Slow And Steady

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"Hey olhos bonitos" 

Senti uma dor imensa de cabeça enquanto tentava achar a dona da voz. Estava começando a ficar cansada dessa sensação de esperança que ela colocava em mim toda vez que aparecia, mas eu não poderia negar que eu gostava. 

-Porque você ainda aparece para mim Camz? - Estendi minha mão para que ela a segurasse e assim eu tivesse um apoio maior para me levantar do chão. 

-Porque você continua fazendo a mesma coisa todos os dias Lo, se lembra? Você se recusa a me deixar partir. 

Ela estava certa. Eu fazia o provável e o improvável para que ela pudesse me ver, e na noite passada eu me envolvi em uma briga. O cara tinha o dobro do meu tamanho, e ele me batia tão forte que cheguei a achar que meus ossos poderiam se quebrar a qualquer momento. Mas eu precisava sentir a dor, precisava para que quando eu chegasse em casa e fechasse a porra dos meus olhos ela finalmente aparecesse para mim novamente. 

-Você está bastante machucada, eu queria te bater também, mas acho que você já sentiu dor o suficiente. Você tem que parar com isso Lauren, uma hora ou outra eu vou parar de aparecer para você e não vai adiantar nada você foder a sua cara bonita. 

Finalmente ela me envolveu em um abraço apertado e tudo pareceu ter sentido novamente, era como se ela nunca tivesse saído dos meus braços. Como se essa merda toda não estivesse acontecendo. E como eu queria que fosse verdade...

-Você precisa acordar, tudo bem? E me prometa que não irá fazer mais nenhuma merda, porque as garotas precisam de você tanto quanto eu precisava - Eu poderia estar louca, mas eu juro que vi as lágrimas se formando nos olhos dela, ela nunca tinha chorado, não desde quando começou a aparecer. Aquilo estava doendo tanto, acreditar que eu era o motivo das lágrimas dela, eu deveria ser menos idiota, menos burra, menos inútil.

-Mas amor, eu simplesmente não posso... eu necessito de você, mesmo que essa hoje seja a única alternativa - Meus olhos ardiam e minha visão antes boa, agora estava totalmente embaçada, e então eu podia sentir as lágrimas tomando conta do meu rosto. 

-Você tem que viver Lauren, não é como se eu fosse o motivo para você parar de sorrir, eu sei que você consegue. Você é tão forte quanto aquela garota de 4 anos atrás, só que desta vez você precisa ser um pouco mais forte do que ela, tudo bem? Por mim. 

Eu me sentia sufocada, eu odiava aquela sensação e ainda mais pelo motivo que ela representava. Eu estava prestes a acordar, mas eu não poderia, eu não queria. Eu só precisava dela aqui comigo, eu só precisava do meu amor nos meus braços novamente, eu só queria ela e mais nada. EU TROCARIA DE LUGAR COM ELA SE EU PUDESSE!

Mas eu não posso.

-DIGA QUE ME AMA! - Eu estava desesperada, eu precisava, eu necessitava daquelas palavras. 

-Eu te amo Lauren, eu nunca deixei de te amar e eu nunca vou. 

-Eu voltarei amanhã! - Respirei fundo levando a mão a garganta tentando reprimir a dor. 

-Eu não irei aparecer novamente para você amanhã, eu te amo olhos bonitos... - O choque dos seus lábios com os meus fizeram com que eu fechasse os meus olhos por reflexo e tentasse aproveitar o momento.

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-Merda! - Sussurrei olhando em volta. Eu tinha acordado. Ela fez de novo, ela me beijou. 

Olhei em volta me repreendendo pela noite passada, as coisas estavam quebradas e jogadas pelo chão. Vi algumas roupas de Camila em cima dos móveis, garrafas de whisky, copos quebrados. Eu tive outro surto, mas esse não parecia um surto comum que eu ligava para as meninas e começava a chorar, e ai elas tentavam me acalmar e vinham correndo para cá. Não. 

Eu tinha meus pulsos completamente cortados, havia sangue onde eu estava a alguns minutos atrás. Eu estava segurando um pedaço de vidro, e estava vestido uma blusa que eu presenteei a ela. 

