Aparência humana não te faz um humano

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Gravity Falls, 9° dia.

Mabel

Eu gostava da minha rotina, ela era o suficiente para mim.

Não queria mudá-la, pretendia a manter mesmo depois do Ensino Médio, para a Faculdade, pelo resto da vida. Abraçaria as mudanças, mas tentaria sempre as adaptar para continuar seguindo esse caminho, porquê eu tinha pessoas em meu lado que amava, e eu respeitava o passado como sendo passageiro, lições para saber o que eu queria de verdade, e depois de descobrir o que me fazia feliz, eu tinha em mãos minhas respostas para conseguir viver da forma que eu desejasse. 

Bem, essas mudanças não deveriam ser tão drásticas. Da morte de pessoas que eram meu porto seguro à, agora, a existência de um ser dimensional preso ao meu lado. 

Bill tinha mudado sua aparência para humano após o contrato. Usava uma camisa social branca com a gola esticada para cima, e por cima dela, um colete com cauda longa em amarelo, com a calça social preta. Usava também um tapa olho preto, como sua gravata borboleta e a pequena cartola que flutuava sobre sua cabeça, mas a bengala preta que carregava era o centro das atenções, já que insistia ficar brincando com ela se qualquer coisa que tivesse que esperar demorasse mais de trinta segundos, se não menos.

Entretanto, ele mostrava para qualquer um que uma aparência humana não te faz um humano, suas atitudes deixavam todos em sua volta malucos. Em menos de 24 horas, três crianças na loja já tinham chorado, Tivô Stan já tinha quebrado algumas coisas tentando o acertar, e eu já tinha perdido as contas de quantas vezes o Tivô Ford respirou fundo para pegar a arma que carregava, e ele eu tinha certeza que não erraria.

Estávamos voltando para a cabana, em uma área mais profunda da floresta. Querendo ou não, Bill tinha que ser suportado, já que estava sendo de grande ajuda para conseguir os itens necessários para o projeto. 

Sinceramente, era como ter um guarda-costas durão, só que magrelo.

— Chega a ser irônico como nada muda nesse lugar, se tivessem me deixado conquistá-lo, ele estaria maravilhoso — disse, entediado, caminhando atrás de mim.

— Sim, coberto de chamas, com seres malignos por todos os lugares, atormentando todos pela eternidade.

— E não seria perfeito? — Sorriu, jogando a bengala no ar, que passou sobre o galho de uma árvore, depois a pegando de volta. — Se gosta da ideia, podemos trabalhar mais nela.

— Talvez eu pegue essa bengala emprestada por um instante e faça algo útil com ela. — Semicerrei os olhos, vendo-o jogar novamente no ar. Era perfeita para bater em alguém. — Afinal, para que essa bengala?

— Para ajudar a desviar desses galhos, que batem em você e depois rebatem em mim — respondeu, desinteressado, jogando a bengala ainda mais alto. — Eu já teria saído picotando tudo, vamos, me dê uma ordem, e eu faço uma estrada até com pedrinhas coloridas para você. Ou se fazer de animal do mato é um charme seu?

Afastei o galho com bem mais força do que realmente precisava, na hora de ricochetear nele, o parou com a mão direita e o quebrou em pedaços, enquanto com a esquerda, segurou a bengala de volta.

— Perdeu a noção de perigo, garota?

Comecei a rir, dessa vez me abaixando do próximo no caminho.

— O que? — falei, caçoando. — Um ser tão poderoso não consegue se abaixar de um simples galho?

Suspirou profundamente, fez a bengala desaparecer em uma chama azul.

— Não aguento mais. — Me surpreendi quando ele veio até mim e passou o braço em minha cintura.

Antes que eu pudesse dizer algo sobre isso, fiquei sem reação quando ele se abaixou um pouco e pegou impulso para um salto. Atravessando as árvores rapidamente, foi tão repentino que nem meu grito saiu na hora, e ainda bem, porquê eu poderia facilmente engolir algum inseto ou parte de uma das folhas que se soltaram com o vento.

Reverse Falls - A quebra entre mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora