Porque não consigo mexer as pernas?

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Já haviam se passado algumas horas, eu continuava sentada ali naquela mesma cadeira. Eu não conseguia sentir meus dedos ou muito menos o meu pulso, minhas mãos estavam amarradas a tanto tempo que eu acho que meu sangue mal conseguia circular ali. Eu só queria estar no hospital agora, tendo notícias da Camila, falando com as minhas amigas; queria um banho bem quente e alguma comida e água, ambos dentro do meu estômago.  

-Oi filhota. - Observei o que ele tinha em mãos ao entrar no quarto com um sorriso grande em seu rosto -Espero que não se importe, porém, eu quebrei o seu celular.  

-O QUE? POR QUE? - Arqueei uma sobrancelha tentando mais uma vez sem sucesso soltar minhas mãos. A dor já estava se tornando insuportável.  

-Eu faço as regras aqui, eu quebro o que eu quiser, eu mato quem bem eu entender e você cale a boca. - Disse ele respirando fundo e andando de um lado para o outro passando a mãos em seus fios de cabelo grisalhos. -Acho que tinha alguém tentando te rastrear, aquela idiota da Dinah ainda é sua amiga? Ela é policial não é? 

Abri minha boca para responder, mas mal tive tempo de falar alguma coisa. Escutamos as sirenes e eu já podia sentir a arma encostada em minha cabeça. Escutamos vozes se aproximando e logo uma voz familiar encheu meus ouvidos. Dinah, ela me encontrou.  

-Não fale nada, eles não podem saber em que lugar nos encontramos. 

-Eu acho que isso eles já fizeram, já nos encontraram, você é idiota? - Outro soco, dessa vez ele acertou em cheio minha boca indo em direção ao meu nariz. O mesmo gosto de sangue se instalando novamente em minha boca.  

-Já disse para ficar calada sua idiota, venha! - Senti seus braços ao redor da minha cintura enquanto o mesmo me conduzia para alguma parte da qual eu não havia visto ainda. Fomos andando em passos lentos, ele entrou em um corredor comigo e no final do mesmo corredor eu podia ver uma porta, que agora estava iluminada por uma luz fraca, que às vezes piscava incansavelmente.  

Permaneci em silêncio, apenas seguindo cada movimento seu. O mesmo puxou de dentro de seu bolso um molho de chaves enquanto suas mãos tremiam, mexeu cada uma delas para o lado afim de achar somente uma. Provavelmente a mesma que abria a porta da qual estávamos parados em frente. Com a minha distração de alguns segundos do meu pai eu pude perceber que ele já havia encontrado a chave e já havia a girado naquele buraco minúsculo.  

Voltei a ser arrastada para fora. Ele tinha uma picape encostada, bem perto de onde estávamos. Será que ele seria burro o suficiente para tentar fugir da polícia com ele? Sim! Ele era burro o suficiente, porque no momento seguinte eu já estava no banco do passageiro e ele no do motorista. O ronco do motor soou em meus ouvidos e logo estávamos em movimento. Ele tomou uma estrada diferente da que havia em frente à casa, ele continuou por trás da mesma. Mas logo depois de alguns segundos eu já conseguia ouvir as sirenes atrás de nós.  

-Isso é inútil. - Sussurrei olhando para o mesmo.  

-Cale a boca garota, eu ainda sou seu pai. - Ele rosnou me olhando por um tempo. 

-Você deixou de ser meu pai no momento em que me machucou.  

-E você vai deixar de ser minha filha no momento em que eu tiver seu sangue em minhas mãos. -Riu baixo, porém o suficiente para se ouvir.  

-Porque caralhos você tem que ser assim? - Senti uma lágrima solitária caminhar em minha bochecha - PORQUE? PORQUE? - Minhas mãos estavam presas em algemas, porém eu ainda conseguia as mexer sem dificuldade alguma. E isso foi bom, porque no momento em que eu senti meu coração se encher de raiva e medo, eu só queria socar algo, eu queria bater nele, e assim eu o fiz.  

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