Sai do banho sentindo minha pele arder, era como se eu tivesse jogado álcool nas feridas. Como se toda a minha dor agora estivesse concentrada dentro delas, nos meus braços e o resto no meu coração. Eu ainda me sentia sufocada como antes, mas dessa vez era diferente. Eu não acordei com nenhum propósito, era como se eu somente estivesse ali porque estava sendo obrigada, porque não tinha outra opção, e mesmo se tivesse eu acho que não seria capaz de fazê-la. 

Eu havia entrado em um estado tão crítico que minhas pernas mal me obedeciam agora, não conseguia dar um passo que sentia uma fraqueza e uma sensação de que poderia cair a qualquer momento. O QUE DIABOS EU FIZ COMIGO MESMA? Porque essa merda toda tinha que acontecer, porque?

A dor veio tão rápido quanto ela se foi. 

Eram tantos comprimidos jogados no balcão, verdes, azuis, coloridos. Grandes, pequenos. Haviam mais ou menos uns quatorze, quinze... Eu só precisava de alguns para ficar perto da morte o suficiente para conseguir vê-la de novo. Então essa foi minha ideia dessa vez, já que a da noite passada foi tão pesada que eu ainda tinha hematomas e dores pelo corpo todo. 

Tentei engolir dois de cada vez. Chegou um momento em que minha garganta estava tentando negar os remédios e começou a ficar mais difícil ainda para colocá-los dentro de mim, eu sentia que estava machucando minha garganta, mas pouco estava me importando, eu faria qualquer coisa para poder conversar novamente com ela. 

E foi assim, as coisas foram piorando conforme os dias passavam, eu tinha tantas marcas, arranhões, feridas. Mas eu não conseguia parar, em momento algum eu pensei no que ela me dizia. Mas o pior de tudo foi que desde quando eu tomei os comprimidos eu nunca mais a vi novamente, ela não aparecia mais. E a loucura foi tomando conta de mim, até que eu simplesmente não aguentei mais e decidi que essa era a hora certa de fazer o que eu já deveria ter feito a muito tempo. 

Então foi tudo o que eu fiz, peguei uma caneta, papel, as chaves do carro e comecei a dirigir pro primeiro lugar que veio em minha mente. 

Parei o carro, e olhei o horizonte a minha frente. Tomei em mãos o papel e a caneta, comecei a pensar nas primeiras palavras que poderia colocar e os sentimentos começaram a surgir em meio a cada frase. 

"Oi Clara, eu espero que entenda o fato de que eu ainda não sinto-me bem em chama-la de mãe. Estou torcendo para que tudo esteja bem ai em casa, com você, o papai, Chris e Taylor. 

Faz dois anos já, não é? Faz dois anos, porém eu simplesmente não consigo esquecer aquele seu olhar, como se eu realmente tivesse feito algo de errado ao fugir com Camila para Paris. 

A vida parece tão injusta aos olhos dos que sempre tentam ser derrotados. Você Clara, sabe mais do que nunca por tudo o que eu passei e tive que passar, ao não ser pelos últimos 2 anos, já que você esteve ausente em todos eles, porque o preconceito sempre prevaleceu quando o assunto era minha felicidade ao lado de quem eu amava. 

As garotas me ajudaram bastante, trouxeram estabilidade para mim e Camila. E eu agradeço de todo o meu coração por tudo o que elas fizeram por mim e Camz. Mas hoje Clara, acho que nem mesmo Ally, Dinah ou Normani fazem ideia de onde eu esteja ou do que estou prestes a fazer, porque vai parecer tão estúpido. Mas eu não aguento mais essa dor no meu peito, é como se alguém estivesse esfaqueando meu coração em milhares de pedaços, e minha garganta estivesse se fechando para que eu parasse de respirar. 

Dói tanto, dói saber que isso tudo pode ter sido culpa minha desde o começo, desde a ideia, até o "sim" dela. Eu queria poder ter a oportunidade de desfazer o meu erro e concertar tudo o que eu quebrei. 

Mas antes Clara, antes de acelerar o meu carro em direção a aquele penhasco, eu quero contar para você desde o começo, desde o primeiro beijo que eu dei em Camila, desde o primeiro "eu te amo", desde a nossa primeira noite... até os seus olhos se fecharem para sempre. "

HappinessOnde histórias criam vida. Descubra agora