Todo homem sofre quando atinge a puberdade, sinceramente, não tinha uma forma mais fácil e objetiva de se chegar ao corpo adulto? Toda essa coisa de crescer pelos, e ter ereções espontâneas é uma merda.
Sei que as mulheres também sofrem, segundo Ayla mais do que nós, uma vez ela me disse que seria melhor Deus mandar um bilhete vermelho dizendo "parabéns, você não está grávida".
Ayla Robberts é minha desertora durante o ensino médio, nós estamos na mesma sala durante os dois primeiros anos. Ela não é das meninas mais lindas, tem o cabelo curto e escuro, a boca rosada, pequena e encurralada entre as bochechas carnudas, e é um pouco acima do peso ideal para sua altura, ela é a única que fala comigo, dentre todas as garotas. Agora nosso último ano juntos está começando, e não sei bem o que pensar, não a vejo faz dois meses.É o primeiro dia de aula, e claro, estou atrasado apesar de ter acordado cedo, tenho a mania de voltar a dormir depois que o despertador toca, mas na maioria das vezes, durmo em cima do celular. Desço as escadas correndo, logo ao chegar na cozinha vejo minha mãe apoiada no balcão, conversando com Mary, sinto o cheiro sensual do café que ela tinha preparado, e sou preenchido pelo auto desprezo.
Baixei a cabeça desconsolado e corri para pegar a bicicleta, afinal meu pai já havia saído. Droga!
Na escola nunca me dera bem nas matérias exatas, em especial as matérias de humanas, que me dão mais sono do que o cheiro do meu travesseiro.
Cheguei na frente da escola dois minutos antes de tocar o sinal, como consegui essa proeza? Nem eu sei.
Meus pulmões estavam queimando, quase não permitiam a passagem do ar, podia sentir o fluxo de sangue intenso em minhas pernas, estava prestes a ter um infarto do miocárdio catastrófico. Corri até minha sala e lá estava ela, a forma humana mais pré-histórica do que os dinossauros, a senhora Martinez, ou como ela prefere Clary Martinez. Lecionando sua maravilhosa aula sobre o nazismo, muito interessante. Já havia pesquisado antes, junto com Jacob, ele me dissera que às formas de matar os judeus usadas eram fantásticas, e que gostaria de entrar numa câmara de gás, Jacob era meio macabro às vezes.
Entrei na sala de cabeça baixa reunindo forças, olhei para o rosto cadavérico a minha frente:
- Bom dia senhora Martinez, peço que me deixe desfrutar de sua aula extremamente importante para acrescentar aos meus conhecimentos. - ela gostava de eloquência.
Neste momento consegui ver pelo canto do olho alguém se abaixar, tive a certeza que Ayla estava rindo.
- Apenas se sente Sr. Buttowski, e não atrapalhe. - ela apontou para sala, e voltou a falar sobre Hitler.
Respirei aliviado, apenas acenei com a cabeça, caminhei até o lugar vazio ao lado de Ayla, coloquei a mochila em cima da mesa e me sentei, quando a olhei ela estava rindo, corada como um morango. O sinal tocou, e todos se colocaram de pé. A diretora Petra Magots acabara de entrar na sala, ela visitava cada sala, dando um breve aconselhamento, e passava as regras básicas da escola. Depois disso tivemos o restante da aula de história, e duas aulas de matemática com o professor Tom Ray.
Duas horas, o sinal tocou, segui o fluxo de estudantes no corredor principal com Ayla ao meu lado. Chegamos ao pátio principal, que era guardado por um salgueiro enorme, durante a infância eu me escondi entre os galhos dele. Ayla se sentou com as costas no tronco do salgueiro, e eu me sentei ao seu lado.
- O que foi aquilo? - ela começou a falar enquanto abria uma embalagem improvisada de papel alumínio.
- O que? - puxei um punhado de terra e o soltei.
- Meu Deus você quer fazer a velha me expulsar da aula. - e riu, finalmente consegui ouvir o som que me fizera falta durante as férias, era gentil, e ainda assim conseguia ser escandaloso.
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30 segundos a mais
RomansaNossas vidas são moldadas tão bruscamente, que mau temos tempo de entender o que está acontecendo. E quando parece que finalmente fará sentido, tudo muda. Entrar de cabeça em decisões alheias, viver realidades não necessárias. Entender todos mas não...