Talvez você devesse ver como... 

— Não. — O interrompi. Fechei um pouco os dedos, a chama em amarelo surgiu começando do centro da palma, espalhando entre meus dedos. — Eu vim para Reverse Falls com o sentimento de fugir deles, e agora eu posso escolher estar longe deles. Desejei tanto ser reconhecido, aguentava as coisas em silêncio pelo bem de outra pessoa, agora... eu estou livre. — Olhei de canto para ele, que me olhava com um ar de preocupação, suspirei. — No entanto, agora quem está preso é você. — Olhei de volta para a chama, fechei a mão, a fazendo desaparecer. — Minha liberdade custou a liberdade de outro ser.

— Sendo sincero, eu fico feliz disso. — Me surpreendi. — Desde essa forma, eu nunca tive liberdade, mas eu me sinto mais livre agora do que antes. — Se levantou, flutuando um pouco acima do livro. — E não estou mais sozinho.

Acabei sorrindo, me levantei.

— Se você diz. — Virei de costas para cidade, assim como ela virou para mim quando eu mais precisava. — É tão irônico se sentir mais livre estando preso, entretanto aceito sua reposta.

Me deixei cair para trás, Will gritou de surpresa, rapidamente pulando do livro para o precipício.

Olhei para a cidade de cabeça para baixo, e sorri.

Quando fiz a chama retornar na minha mão para nos fazer reaparecer de volta, Reverse Falls tremeu, o mundo inteiro vibrou, e enquanto caíamos, vimos chamas azuis surgirem em volta das estruturas da cidade, brotando do chão e se elevando rapidamente.

— A vibração veio do templo! — Will gritou.

Fiz as chamas aparecerem nas duas mãos, as batendo juntas, nos fazendo desaparecer.

~°~

Reaparecemos em um dos cantos do templo, cerrei os punhos assim que os vi.

Pelo jeito, o Tivô Ford realmente tinha ficado mais burro.

— Bill — falei, com desgosto. — Por que ele está com uma forma humana?

— Ele... fechou um contrato. — Will disse, em um tom desesperado. — E, para ter essa forma, um chamado Laço de Vida. — Flutuou rapidamente até uma escritura na parede. — Consegue ler? 

Os símbolos por um momento se embaralharam, e então se transformaram no nosso idioma.

— O contrato funciona como um compartilhamento de energia, e pode ser colocado cláusulas por ambas as partes. Laço de Vida é um tipo contrato específico que desenvolvemos como um Plano C, ele conecta todo nosso ser com o contratante, a imortalidade pode ser infligida, se o contratante morrer, nós morremos.

— E por que você não mudou?

Nos entreolhamos por um momento.

— Nós não temos um contrato.

— Mas você me deu uma pérola de poder.

— Você foi compatível para vir a Reverse Falls, então consegui compartilhar energia por ela, não foi necessário um contrato.

— Eu pensei que tínhamos um. — Levei a mão no rosto, ainda sem acreditar. O chão vibrou novamente, pequenas máquinas em formato de cubo começaram a fazer linhas de energia no portal. — Eles estão abrindo o portal? 

— Eu... não sei o que realmente vai acontecer quando abrirem. — Will disse, flutuando para trás de mim, colocando as mãos no meu ombro. — Reverse Falls vai ser puxada para o portal, talvez eu vá junto, talvez eu só me misture com ela, talvez eu só desapareça, talvez...

— Então, faça um contrato comigo! — gritei, com raiva. — Faça um contrato de Laço de Vida também, eu sou humano, se eu passar você também vai, ou morremos juntos. — Me virei para ele. — Eu disse que não iria te deixar sozinho, certo? Isso também incluí as piores hipóteses. — Segurei sua mão, o puxando para o portal. — Eu... não vou te deixar desaparecer, não agora.

Quando pulei para o portal e o olhei, lágrimas escorriam do seu olho.

— Will, faça um contrato de Laço de Vida comigo. — Estendi a mão, sorrindo. — Se for para desaparecer, que desapareçamos juntos.

Ele segurou minha mão, a água em volta de nós brilhou em azul, e o símbolo de pinheiro embaixo de nós, agora em amarelo.

Uma explosão de luz, fechei os olhos. 

Quando abri, estava agachado no chão, a primeira coisa que senti foi uma sensação forte percorrer por todo meu corpo, extremamente mais forte do que quando usava a pérola.

Me levantei, colocando a mão direita sobre ela, o poder não se limitava mais a uma parcela, eu tinha ele inteiro em mãos.

Fiz ela se estilhaçar, como um novo recomeço.

Olhei para Mabel, e sorri.

Pulei a água, Will me acompanhou nos passos calmos, coloquei a mão no lugar da pérola novamente, fazendo outra surgir em meio as chamas.

Ela estava em choque, sem reação, e de frente a ela, eu tinha certeza, não precisaria fugir mais.

— Mabel Pines, é um prazer revê-la. — Sorri, em uma reverência simpática, peguei sua mão direita, beijando-a com a mesma delicadeza qual a segurei. — Parece que agora também somos reversos.

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